CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ PUBLICA DOCUMENTO SOBRE QUESTÕES RELATIVAS A ALGUNS
ASPECTOS DA DOUTRINA SOBRE A IGREJA
Cidade do Vaticano, 10 jul (RV) - Uma série de respostas a perguntas para "evitar
interpretações errôneas ou redutivas" daquilo que ensina o Concílio Vaticano II sobre
a natureza da Igreja Católica: foi essa a finalidade do documento publicado esta manhã,
pela Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado "Respostas a questões relativas
a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja". Um documento de importantes conseqüências
ecumênicas, que esclarece, em particular, o aspecto segundo o qual a Igreja de Cristo
"subsiste" naquela atual, guiada pelo papa e pelos bispos.
Para uma ilustração
do documento, a Rádio Vaticano entrevistou o secretário da Congregação para a Doutrina
da Fé, Arcebispo Angelo Amato...
Dom Angelo Amato:- "Diante de interpretações
errôneas ou redutivas da doutrina conciliar, a Congregação para a Doutrina da Fé quer
evocar o significado autêntico da expressão "subsistit in", que se encontra na constituição
dogmática sobre a Igreja _ Lumen gentium. O primeiro quesito pergunta se o
Concílio Ecumênico Vaticano II mudou a precedente doutrina sobre a Igreja. A Congregação
responde afirmando que o Concílio nem quis mudar e, de fato, não mudou tal doutrina,
mas quis somente desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la mais amplamente, sem atenuações
ou distorções."
P. Como deve ser entendida a afirmação segundo a qual a
Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica?
Dom Angelo Amato:-
"É o quesito que recebeu várias interpretações e não todas coerentes com a doutrina
conciliar sobre a Igreja. A resposta da Congregação, citando o Concílio, diz que Cristo
constituiu, na face da Terra, uma única Igreja: "Essa Igreja (...) subsiste na Igreja
Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos bispos, em comunhão com ele." A
subsistência indica a perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos
instituídos por Cristo na Igreja Católica, na qual, concretamente, se encontra a Igreja
de Cristo nesta Terra."
P. Por que o Concílio usa a expressão "subsistit
in" e não simplesmente a forma verbal "é"?
Dom Angelo Amato:- "Alguém
interpretou isso como uma mudança radical da doutrina sobre a Igreja. Na realidade,
a expressão "subsistit in", que reafirma a plena identidade da Igreja de Cristo com
a Igreja Católica, não muda a doutrina sobre a Igreja. Ela expressa, porém, mais claramente,
que fora de sua realidade, não existe um vazio eclesial, mas se encontram "numerosos
elementos de santificação e de verdade", que "na medida em que são dons próprios da
Igreja de Cristo, impelem à unidade católica".
P. Por que o Concílio Ecumênico
Vaticano II atribui o nome de "Igrejas" às Igrejas orientais separadas da plena comunhão
com a Igreja Católica?
Dom Angelo Amato:- "A resposta deriva do
decreto conciliar sobre o ecumenismo, que afirma: "Como essas Igrejas, embora separadas,
têm verdadeiros sacramentos e, sobretudo, por força da sucessão apostólica, o sacerdócio
e a Eucaristia, por meio dos quais permanecem ainda unidas conosco, por estreitíssimos
vínculos", elas merecem o título de "Igrejas particulares ou locais", e são chamadas
Igrejas-irmãs das "Igrejas particulares católicas".
P. Por que os textos
do Concílio e do magistério sucessivo não atribuem o título de "Igreja" às comunidades
cristãs nascidas da Reforma do século XVI?
Dom Angelo
Amato:- "A esse propósito, é preciso dizer que a ferida é ainda muito profunda.
Surgidas após um milênio e meio de tradição católica, essas comunidades não custodiaram
a sucessão apostólica no sacramento da Ordem, privando-se de um elemento constitutivo
essencial do ser Igreja. Por causa da falta do sacerdócio ministerial, essas comunidades
não conservaram a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico. Por isso,
segundo a doutrina católica, não podem ser chamadas "Igrejas" em sentido próprio.
Concluindo, gostaria de dizer que, eliminando interpretações espúrias sobre a Igreja,
os Responsa (isto é, o gênero literário de respostas a dúvidas) contribuem
para reforçar o diálogo ecumênico que, além da abertura aos interlocutores, deve ainda,
salvaguardar a identidade da fé católica. Somente assim, se poderá alcançar a unidade
de todos os cristãos num "só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 16) e sanar aquela ferida
que, ainda hoje, impede a Igreja Católica de realizar sua universalidade na história."
(RL)