2007-06-23 15:04:26

"Dilatar" o conceito de razão e não relegar o cristianismo no mundo do mito e da emoção: Bento XVI aos professores universitário da Europa


(23/6/2007) “A Europa de hoje precisa de preservar e reassumir a sua autêntica tradição, se quiser permanecer fiel à sua vocação de ser berço de humanismo” – advertiu Bento XVI, recebendo neste sábado, no Vaticano, dois mil professores universitários europeus, que participam num Encontro promovido pela Conselho das Conferências Episcopais da Europa, nos 50 anos do Tratado de Roma que deu origem, em 1957, ao embrião do que é hoje a União Europeia. O Papa fez votos de que as universidades europeias sejam cada vez mais “laboratórios de cultura” onde docentes e alunos, graças a um método interdisciplinar, intensifiquem o diálogo entre razão e fé, com o concurso também de teólogos.

Começando por comentar o tema do Encontro - “Um Novo Humanismo para a Europa. O Papel das Universidades”, Bento XVI observou que “a Europa faz actualmente a experiência de certa instabilidade social e de desconfiança em relação aos valores tradicionais”. E contudo, “a sua rica história e as suas instituições académicas têm um grande contributo a dar para modelar um futuro de esperança”.


Para uma correcta compreensão dos processos culturais correntes, é central a questão do homem”, que assegura também um sólido ponto de partida para o esforço das universidades de criar uma nova presença e actividade cultural ao serviço de uma Europa mais unida. Promover um novo humanismo, requer, de facto, uma clara compreensão do que esta novidade comporta.
Longe de ser o fruto de um desejo superficial de inovação, a busca de um novo humanismo deve tomar seriamente em consideração o facto de a Europa de hoje estar a fazer a experiência de uma massiva transformação cultural, na qual homens e mulheres têm uma crescente consciência de serem chamados a empenharem-se activamente de modelar a sua própria história.
Historicamente, foi na Europa que se desenvolveu o humanismo, graças a um frutuoso intercâmbio entre as variadas culturas dos seu povos e a fé cristã. A Europa de hoje precisa de preservar e assumir de novo a sua autêntica tradição se quiser permanecer fiel à sua vocação de berço do humanismo.


De entre os aspectos fundamentais ligados a esta questão de fundo, o Papa referiu expressamente três: a crise da modernidade, a compreensão da racionalidade, e o contributo que o cristianismo pode dar ao humanismo do futuro.
Antes de mais, “a necessidade de um estudo compreensivo (isto é, abrangente) da crise da modernidade”, que, no entender do Papa, não tem tanto a ver com a insistência da modernidade na centralidade do homem e do que lhe diz respeito, mas sim com os problemas suscitados em razão de um humanismo que pretende construir um regnum hominis desligado do seu alicerce necessariamente ontológico”:


Uma falsa dicotomia ente teísmo e humanismo autêntico, (dicotomia) levado ao extremo de posicionar um conflito irreconciliável entre lei divina e liberdade humana, conduziu a uma situação em que a humanidade, com todos os seus avanços económicos e técnicos, se sente profundamente ameaçada.


Relativamente ao segundo ponto considerado, Bento XVI chamou a atenção para a necessidade de “alargar a compreensão de racionalidade”.


Uma correcta compreensão dos desafios colocados pela cultura contemporânea, e a formulação de respostas significativas a esses desafios, devem assumir uma abordagem crítica em relação às tentativas – estreitas e em última análise irracionais – de limitar o campo da razão. O conceito de razão precisa de ser alargado em ordem a explorar e abranger aqueles aspectos da realidade que estão para além do que é puramente empírico. O que há-de permitir uma abordagem complementar, mais frutuosa, da relação entre fé e razão


Finalmente, há que investigar a natureza da contribuição que o Cristianismo há-de fornecer ao humanismo do futuro.


O Cristianismo não pode ser relegado para o mundo do mito e da emoção, mas (há-se) ser respeitado na sua pretensão de lançar uma luz sobre a verdade relativa ao homem, para ser capaz de transformar espiritualmente os homens e as mulheres, habilitando-os a concretizarem o seu contributo, na história.
O conhecimento não se pode limitar ao campo puramente intelectual. Inclui também uma renovada capacidade de encarar as coisas livre de preconceitos, deixando-se surpreender pela realidade, cuja verdade pode ser descoberta unindo compreensão e amor.


O Papa concluiu o seu discurso aos professores universitários da Europa exprimindo a esperança de que as Universidades sejam cada vez mais “comunidades empenhadas numa incansável procura da verdade, laboratórios de cultura onde professores e estudantes colaboram na exploração de respostas de especial importância para a sociedade, recorrendo a métodos interdisciplinares e contando com a colaboração de teólogos”. “Estou convencido de que uma mais estreita colaboração e novas formas de amizade associativa entre as diferentes comunidades académicas permitirá às Universidades católicas testemunhar a fecundidade histórica do encontro entre fé e razão”.








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