Moçambique: Bispo de Chimoio alerta para perigo de um novo "apartheid"
(20/6/2007) D. Francisco Silota, Bispo de Chimoio (Moçambique), alertou para o perigo
de um novo "apartheid", desta vez no país lusófono. Falando à Fundação Ajuda à
Igreja que Sofre (AIS), este responsável aponta a presença dos fazendeiros brancos
expulsos do Zimbabué como factor de instabilidade. Depois de terem sido expulsos
pelo regime de Mugabe, estes fazendeiros estão a instalar-se em Moçambique e "fazem
os moçambicanos sentirem-se como estrangeiros na sua própria terra". D. Silota
pede ao governo local que tenha cuidado e procure evitar situações como as do seu
vizinho Zimababué. "Os fazendeiros trazem tecnologia moderna com eles e têm um forte
sentido empreendedor, temos de ter cuidado para que não surjam tensões", aponta. A
diocese de Chimoio faz fronteira com este país e muitos refugiados estão a atravessar
a fronteira. Esta situação cria problemas sociais, muito por força da falta de trabalho.
O bispo moçambicano fala ainda da pobreza que leva as pessoas a ficarem desenraizadas,
perdendo os seus valores tradicionais. Muitos fogem para os centros urbanos,um meio
que acaba por ser "estranho e hostil". Segundo D. Silota, a principal tarefa da
Igreja consiste em implantar o Evangelho na cultura local. "A inculturação é a espinha
dorsal de todos nossos esforços pastorais e sociais", assegura, acrescentando que
Jesus deve ser apresentado às pessoas como "um dos seus". Para isso, a Igreja
deve "traduzir a Boa Nova na língua do povo", mas não só num sentido puramente linguístico,
porque também é preciso integrar a totalidade das formas culturais de expressão enraizadas
na região. "Na África, a fé não é algo isolado, mas compreende a pessoa e a vida
em sua totalidade", assinala. O Bispo está também muito preocupado pelo facto
de 19% da população estar infectada com o HIV/SIDA. "Se a Igreja é o Corpo de Cristo,
a propagação da SIDA significa que o Corpo de Cristo está fisicamente doente", declara.
Por outro lado, a Igreja opõe-se à exigência de muitos políticos de legalizar
o aborto. Na cultura africana, a vida é valiosa e as crianças, um "tesouro", assegura
D. Silota.