DA PEQUENA ASSIS _ A CIDADE DE SÃO FRANCISCO _ PAPA PEDE PAZ PARA TODO O MUNDO
Assis, 17 jun (RV) - Bento XVI visitou Assis, centro-norte da Itália, neste
domingo, com o intuito de comemorar o VIII centenário da conversão de São Francisco.
A visita incluiu todos os lugares relacionados ao santo, que é o símbolo da paz e
do diálogo inter-religioso.
Na mesma cidade onde João Paulo II reuniu líderes
de todas as religiões do mundo, em três distintas ocasiões, para pedir paz, Bento
XVI afirmou que o verdadeiro diálogo inter-religioso nada tem a ver com as tentações
da indiferença à religião.
"É um dever para mim, lançar daqui, um premente
e aflito apelo, para que cessem todos os conflitos armados que enchem de sangue a
terra, e para que em todas as partes, o ódio ceda lugar ao amor; a ofensa, ao perdão,
e a discórdia, à união" _ afirmou o papa.
Diante de dezenas de milhares de
pessoas, entre as quais primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, Bento XVI acrescentou
que todos lamentam por aqueles que "choram, sofrem e morrem devido à guerra e às suas
trágicas conseqüências, em todas as partes do mundo". O pontífice fez tal afirmativa
_ como ele mesmo declarou, a seguir _ pensando, de modo particular, na Terra Santa,
tão amada por São Francisco, no Iraque, no Líbano e em todo o Oriente Médio.
O
Santo Padre disse que, infelizmente, os povos desses países conhecem _ de há muito
_ os horrores dos combates, do terrorismo e da violência cega, e a ilusão de que a
força pode resolver os conflitos, rejeitando, assim, a possibilidade de ouvir as razões
da outra parte e de fazer justiça.
Falando aos milhares de fiéis e peregrinos
reunidos na praça diante da Basílica de São Francisco, cujo teto foi completamente
restaurado depois de ter desabado em conseqüência de um terremoto, em 1997, Bento
XVI frisou que, somente um diálogo responsável e sincero, apoiado generosamente pela
comunidade internacional, poderá colocar fim a tanta dor e devolver vida e dignidade
às pessoas, às instituições e aos povos.
O pontífice fez votos para que se
"multipliquem" aqueles que querem ser "instrumentos de paz".
"Que São Francisco,
homem de paz, interceda junto ao Senhor, para que se multipliquem as pessoas que queiram
se fazer "instrumentos da paz" _ disse o papa _ através de mil pequenos gestos na
vida cotidiana; que aqueles que desempenham cargos de responsabilidade sejam animados
por um amor desmedido pela paz e por um desejo infinito de alcançá-la, escolhendo
meios adequados para concretizá-la."
Na missa, celebrada ao lado da Basílica
Inferior de Assis, o papa lembrou a figura do santo, falou de seus primeiros 25 anos
de vida, durante os quais ele buscou apenas a realização de sonhos da vida terrena,
e sobre sua conversão.
O pontífice ressaltou que Francisco de Assis não buscava
destaque social: "Servir aos leprosos e até beijá-los não era um gesto de filantropia,
mas uma verdadeira experiência religiosa fundada no amor de Deus" _ disse o papa,
destacando ainda, a opção do santo pelos pobres, "nos quais via a face de Cristo".
Com
o passar dos anos, Assis se transformou em símbolo de paz. De fato, em três diversas
ocasiões, João Paulo II convocou a se reunirem nessa cidade, os líderes religiosos,
com o objetivo de pedir a paz no mundo.
A primeira foi em 1986, a segunda,
em 1993 (em plena guerra nos Bálcãs), e a última, em janeiro de 2002, poucos meses
depois do atentado às Torres Gêmeas, do World Trade Center, de Nova York.
"O
espírito de Assis se opõe à violência e ao abuso da religião como pretexto para a
violência" _ ressaltou Bento XVI. "Assis significa que as próprias convicções religiosas
e a fidelidade, principalmente a Cristo, não são expressas com violência e intolerância,
mas no respeito ao outro, no diálogo, na liberdade, na razão e no compromisso pela
paz e pela reconciliação" _ acrescentou.
Bento XVI manifestou apoio ao diálogo
inter-religioso, advertindo, porém, que o "verdadeiro" diálogo entre diferentes crenças
não deve se transformar em "indiferença à religião".
Acompanhado pelo Custódio
do Sagrado Convento, Pe. Vincenzo Colli, o papa se deteve alguns minutos em oração,
diante do túmulo de São Francisco, na basílica. Os restos mortais do santo foram levados
para o local, alguns anos após sua morte, em 1226.
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Após
essa pausa de meditação, Bento XVI se encontrou com o clero local, na Catedral de
São Rufino, ocasião em que salientou a importância de se tomar consciência _ cada
vez mais viva _ da dimensão batismal da santidade, na vida e nas propostas pastorais.
"Os milhões de peregrinos que passam por estas ruas, atraídos pelo carisma de
Francisco _ disse _ devem ser ajudados a perceber o núcleo essencial da vida cristã
e a "tender" para a sua "elevada medida", que é, precisamente, a santidade."
"Não
é suficiente que admirem Francisco: através dele, devem encontrar Cristo, confessá-Lo
e amá-Lo com "fé firme, esperança certa e caridade perfeita". Os cristãos do nosso
tempo devem confrontar-se cada vez mais, hoje em dia, com a tendência a aceitar um
Cristo diminuído, admirado na sua humanidade extraordinária, mas recusado no mistério
profundo de sua divindade."
"A vocês, ministros do Evangelho e do altar, religiosos
e religiosas _ acrescentou _ cabe a tarefa de desenvolver um anúncio da fé cristã,
em condições de responder aos desafios de hoje."
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No
final do dia, um encontro com cerca de 10 mil jovens encerrou a visita. Do lado de
fora da Basílica de Santa Maria dos Anjos, o papa pediu aos jovens que não perdessem
tempo, não cedesse às drogas, não se deixassem seduzir pela vaidade e não seguissem
o atual "culto da imagem".
Bento XVI lembrou que, antes da conversão, São
Francisco de Assis gastava todo o seu dinheiro em diversões e festas com os amigos,
que duravam dias e noites. Além disso, era vaidoso, ambicioso e tinha sede de glória
e aventura.
"De quantos jovens não se poderia dizer a mesma coisa, hoje em
dia? _ questionou o papa, ressaltando que, hoje, é possível encontrar divertimentos
até mesmo fora da própria cidade. As iniciativas de divertimento durante o fim-de-semana
reúnem tantos jovens. Pode-se "girovagar" até mesmo virtualmente _ sublinhou o pontífice
_ navegando na Internet, em busca de contatos e informações de todo tipo. (...) Como
negar a existência de tantos jovens _ e não apenas dos jovens _ tentados a seguir
de perto, a vida do jovem Francisco, antes de sua conversa?" _ perguntou Bento XVI.
Para
o Santo Padre, vivemos num mundo contraditório que, apesar de suas belezas, nos desilude
com sua banalidade, injustiça e violência. "Sem Deus, o mundo está perdido" _ acrescentou.
O papa pediu aos jovens que não receiem imitar São Francisco de Assis e que
se deixem encontrar por Cristo, "em quem há sim, um ser humano fascinante, mas também
um Deus feito homem, o único Salvador". (CM)