A visita de Crisóstomo II é para o Papa um dom do Deus da esperança e da consolação.
"Procurar uma nova e comum linguagem para o anúncio do Evangelho
(16/6/2007) Bento XVI recebeu este sábado na sua biblioteca particular no Vaticano
o Arcebispo de Chipre e chefe da Igreja ortodoxa da ilha, Sua Beatitude Chrysostomos
II. O Arcebispo chegara á Sala do Trono pouco antes das 11 horas acompanhado pelo
Presidente do Conselho Pontificio para a Unidade dos Cristãos, cardeal Walter Kasper,
pelo arquimandrita Inácio Sotiriadis representante da Igreja ortodoxa da Grécia junto
da UE e por um séquito de outras quatro pessoas.
Dirigindo-se a sua Beatitude
o arcebispo Crisóstomo II, Bento XVI, partindo de uma citação de São Paulo aos Romanos,
classificou esta visita como um dom do “Deus da esperança e da consolação”.
Do
dom da perseverança, fazemos nós hoje experiência, porque, não obstante a presença
de seculares divisões, de caminhos divergentes, e apesar da fadiga de cicatrizar dolorosas
feridas, o Senhor não cessou de guiar os nossos passos na via da unidade e da reconciliação.
E isto é para todos nós motivo de consolação, porque o nosso encontro de hoje se insere
num caminho de busca cada vez mais intensa daquela plena comunhão tão desejada por
Cristo: ‘ut omnes unum sint”.
Considerando que “a adesão a este ardente
desejo do Senhor não pode e não deve ser proclamada apenas com palavras e de mera
maneira formal”, o Papa registou com apreço o facto de o arcebispo Crisóstomo II não
ter “vindo de Chipre a Roma simplesmente para um intercâmbio de cortesia ecuménica,
mas sim para reafirmar a firme decisão de perseverar na oração e para que o Senhor
nos indique como chegar à plena comunhão”. De entre os muitos santos da Igreja
de Chipre, Bento XVI evocou especialmente Barnabé, companheiro e colaborador do apóstolo
Paulo, e também Epifania, bispo da actual Famagosta, observando que este último exerceu
o seu ministério episcopal ao longo de 35 anos, num período turbulento para a Igreja
em razão do recrudescimento da heresia ariana. Para combater os erros que reemergiam,
este bispo redigiu um credo que retomava o Símbolo de Niceia mas inovando a linguagem.
“Como bom pastor, Epifânio indica ao rebanho a verdade a acreditar, o caminho a percorrer,
os escolhos a evitar. Um método válido ainda hoje para o anúncio do Evangelho”:
Urge
encontrar uma linguagem nova para proclamar a fé que nos congrega, uma linguagem partilhada,
uma linguagem espiritual capaz de transmitir fielmente as verdade reveladas, ajudando-nos
assim a reconstruir, na verdade e na caridade, a comunhão entre todos os membros do
único Corpo de Cristo. Esta necessidade, que todos advertimos, leva-nos a prosseguir
sem desânimos o diálogo teológico entre a Igreja Católica e a Igreja ortodoxa no seu
conjunto; e orienta -nos a utilizar instrumentos válidos e estáveis, para que não
seja descontínua e ocasional, na vida e missão das nossas Igrejas, a busca da comunhão.
Perante
as dimensões ingentes desta obra, é preciso sem dúvida rezar – observou o Papa – mas
também concretizar todo e qualquer meio humano válido. Como é, precisamente, o caso
desta visita:
Considero a sua visita uma iniciativa mais do que nunca útil
para nos fazer progredir em direcção à unidade querida por Cristo. Sabemos que esta
unidade é dom e fruto do Espírito Santo; mas sabemos também que essa unidade requer,
ao mesmo tempo, um esforço constante, animado por uma vontade certa e por uma esperança
inquebrantável na potência do Senhor. Obrigado, portanto, Beatitude, por ter vindo
visitar-me com os irmãos que o acompanham. Obrigado por esta presença que exprime
concretamente o desejo de procurar em conjunto a plena comunhão. Pela minha parte,
asseguro-lhe que partilho este mesmo desejo, sustentado por uma firme esperança.