Bento XVI canonizou 4 novos Santos, durante a Missa celebrada na Praça de S.Pedro
na Solenidade da Santissima Trindade. A glória de Deus reflecte-se na vida dos Santos
que são obras-primas da sapiência de Deus.
(3/6/2007) Não obstante a chuva persistente que caiu sobre Roma na manhã deste Domingo
,cerca de trinta mil fiéis e numerosas personalidades politicas e religiosas participaram
na Praça de São Pedro na Missa , durante a qual Bento XVI proclamou quatro novos Santos
da Igreja Católica. Nas primeiras filas diante do altar encontravam-se os Presidentes
da Irlanda, de Malta, das Filipinas, da Polónia, o Ministro da Cultura francesa, o
Ministro Belga dos Assuntos europeus e finalmente a esposa do Presidente mexicano
Margarida Zavala. Os novos Santos são : Jorge Preca, da ilha de Malta, o polaco Szymon
Lipnicy, a francesa Maria Eugénia de Jesus Milleret e o holandês André Houben. Religiosos
que viveram em épocas diferentes, mas tendo em comum uma forte procura espiritual. A
começar pela francesa Maria Eugénia Milleret, nascida em 1817, filha das ideias liberais
de Voltaire e da Revolução francesa, mas que a vinte anos de idade, depois da morte
da mãe se converteu ao catolicismo. Tornou-se a fundadora das Religiosas da Assunção,
uma ordem religiosa dedicada á evangelização da sociedade e dos indivíduos e ao mesmo
tempo atenta ás novidades e ás aspirações da época moderna. Esta religiosa foi beatificada
pelo Papa Paulo VI em Roma em Fevereiro de 1975. Foi também intenso o percurso
religioso de Jorge Preca, ordenado sacerdote em La Valleta em 1906 e promotor da Sociedade
da Doutrina Cristã, uma congregação centrada na actividade missionária que no inicio
foi hostilizada pelos superiores da Cúria , mas que depois teve a possibilidade de
expandir-se em todo o mundo. O Padre Preca faleceu em La Valletta em 1962 e imediatamente
foi considerado santo pela sua gente. Foi beatificado por João Paulo II em Maio de
2001 em Malta.. O polaco Szymon Lipnicy nasceu na Polónia meridional e como São
Francisco deixou todas as suas riquezas familiares e um futuro que lhe teria garantido
sucesso e gloria para vestir o saio e dedicar as suas forças aos outros. Homem de
oração e de acção, este franciscano tornou-se também famoso pelas suas pregações. Quando
em Cracóvia alastrou a peste em 1482, foi um dos poucos que não fugiram; ali ficou
a assistir os doentes até que contagiado pela peste, morreu. O seu culto a nível local
foi autorizado já pelo Papa Inocêncio XI em 1685. A causa de canonização foi retomada
em 1948. Entre a Holanda e a Irlanda viveu João André Houben. Fora das suas paróquias
rurais formavam-se longas filas de penitentes que queriam receber os seus conselhos
e indicações espirituais. Adquiriu fama de santidade quando ainda era vivo. Em 1988
João Paulo II proclamou-o Bem-aventurado. Na sua homilia, partindo das leituras
do dia – solenidade da Santíssima Trindade – Bento XVI sublinhou que toda a santidade
é dom de Deus Pai, por Cristo, no Espírito. “É por meio de Cristo que o Espírito
de Deus chega a nós como princípio de vida nova, santa. O Espírito depõe o
amor de Deus no coração dos crentes na forma concreta que tinha no homem Jesus de
Nazaré”.
“O Espírito de verdade revela o desígnio de Deus na multiplicidade
dos elementos do cosmos e fá-lo sobretudo mediante as pessoas humanas, de modo especial
mediante os santos e as santas. Só Jesus Cristo, o Santo e o Justo, é, propriamente,
a imagem do Deus invisível”. “Cada um dos Santos participa da riqueza de Cristo
recebida do Pai e comunicada no tempo oportuno. É sempre a mesma santidade de Jesus,
é sempre Ele, o Santo, que o Espírito plasma nas almas santas, formando
amigos de Jesus e testemunhas da sua santidade”.
Referindo-se depois a
cada um dos canonizados, Bento XVI evocou antes de mais o “amigo de Jesus e testemunha
da santidade que d’Ele vem” que foi Jorge Preca, natural da ilha de Malta. “Foi um
sacerdote todo dedicado à evangelização: com a pregação, com os escritos, com a direcção
espiritual e a administração dos Sacramentos e acima de tudo com o exemplo da sua
vida”.
“A expressão do Evangelho de João Verbum caro factum est
orientou sempre a sua alma e acção, e assim o Senhor pode servir-se d’Ele para dar
vida a uma benemérita obra, a Sociedade da Doutrina Cristã, que visa assegurar
às paróquias o serviço qualificado de catequistas bem preparados e generosos.”
Passando
depois ao polaco Simão de Lipnica, que como testemunha de Cristo seguiu a espiritualidade
de São Francisco de Assis, o Papa sublinhou a actualidade do seu exemplo de cristão
que, animado pelo espírito do Evangelho, se mostra pronto a dedicar a vida aos irmãos.
“Cumulado
com a misericórdia que recebia da Eucaristia, ele não hesitou em levar ajuda aos doentes
contagiados pela peste, contraindo ele próprio aquela doença, que o levou à morte.
Hoje confiamos de modo particular à sua protecção os que sofrem por causa da pobreza,
da doença, da solidão e da injustiça social”.
No caso de padre Karel Andries
Houben, natural da Holanda, mas que por muitos anos desenvolveu a sua actividade na
Inglaterra e na Irlanda, Bento XVI sublinhou a sua dedicação ao bem das almas.
“Nos
doentes e sofredores ele reconhecia o rosto de Cristo Crucificado, pelo qual ele tinha
grande devoção. Dessedentava-se profundamente com os rios de água viva que brotam
do lado do Trespassado, e - no poder do Espírito – deu testemunho, perante o mundo,
do amor do Pai”.
Finalmente, a referência à francesa Maria Eugénia Milleret,
que soube especialmente advertir a importância de transmitir às jovens gerações uma
formação intelectual, moral e espiritual, capaz de as transformar em testemunhas do
Ressuscitado.
“Ao longo da vida, ela encontrou a força para a sua missão
na vida de oração, associando sem cessar contemplação e acção. Possa o exemplo de
Santa Maria Eugénia convidar os homens e mulheres de hoje a transmitir aos jovens
os valores que os ajudarão a tornarem-se adultos fortes e testemunhas jubilosas do
Ressuscitado”.
No final da celebração, entre as saudações em diferentes
línguas aos múltiplos grupos de peregrinos presentes na Praça de São Pedro, o Papa
teve palavras de apreço para com a Associação Nacional (italiana) de Saúde Militar”,
que tem como lema “Arma pietati cedant” – Que as armas cedam à piedade, fazendo
votos de que assim seja no mundo inteiro.
Finalmente, uma referência “à
Igreja de Bolonha que recorda os 750 anos do acto com que o Senado daquela cidade
estabelecia a abolição da escravatura no seu território. “Possa esta iniciativa suscitar
um renovado empenho para a superação das novas escravidões que ainda afligem a humanidade”
– auspiciou Bento XVI.