Igreja premeia Manoel de Oliveira: distinção destaca sintese explicita entre os valores
cristãos, a abertura á transcendência e a dimensão artística e cultural
(1/6/2007) No terceiro ano da sua atribuição, o Júri do "Prémio de Cultura - Padre
Manuel Antunes", instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, decidiu
premiar "o maior dos nossos cineastas", Manoel de Oliveira. "No seu cinema, marcado
por uma dualidade que Manuel Antunes tanto sublinhou nos nossos maiores, a beleza
é como que uma saudade da eternidade. É um apelo a uma unidade primordial e final
de que, na sua obra, vemos os reflexos esparsos, sabendo-se 'parte da parte' de um
Todo por vir", refere o texto em que se justifica esta distinção. O anúncio deste
prémio de atribuição anual, que visa destacar um percurso, ou uma obra no espaço da
cultura portuguesa contemporânea que faça uma síntese explícita entre os valores cristãos,
a abertura à transcendência e a dimensão artística cultural, vai ser feito sábado,
ao final da tarde, em Fátima, no decorrer das III Jornadas da Pastoral da Cultura.
O Padre Manuel Antunes, sj (Sertã, 1918 - Lisboa, 1985) serve de inspiração a
este prémio, porque, na sua multíplice actividade de universitário, crítico e ensaísta,
buscou, incansavelmente, colocar em diálogo a Fé e a Cultura. Justificação do
Júri Falando de José Régio – que, com Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa,
considerou em 1959, os três maiores poetas portugueses do século XX e "três grandes
poetas do sagrado" – Manuel Antunes escreveu que Manoel de Oliveira era também o "poeta
da nossa vontade de quebrar e ultrapassar os limites, dos nossos esforços por encontrar
uma verdade sempre entrevista jamais contemplada, da nossa insaciável fome de Deus".
A Manoel de Oliveira, discípulo e admirador de Régio, de quem adaptou ao cinema
várias obras, aplicam-se com pertinência estas palavras, ele que também podia dizer
como Régio: "diga o que diga" (ou filme o que filme) "é só falar de Deus". Aparentemente
mais serena do que a obra de Régio (mas disso, que sabemos nós?) Oliveira, na sua
singularíssima filmografia, iniciada em 1931, aos vinte e dois anos, e que, hoje,
aos noventa e oito, prossegue com radicalidade cada vez maior, é, como Régio, o autor
de "um canto de origem – que não só de essência – religiosa" (Manuel Antunes). Quando
filmou Mon Cas, em 1986, Manoel de Oliveira falou do "sinal inexorável e inextinguível
da presença de Deus". "Libertai as almas cativas!" eram as palavras finais do Soulier
de Satin. No seu cinema, marcado por uma dualidade que Manuel Antunes tanto sublinhou
nos nossos maiores, a beleza é como que uma saudade da eternidade. É um apelo a uma
unidade primordial e final de que, na sua obra, vemos os reflexos esparsos, sabendo-se
"parte da parte" de um Todo por vir. Por isso, o Júri decidiu atribuir ao maior
dos nossos cineastas – cineasta da re-ligação e cineasta do Sagrado – o Prémio Manuel
Antunes de 2007. O Júri tem a seguinte composição: D. Manuel Clemente, Presidente
da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais; João Aguiar,
Presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença; João Bénard da Costa, Escritor;
Maria Teresa Dias Furtado, Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;
Hermínio Rico, sj, Director da Revista “Brotéria”; José Tolentino Mendonça, Director
do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. Esta é a terceira atribuição
do «Prémio de Cultura – Padre Manuel Antunes», instituído pelo Secretariado Nacional
da Pastoral da Cultura em parceria com a Rádio Renascença, e que, nas edições anteriores,
distinguiu o poeta Fernando Echevarria e o cientista Luís Archer, sj.