2007-05-26 17:51:28

Saudação do Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique ao Santo Padre por ocasião da visita “ad limina Apostolorum


(26/5/2007) SANTIDADE,
Em nome dos meus irmãos da Conferência Episcopal de Moçambique, aqui presentes, valho-me do ensejo para apresentar a Vossa Santidade a calorosa e filial saudação deste Episcopado, do clero, dos fiéis e de todo o povo moçambicano.
Moçambique é um vasto país, com 799.380 km2 de superfície e uma população de cerca 19.888.701 habitantes.
Neste grande país, a Comunidade Cristã Católica corresponde a 23,8%, ficando os restantes distribuídos entre os da Religião Tradicional, os Muçulmanos, os Protestantes, e outras Religiões e Seitas.
Moçambique, apesar de estar entre os países mais ricos da África em recursos naturais, e com grandes potencialidades económicas a partir da riqueza do seu solo, subsolo, fauna e mar, é um dos países que se encontram em situação de pobreza absoluta e fome, situação agravada pelo alternar-se, ultimamente, de longos períodos de seca em todo o país, com períodos de cheias e aluviões em muitas das suas Províncias.
Esta situação é agudizada ainda pela actual ordem económica internacional regida pelas Multinacionais e pela Globalização, situação que Vossa Santidade denunciou ultimamente, sem rodeios, quando falou do saque da África no livro JESUS DE NAZARET. Na realidade, mais de 50% do povo moçambicano encontra-se abaixo do nível do índice de pobreza aceitável.
Consequências de semelhante situação são outros tantos desequilíbrios sociais no país, tais como a corrupção generalizada, a criminalidade, a exploração da mão-de-obra com injusta remuneração, a exploração da mulher, a facilidade da circulação da droga, do tráfico de pessoas e do comércio sexual.
Esta situação de pobreza absoluta e de fome, que anualmente chega a ceifar vidas, assim como as grandes dificuldades e carências com que o povo luta desesperadamente na área da educação e da saúde têm sido, e são, uma grande preocupação do Episcopado moçambicano; este sente a necessidade e a obrigação de ser, a exemplo do seu Mestre, bom samaritano – tarefa que se torna difícil devido à exiguidade de meios com que pode contar.
E tudo isto num país cujos políticos tomaram o compromisso de se orientar numa linha de governação democrática e multipartidária. De facto, não têm faltado esforços nesse sentido. Contudo, a situação político-social actual de Moçambique não está isenta de ameaças que criam preocupação. Num clima de multipartidarismo, não faltam contradições e descontentamentos.
Outro perigo vem dos condicionamentos da política nacional por parte dos detentores do poder político e económico internacional. Os próprios governantes, em Moçambique, reconhecem esta situação de difícil solução.
No meio de tudo isto a Igreja tem procurado, por um lado, estar ao lado do povo e junto dele, caminhando com ele e partilhando as suas situações e preocupações; e, por outro lado, buscar uma aproximação serena e construtiva com os responsáveis mais significativos da política nacional, incluindo a própria presidência da República. Esta aproximação inclui diálogo em torno das várias realidades sócio-políticas do país e, às vezes, denúncia.
Outro meio, de que se serve o Episcopado moçambicano para iluminar os fiéis e colaborar no bom andamento das coisas no país, são as Cartas Pastorais. Periodicamente, e sobretudo em determinadas situações, tem emanado Cartas Pastorais dirigidas particularmente aos fiéis, mas também a todos os homens de boa vontade incluindo os governantes.
Não há dúvida de que a principal preocupação do Episcopado moçambicano é a evangelização, esta missão de levar a Palavra de salvação de Cristo a todo o homem, para que este se converta e salve. Foi esta preocupação que levou o Episcopado a celebrar três Assembleias Pastorais Nacionais neste arco de trinta anos da nova era da evangelização de Moçambique. Foram três marcos importantíssimos, em que se deram rumos à evangelização, segundo os sinais dos tempos no aqui e no hoje.
Assim, na primeira Assembleia, o Espírito Santo sugeriu-nos a necessidade de uma Igreja Ministerial, articulada em pequenas Comunidades de Base. A segunda Assembleia abordou a questão da necessidade da Consolidação da Igreja Local. A terceira, enfim, enfrentou a questão da necessidade de uma Evangelização adequada à nova situação em que o país se encontra: uma sociedade em franco ritmo de aculturação e em que novos valores e também pseudo-valores se vêm sobrepor ou suplantar os valores sócio-culturais locais que até agora, junto com os valores cristãos, sustentaram a sociedade moçambicana.
As exigências de uma adequada evangelização suscitaram nos Bispos a necessidade de se preocuparem e darem prioridade à pastoral vocacional, à recuperação dos Seminários e ao melhoramento da formação dos seminaristas.
Temos dois Seminários Maiores (Filosofia e Teologia) Interdiocesanos. Cada Província Eclesiástica tem um Seminário Propedêutico Interdiocesano. Algumas Dioceses têm um Seminário Propedêutico próprio; algumas outras têm Seminário Menor.
Também as vocações para a Vida Consagrada, e respectiva formação, estão entre as preocupações pastorais do Episcopado moçambicano e têm merecido especial atenção deste. É nosso sonho e desejo, e até com certa urgência, termos mais dois Seminários Maiores (Filosofia e Teologia) Interdiocesanos, sobretudo para a zona Centro-Norte, mas os meios, contrariamente à nossa vontade, não nos permitem acelerar o passo.
Paralelamente à formação dos candidatos ao Sacerdócio e à Vida Consagrada preocupamo-nos também, e com ansiosa solicitude, pela formação dos leigos empenhados, sobretudo os Catequistas e os Animadores das Comunidades e dos vários Ministérios não Ordenados.
A mesma preocupação pastoral levou-nos a criar a Universidade Católica, a qual, por enquanto, ministra apenas ciências profanas, sem abandonarmos a ideia e o desejo de, num futuro próximo, podermos contar com as Faculdades de Filosofia e Teologia.
Não podemos deixar de referir os grandes desafios pastorais que a Igreja que está em Moçambique tem de enfrentar presentemente e no futuro. Entre outros, há que mencionar: a pastoral da família, a pastoral juvenil, a formação aprofundada e localizada dos candidatos ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, a adequada inculturação da fé e da liturgia, a auto-sustentação da Igreja Local; são também para nós desafios certas realidades sociais emergentes, tais como a propagação da sensualidade através dos mass-média, a proliferação de ideias em favor do amor livre, a liberalização e despenalização do aborto.
Antes de terminar, agradecemos a Vossa Santidade pela particular solicitude e amor de Bom Pastor que nutris e testemunhais pela África.
E, enfim, quero expressar a Vossa Santidade um desejo da nossa Conferência Episcopal e do povo moçambicano que se torna um convite: Que o Santo Padre possa um dia presentear-nos com uma Vossa Visita Pastoral. Aproveito a oportunidade para informar Vossa Santidade de que o povo cristão de Moçambique reza continuamente pelo seu amado Santo Padre. Queira Vossa Santidade dar-nos a sua Bênção Apostólica, a nós e ao povo moçambicano.

+ Tomé Makhweliha,SCJArcebispo de Nampula e Presidente da
Conferência Episcopal de Moçambique









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