Saudação do Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique ao Santo Padre por ocasião
da visita “ad limina Apostolorum
(26/5/2007) SANTIDADE, Em nome dos meus irmãos da Conferência Episcopal de Moçambique,
aqui presentes, valho-me do ensejo para apresentar a Vossa Santidade a calorosa e
filial saudação deste Episcopado, do clero, dos fiéis e de todo o povo moçambicano. Moçambique
é um vasto país, com 799.380 km2 de superfície e uma população de cerca 19.888.701
habitantes. Neste grande país, a Comunidade Cristã Católica corresponde a 23,8%,
ficando os restantes distribuídos entre os da Religião Tradicional, os Muçulmanos,
os Protestantes, e outras Religiões e Seitas. Moçambique, apesar de estar entre
os países mais ricos da África em recursos naturais, e com grandes potencialidades
económicas a partir da riqueza do seu solo, subsolo, fauna e mar, é um dos países
que se encontram em situação de pobreza absoluta e fome, situação agravada pelo alternar-se,
ultimamente, de longos períodos de seca em todo o país, com períodos de cheias e aluviões
em muitas das suas Províncias. Esta situação é agudizada ainda pela actual ordem
económica internacional regida pelas Multinacionais e pela Globalização, situação
que Vossa Santidade denunciou ultimamente, sem rodeios, quando falou do saque da África
no livro JESUS DE NAZARET. Na realidade, mais de 50% do povo moçambicano encontra-se
abaixo do nível do índice de pobreza aceitável. Consequências de semelhante situação
são outros tantos desequilíbrios sociais no país, tais como a corrupção generalizada,
a criminalidade, a exploração da mão-de-obra com injusta remuneração, a exploração
da mulher, a facilidade da circulação da droga, do tráfico de pessoas e do comércio
sexual. Esta situação de pobreza absoluta e de fome, que anualmente chega a ceifar
vidas, assim como as grandes dificuldades e carências com que o povo luta desesperadamente
na área da educação e da saúde têm sido, e são, uma grande preocupação do Episcopado
moçambicano; este sente a necessidade e a obrigação de ser, a exemplo do seu Mestre,
bom samaritano – tarefa que se torna difícil devido à exiguidade de meios com que
pode contar. E tudo isto num país cujos políticos tomaram o compromisso de se
orientar numa linha de governação democrática e multipartidária. De facto, não têm
faltado esforços nesse sentido. Contudo, a situação político-social actual de Moçambique
não está isenta de ameaças que criam preocupação. Num clima de multipartidarismo,
não faltam contradições e descontentamentos. Outro perigo vem dos condicionamentos
da política nacional por parte dos detentores do poder político e económico internacional.
Os próprios governantes, em Moçambique, reconhecem esta situação de difícil solução. No
meio de tudo isto a Igreja tem procurado, por um lado, estar ao lado do povo e junto
dele, caminhando com ele e partilhando as suas situações e preocupações; e, por outro
lado, buscar uma aproximação serena e construtiva com os responsáveis mais significativos
da política nacional, incluindo a própria presidência da República. Esta aproximação
inclui diálogo em torno das várias realidades sócio-políticas do país e, às vezes,
denúncia. Outro meio, de que se serve o Episcopado moçambicano para iluminar os
fiéis e colaborar no bom andamento das coisas no país, são as Cartas Pastorais. Periodicamente,
e sobretudo em determinadas situações, tem emanado Cartas Pastorais dirigidas particularmente
aos fiéis, mas também a todos os homens de boa vontade incluindo os governantes. Não
há dúvida de que a principal preocupação do Episcopado moçambicano é a evangelização,
esta missão de levar a Palavra de salvação de Cristo a todo o homem, para que este
se converta e salve. Foi esta preocupação que levou o Episcopado a celebrar três Assembleias
Pastorais Nacionais neste arco de trinta anos da nova era da evangelização de Moçambique.
Foram três marcos importantíssimos, em que se deram rumos à evangelização, segundo
os sinais dos tempos no aqui e no hoje. Assim, na primeira Assembleia, o Espírito
Santo sugeriu-nos a necessidade de uma Igreja Ministerial, articulada em pequenas
Comunidades de Base. A segunda Assembleia abordou a questão da necessidade da Consolidação
da Igreja Local. A terceira, enfim, enfrentou a questão da necessidade de uma Evangelização
adequada à nova situação em que o país se encontra: uma sociedade em franco ritmo
de aculturação e em que novos valores e também pseudo-valores se vêm sobrepor ou suplantar
os valores sócio-culturais locais que até agora, junto com os valores cristãos, sustentaram
a sociedade moçambicana. As exigências de uma adequada evangelização suscitaram
nos Bispos a necessidade de se preocuparem e darem prioridade à pastoral vocacional,
à recuperação dos Seminários e ao melhoramento da formação dos seminaristas. Temos
dois Seminários Maiores (Filosofia e Teologia) Interdiocesanos. Cada Província Eclesiástica
tem um Seminário Propedêutico Interdiocesano. Algumas Dioceses têm um Seminário Propedêutico
próprio; algumas outras têm Seminário Menor. Também as vocações para a Vida Consagrada,
e respectiva formação, estão entre as preocupações pastorais do Episcopado moçambicano
e têm merecido especial atenção deste. É nosso sonho e desejo, e até com certa urgência,
termos mais dois Seminários Maiores (Filosofia e Teologia) Interdiocesanos, sobretudo
para a zona Centro-Norte, mas os meios, contrariamente à nossa vontade, não nos permitem
acelerar o passo. Paralelamente à formação dos candidatos ao Sacerdócio e à Vida
Consagrada preocupamo-nos também, e com ansiosa solicitude, pela formação dos leigos
empenhados, sobretudo os Catequistas e os Animadores das Comunidades e dos vários
Ministérios não Ordenados. A mesma preocupação pastoral levou-nos a criar a Universidade
Católica, a qual, por enquanto, ministra apenas ciências profanas, sem abandonarmos
a ideia e o desejo de, num futuro próximo, podermos contar com as Faculdades de Filosofia
e Teologia. Não podemos deixar de referir os grandes desafios pastorais que a
Igreja que está em Moçambique tem de enfrentar presentemente e no futuro. Entre outros,
há que mencionar: a pastoral da família, a pastoral juvenil, a formação aprofundada
e localizada dos candidatos ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, a adequada inculturação
da fé e da liturgia, a auto-sustentação da Igreja Local; são também para nós desafios
certas realidades sociais emergentes, tais como a propagação da sensualidade através
dos mass-média, a proliferação de ideias em favor do amor livre, a liberalização e
despenalização do aborto. Antes de terminar, agradecemos a Vossa Santidade pela
particular solicitude e amor de Bom Pastor que nutris e testemunhais pela África. E,
enfim, quero expressar a Vossa Santidade um desejo da nossa Conferência Episcopal
e do povo moçambicano que se torna um convite: Que o Santo Padre possa um dia presentear-nos
com uma Vossa Visita Pastoral. Aproveito a oportunidade para informar Vossa Santidade
de que o povo cristão de Moçambique reza continuamente pelo seu amado Santo Padre.
Queira Vossa Santidade dar-nos a sua Bênção Apostólica, a nós e ao povo moçambicano.
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Tomé Makhweliha,SCJArcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de
Moçambique