BENTO XVI NA AUDIÊNCIA GERAL: IDENTIDADE CATÓLICA AINDA É A RESPOSTA MAIS ADEQUADA
PARA A AMÉRICA LATINA
Cidade do Vaticano, 23 mai (RV) - Bento XVI dedicou a Audiência Geral desta
quarta-feira, que contou com a presença de cerca de 50 mil fiéis e peregrinos reunidos
na Praça São Pedro, à recordação de sua recente visita apostólica ao Brasil.
Foi
um itinerário entre "história vivida, piedade popular e arte"; um itinerário entre
os "valores cristãos profundamente radicados" num "passado glorioso" de fé, que ainda
hoje convivem junto "com enormes problemas sociais e econômicos".
O Santo Padre
quis descrever de modo amplo e, ao mesmo tempo, detalhado, sua primeira visita à América
Latina: um percurso pelas "maravilhas" criadas por Deus, nas populações que se estendem
do Caribe à Terra do Fogo e, portanto, uma peregrinação de fé, concluída aos pés da
Virgem Aparecida.
"É claro que _ admitiu o papa no início de sua catequese
_ a recordação de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam
a obra de evangelização do continente latino-americano."
"Não é possível, de
fato, esquecer os sofrimentos e as injustiças perpetradas pelos colonizadores às populações
indígenas, muitas vezes espezinhadas em seus direitos humanos fundamentais. Mas a
imperiosa menção de tais crimes injustificáveis _ crimes desde então condenados pelos
missionários como Bartolomeu de las Casas e por teólogos como Francesco de Vitória,
da Universidade de Salamanca _ não deve impedir de considerar, com gratidão, a obra
maravilhosa feita pela graça divina entre aquelas populações, ao longo desses séculos."
Com
o olhar voltado para o presente, Bento XVI reafirmou que o Evangelho que se tornou,
em mais de cinco séculos, "o fio condutor" da América Latina, é o mesmo que deve ser
anunciado na "época da globalização".
"A identidade católica _ explicou _ se
apresenta ainda, como a resposta mais adequada, desde que animada por uma séria formação
espiritual e pelos princípios da Doutrina Social da Igreja."
Recordando seu
encontro com os jovens, no estádio municipal do Pacaembu, em São Paulo, o papa lembrou
que "também hoje, a Igreja faz o mesmo: em primeiro lugar repropõe os mandamentos
_ verdadeiro caminho de educação da liberdade ao bem pessoal e social; e, sobretudo,
propõe o "primeiro mandamento", o do amor, porque sem o amor, também os mandamentos
não podem dar sentido pleno à vida e propiciar a verdadeira felicidade".
A
felicidade que se traduz em bem comum, quando os valores cristãos são tecidos na trama
de uma cultura. E a "cultura cristã" do Brasil _ disse o pontífice _ pode representar
para o mundo, "um novo modelo de desenvolvimento", porque "pode incentivar uma "reconciliação’
entre os homens e a criação".
O exemplo mais comovente e incisivo dessa reconciliação
é o que Bento XVI pôde presenciar, em sua visita a uma das comunidades das "Fazendas
da Esperança", em Guaratinguetá, interior de São Paulo.
"A Fazenda que visitei
_ disse o Santo Padre _ me deixou uma profunda impressão, cuja recordação conservo
viva em meu coração. Nela, é significativa a presença de um mosteiro de Irmãs Clarissas.
Isso me pareceu emblemático para o mundo de hoje, que precisa de uma "recuperação",
certamente psicológica e social, mas ainda mais profundamente espiritual."
Um
filho do Brasil que encarnou essa orientação, segundo o pontífice, foi o franciscano
que vivei no século XVIII, Santo Antônio de Sant'Anna Galvão, canonizado pelo papa
no dia 11 de maio, em São Paulo. "Seu testemunho _ reiterou Bento XVI _é uma ulterior
confirmação de que a santidade é a verdadeira revolução, que pode promover a autêntica
reforma da Igreja e da sociedade."
A seguir, o Santo Padre convidou os leigos
cristãos a serem protagonistas dessa renovação, sob a guia de seus respectivos bispos,
os quais, mesmo atuando num contexto de "religiosidade inata", são chamados a vigiar
"sobre o depósito da fé".
Reportando-se à inauguração da Conferência de Aparecida,
Bento XVI recordou o que disse João Paulo II, no Haiti, durante a XIX Assembléia do
Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em Porto Príncipe, em 9 de março de 1983,
no curso de sua visita apostólica a Portugal, Costa Rica, Nicarágua, Panamá, El Salvador,
Guatemala, Honduras, Belize e Haiti, de 2 a 10 de março daquele ano: "empenhar-se
não por uma reevangelização, mas sim por uma nova evangelização. Nova em seu ardor,
em seus métodos e em sua expressão".
"Com a minha viagem apostólica, quis exortar
a prosseguir nessa estrada, oferecendo como perspectiva unificadora, a da encíclica
"Deus caritas est": uma perspectiva inseparavelmente teológica e social, que se pode
resumir na expressão "o amor é que doa a vida"."
Ao término de sua catequese
em italiano, o papa fez um resumo da mesma, em português: "Amados irmãos e irmãs,
nesta Audiência Geral, meu pensamento se dirige com emoção à viagem apostólica que
realizei, na primeira quinzena de maio. Transcorridos dois anos de pontificado, tive,
por fim, a alegria de ir à América Latina, que tanto amo e onde vive, na realidade,
grande parte dos católicos do mundo. A meta era o Brasil, mas quis também, abraçar
todo o subcontinente latino-americano, levando-se em conta que o acontecimento eclesial
que motivou a viagem foi a V Conferência Geral do Episcopado da América-Latina e do
Caribe. Desejo renovar a expressão da minha profunda gratidão pela acolhida que me
ofereceram os bispos do Brasil e da América Latina. Agradeço também ao presidente
da República do Brasil e às demais autoridades civis, pela cordial e generosa colaboração
prestada na ocasião; sou grato, enfim, ao povo brasileiro, pela calorosa acolhida
de que fui objeto em São Paulo e Aparecida, bem como pela expressiva manifestação
de religiosidade e de fé que soube demonstrar."
Antes
de concluir a Audiência Geral, o Santo Padre saudou os fiéis e peregrinos presentes,
em suas respectivas línguas. Eis sua saudação em português: "Saúdo todos os
peregrinos de língua portuguesa, mormente os portugueses da Paróquia de Nossa Senhora
de Laveiras-Caxias; Valdefigueira-Setubal; Porto Diniz e, inclusive, um grupo de visitantes.
Saúdo também os numerosos brasileiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul e Brasília. A todos, peço orações pelos frutos da minha viagem na Terra da Santa
Cruz, enquanto, de coração, vos concedo a bênção apostólica." (RL)