CONFERÊNCIA DE APARECIDA: UM CONFRONTO EM BUSCA DE UMA LINHA DE AÇÃO COMUM
Aparecida, 15 mai (RV) – Apagados os refletores, com a conclusão da visita
do papa ao Brasil, e digerida sua mensagem de orientação, os participantes da V Conferência
Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe estão trabalhando em ritmo pleno,
num clima que deixa prever um duro confronto entre expoentes da Igreja na região.
De
um lado, se alinham os bispos que são favoráveis a uma abordagem mais doutrinária,
dos males da América Latina, ou seja, a maioria do Episcopado latino-americano. Do
outro lado, estarão os remanescentes de um posicionamento de abordagem mais social
dos problemas nessa região do mundo. Entre estes últimos, destacamos o bispo de San
Marcos, Guatemala, Dom Álvaro Leonel Ramazzini Imeri, e o bispo brasileiro de Jales,
Dom Luiz Demétrio Valentini.
O tema central dos trabalhos em Aparecida diz
respeito à crise do Catolicismo na América Latina e aos instrumentos eficazes para
a realização de uma nova evangelização, num cenário em que atuam numerosas e dinâmicas
denominações religiosas e seitas, algumas com finalidades dissimuladas e até mesmo
perigosas, que continuam a subtrair fiéis à Igreja Católica.
"Os bispos _ disse
o bispo de Catanduva, Dom Antônio Celso Queiroz _ estão preocupados com as igrejas
evangélicas", que se multiplicam como fungos.
Fundamental será o debate sobre
a praga da pobreza, à luz di discurso em que o pontífice atribuiu, seja ao marxismo
seja ao capitalismo, a falência na busca de uma solução para o problema da pobreza.
Nas
conferências gerais precedentes, a Igreja latino-americana declarou sua "opção preferencial
pelos pobres", opção recordada por Bento XVI, num de seus discursos no Brasil, no
qual ressaltou que essa preferência "está implícita na fé cristã", na qual Deus se
fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza.
De Buenos Aires,
o analista da agência de notícias italiana _ ANSA _ comenta que, "por suas condições
históricas e por sua virgindade social, a América Latina foi a região que mais levou
a sério as intuições do Concílio Vaticano II; e as conferências de Medellín e Puebla
lançaram as bases para o desenvolvimento das proféticas comunidades de base".
"O
povo oprimido _ acrescenta ele _ havia descoberto uma forma de ser religioso que não
fosse meramente consoladora, mas que fosse também libertadora. Nascia, assim _ ressalta
ele _ uma Igreja vital, cujos protagonistas eram os pobres: aquela "Igreja pobre"
que fora vagamente preanunciada por alguns prelados que participaram do Vaticano II."
No
parecer do analista da ANSA, "as comunidades de base inauguraram uma verdadeira transformação
no modo de viver a fé católica: sem pronunciamentos teóricos, sem heresias, simplesmente
sendo, como queria Jesus". (AF)