2007-05-14 18:49:38

Bispos discutem futuro da Igreja na América Latina


(14/5/2007) Bento XVI já regressou do Brasil, concluindo uma visita apostólica de cinco dias, mas o futuro da Igreja na América Latina continua em discussão na V Conferência Geral dos Bispos desta região, que decorre até ao fim de Maio no Santuário de Aparecida
Representantes de 22 conferências episcopais procuram, com a ajuda de convidados, especialistas e observadores, responder às interrogações que se colocam sobre o futuro da Igreja num espaço geográfico que engloba quase metade dos católicos de todo o mundo.
Como tinham feito Paulo VI em Medellin (1968) e João Paulo II em Puebla (1979) e Santo Domingo (1992), Bento XVI inaugurou este Domingo os trabalhos da Conferência, encontro que se realiza apenas pela quinta vez em mais de meio século (neste mesmo período houve seis Papas, por exemplo), deixando perspectivas para a próxima década.
A Conferência de Aparecida não trata de questões dogmáticas nem é uma espécie de Concílio continental, mas procura ter um carácter missionária e pastoral. Esta iniciativa é definida como “uma reunião de Bispos representantes das vinte e duas conferências episcopais existentes na América Latina e no Caribe, para reflectir o momento que vive a Igreja neste espaço geográfico e discernir, à luz do Evangelho, os acentos da sua condução e serviço perante as mudanças na sociedade e na cultura vigente”.
O centro de gravidade da Igreja Católica tem-se deslocado, ao longo dos últimos anos, para o Sul do mundo e é gritante a falta de crescimento da Igreja na Europa. Entre 1978 e 2003, os católicos no mundo passaram de 757 milhões para 1080 milhões - um aumento de 329 milhões de fiéis. Na América e Ásia, a Igreja experimentou um crescimento notável (de 47,6% e de 78,2% respectivamente). Os católicos americanos representam 62% da população do Continente, a maior percentagem do mundo.
A reunião magna do episcopado latino-americano prolonga-se até 31 de Maio, subordinada ao tema "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n'Ele os nossos povos tenham vida".
"Esta V Conferência Geral celebra-se em continuidade com as outras quatro que a precederam no Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo. Com o mesmo espírito que as animou, os Pastores querem dar agora um novo impulso à evangelização, a fim de que estes povos continuem crescendo e amadurecendo em sua fé, para ser luz do mundo e testemunhas de Jesus Cristo com a própria vida", referiu ontem o Papa.
A lista completa de participantes inclui 266 pessoas, divididas entre 162 membros, 81 convidados, 8 observadores e 15 especialistas.
Além dos três presidentes e dois secretários da V Conferência, figuram como membros 14 Cardeais latino-americanos, a Presidência do Conselho Episcopal da América Latina (CELAM) e da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL), os presidentes das Conferências Episcopais da região, os 93 delegados escolhidos por cada Episcopado, 15 membros nomeados pelo Papa, o Secretário-geral do Sínodo dos Bispos, três Núncios Apostólicos, representantes de Conselhos de Conferências Episcopais e oito bispos de outras Conferências Episcopais.
Nesta Conferência, pela primeira vez, os representantes dos Bispos dos EUA, do Canadá, de Espanha e de Portugal são membros efectivos, com direito a voto. D. Jorge Ortiga, que estará presente como presidente da CEP, assinalou à Agência ECCLESIA que os trabalhos irão contar com a participação dos bispos de uma "maneira co-responsável". Não esquecendo que a América Latina "nasceu a partir de Portugal e Espanha", o Arcebispo de Braga considera que este encontro será uma certo "uma experiência muito rica".
Preparação
Como já é tradição desde Puebla, estas iniciativas são precedidas por um processo em que todos são convidados a estudar os conteúdos das propostas iniciais e oferecer sugestões que são recolhidas nos documentos de trabalho que serão estudados pelos Bispos no momento da conferência.
O documento que os Bispos católicos da América Latina debatem na Conferência de Aparecida abrange um leque amplo que vai desde a sexualidade e a educação até a globalização, com destaques para a imigração e a mudança climática.
As ideias foram previamente seleccionadas em centenas de reuniões realizadas em diferentes países através de fóruns e seminários, alguns deles, de carácter económico. O próprio Papa convocou, para falar desta Conferência, os Núncios Apostólicos na América Latina e, posteriormente, os chefes de Dicastérios da Cúria Romana.
Os Bispos latino-americanos assinalam que "a globalização económica traz muitos benefícios para os que conseguem incorporar-se ao alto nível necessário de conhecimentos e de técnicas, mas deixa à margem, criando situações de precariedade, desigualdade e pobreza, os que têm menos capacidades e possibilidades para competir numa economia aberta ao mercado".
Além das muitas dificuldades sociais e económicas que afectam a região, desde a pobreza extrema ao narcotráfico, os Bispos terão de procurar soluções para as dificuldades internas que a Igreja Católica tem em transmitir a fé num continente marcado por profundas assimetrias e religiosamente em mudança. O futuro da Igreja em todo o mundo, e não só na América Latina, passa por Aparecida.








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