2007-05-14 00:13:33

BENTO XVI: MARXISMO E CAPITALISMO NÃO FORAM CAPAZES DE COMBATER POBREZA E PROMOVER JUSTIÇA SOCIAL NA AL


Aparecida, 13 mai (RV) – Uma crítica ao aumento do abismo entre ricos e pobres na América Latina, no contexto da constatação que tanto o capitalismo quanto o marxismo foram incapazes de combater a pobreza e de promover a justiça social no subcontinente latino-americano.

No pronunciamento mais politizado que fez, em sua visita ao Brasil, Bento XVI condenou, na sessão inaugural da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, a persistência e até mesmo o aumento do abismo social na região latino- americana.

Falando aos 162 bispos, arcebispos e cardeais que participam da Conferência de Aparecida, que vai debater, até o final do mês, as diretrizes para uma nova evangelização da América Latina _ uma região na qual vivem 1,1 bilhões dos católicos de todo o mundo _ e as linhas pastorais que deverão orientar as Igrejas locais pelos próximos 10 anos, o pontífice disse que "tanto o capitalismo quanto o marxismo prometeram encontrar o caminho para a criação de estruturas justas, e afirmaram que elas funcionariam por si mesmas... "Essa promessa ideológica demonstrou-se falsa." E os fatos estão aí para demonstrar, afirmou o papa, sem meios termos.

Ao marxismo, Bento XVI atribuiu a culpa pela "destruição do espírito humano", enquanto ao capitalismo, atribuiu a responsabilidade de ter aumentado o enorme abismo social existente entre as pessoas, na América Latina, além de uma "inquietante degradação da dignidade pessoal, por meio das drogas, do álcool e de ilusórias formas de prazer".

Para o Santo Padre, as duas ideologias compartilham o que ele definiu de "erro mais destrutivo" porque ambas "falsificam o conceito de realidade, separando-o de Deus". A religião e a fé em Deus são as únicas maneiras de o homem livrar-se dos males da sociedade _ ponderou. "Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito de realidade e, por conseguinte, só pode acabar percorrendo caminhos equivocados e destrutivos."

O papa também se referiu à globalização _ tendência econômica em que ele vê um avanço, pela unidade que proporciona, mas que apresenta "os riscos dos grandes monopólios, e de converter o lucro num valor supremo", e sublinhou que a globalização deve ser marcada pelo exercício da ética.

Bento XVI atribuiu o êxodo dos fiéis católicos à agressividade das novas religiões e seitas, e apontou o "o secularismo, o hedonismo, a indiferença e o proselitismo de numerosas seitas e novas expressões pseudo-religiosas" como culpados pelo "enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade".

O pontífice elogiou o progresso da democracia na região, mas ressaltou que subsistem motivos de preocupação com as formas de governo autoritárias, "sujeitas a ideologias que se acreditava superadas". Apesar das críticas aos governos latinos, o papa deixou claro que a Igreja não mantém laços com a política. "A igreja é advogada da justiça e dos pobres, principalmente por não identificar-se com políticos ou com interesses de partidos" _ afirmou.

Fazendo uma retrospectiva do papel desempenhado pela Igreja na colonização do subcontinente latino-americano, Bento XVI falou sobre o trabalho dos missionários junto aos povos autóctones da região, 500 anos atrás.

"O anúncio de Jesus e de seu Evangelho _ sublinhou o pontífice _ não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha" _ disse em seu discurso lido em espanhol na sua quase totalidade, com alguns trechos em português. Ao mudar o discurso da língua espanhola para o português, Bento XVI se confundiu e provocou alguns risos na platéia. O papa sorriu, se corrigiu e prosseguiu em seu pronunciamento.

Bento XVI justificou a aceitação do Catolicismo por parte desses povos nativos, como natural, uma vez que as culturas, segundo ele, não são fechadas nem "petrificadas".

O papa exortou a América Latina a defender a tradição da família e atacou as ameaças de legalização do aborto, o materialismo e a vida marcada pelo prazer. Ele indicou a importância do papel da família "tradicional" na sociedade: "Um patrimônio da humanidade, que constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos" _ sublinhou.

Dirigindo-se aos jovens, disse que a eles "cabe a tarefa de opor-se às fáceis ilusões da felicidade imediata e dos paraísos enganosos da droga, do prazer, do álcool, junto com todas as formas de violência".

O papa arrancou aplausos dos presentes, quando lembrou que a devoção aos necessitados é um dos principais preceitos da religião católica. "A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristã" _ enfatizou.

Falando em português, o pontífice agradeceu pelo trabalho dos bispos na América Latina e Caribe: "A igreja lhes agradece pelo grande trabalho que vocês vêm realizando ao longo dos séculos, pelo Evangelho de Cristo, em favor de seus irmãos, principalmente pelos mais pobres e marginalizados" _ disse.

Abrindo a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, o Santo Padre foi saudado pelo presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, um dos presidentes da Conferência de Aparecida. A seguir, todos cantaram, em latim, juntamente com o papa, o Salmo 19 e um Cântico de Nossa Senhora, seguido da oração do Pai-nosso, sempre em latim.

 Ao término de seu discurso, Bento XVI retornou ao Seminário Bom Jesus, de onde partiu, de papamóvel, com destino ao heliporto do santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde tomou o helicóptero que o conduziu diretamente ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ali, o Santo Padre proferirá seu discurso de saudação e de despedida dos fiéis católicos e de toda a nação brasileira e, partirá, por volta das 20h, com destino a Roma e ao Vaticano, encerrando, assim, a sua 6ª viagem apostólica internacional. (AF)







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