2007-05-13 22:59:33

Abertura V Conferência Geral dos Bispos Latino americanos. Os desafios da fé cristã na América Latina: em jogo o desenvolvimento harmonioso da sociedade e a identidade católica dos seus povos.


(13/5/2007) Impossivel resumir em poucas palavras o longo e circunstanciado discurso pronunciado por Bento XVI este Domingo á noite na abertura dos trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, que decorre a partir de agora em Aparecida tendo como tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que os nossos povos n’Ele tenham vida – Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Indicamos brevemente algumas passagens mais significativas, deixando para outro momento uma apresenção mais circunstanciada.
O Papa começou por dar graças a Deus pelo grande dom da fé às populações deste continente.
“A fé em Deus animou a vida e a cultura destes povos durante mais de cinco séculos. Do encontro desta fé com as etnias originárias nasceu a rica cultura cristã deste Continente, expressa na arte, na música, na literatura e sobretudo nas tradições religiosas e na idieosincrasia das suas gentes, unidas por uma mesma história e um mesmo credo, e formando uma grande sintonia na diversidade de culturas e de línguas.
Referindo–se expressamente ao tema desta Conferência, Bento XVI comentou o tema “discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Perguntou-se o Papa: - “Por que é que queremos ser discípulos de Cristo? Estamos mesmo convencidos de que é Ele o caminho, da verdade e a vida?” Mas – reflectiu – a preocupação com a fé em Cristo e com a vida em Cristo, não constituirá uma fuga para o intimismo e individualismo religioso, um abandono da realidade urgente dos grandes problemas económicos, sociais e políticos da América Latina e do mundo? Não será uma fuga da realidade para um mundo espiritual? Uma questão à qual o Papa contrapôs uma outra: “O que é o real? São ‘realidade’ só os bens materiais, os problemas sociais, económicos e políticos?”
“Aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes no último século, erro destrutivo, como demonstram os resultados tanto dos sistemas marxistas como também dos capitalistas. Falsificam o conceito de realidade com a amputação da realidade fundante e por isso decisiva, que é Deus.”


“Quem exclui Deus do seu horizonte falsifica o conceito de ‘realidade’ e, em consequência, só pode ir dar a caminhos equivocados e com receitas destrutivas. A primeira afirmação fundamental é, portanto, a seguinte: Só quem reconhece Deus, conhece a realidade e pode responder-lhe de modo adequado e realmente humano. A verdade desta tese resulta evidente perante o fracasso de todos os sistemas que colocam Deus entre parêntesis (...).


Deus é a realidade fundante, não um Deus só pensado e hipotético, mas o Deus de rosto humano; é o Deus-connosco, o Deus do amor até à cruz. Quando o discípulo chega à compreensão deste amor de Cristo ‘até ao extremo’, não pode deixar de responder a este amor senão com um amor semelhante: ‘Seguir-te-ei aonde quer que vás’.


Prosseguindo o comentário sobre o tema desta Conferência Geral – “para que n’Ele, em Cristo, tenham a vida”, Bento XVI sublinhou a centralidade da Missa dominical na vida do cristão:

“É necessário que os cristãos experimentem que não vão atrás de um personagem da história passada, mas sim do Cristo vivo, presente no hoje e agora das suas vidas. Ele é o Vivente que caminha ao nosso lado, descobrindo-nos o sentido dos acontecimentos, do sofrimento e da morte, da alegria e da festa, entrando em nossas casas e permanecendo nelas, alimentando-nos com o Pão que dá a vida. É por isso que a celebração dominical da Eucaristia há-de ser o centro da vida cristã.

“O encontro com Cristo na Eucaristia suscita o compromisso da evangelização e o impulso à solidariedade; desperta no cristão o forte desejo de anunciar o Evangelho e de o testemunhar na sociedade para que seja mais justa e humana. Da Eucaristia brotou ao longo dos séculos um imenso caudal de caridade, de participação nas dificuldades dos outros, de amor e de justiça. Só da Eucaristia brotará a civilização do amor, que transformará a América Latina e os Caraíbas para que, além de ser o Continente da Esperança, seja também o Continente do Amor!
.
Passando depois à questão dos “urgentes problemas sociais e políticos”, o Papa interrogou-se sobre como é que a Igreja pode contribuir para os resolver, e que resposta há-de dar ao grande desafio da pobreza. O que coloca a questão das estruturas justas que há que promover.


“As estruturas justas hão-de procurar-se e elaborar-se à luz dos valores fundamentais, com todo o empenho da razão política, económica e social. São uma questão de ‘recta ratio’ e não provêm de ideologias nem das suas promessas. Há sem dúvida um tesouro de experiências políticas e de conhecimentos sobre os problemas sociais e económicos, que evidenciam elementos fundamentais de um estado justo e os caminhos que se hão-de evitar.”

 
Contudo, advertiu o Papa, “este trabalho político não competência imediata da Igreja” .


O respeito de uma sã laicidade – inclusivamente com a pluralidade das posições políticas – é essenvial na tradição cristã autêntica. Se a Igreja começasse a transformar-se directamente em sujeito político, não faria mais a favor dos pobres e da justiça; faria menos, porque perderia a sua independência e a sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais opináveis.
A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, precisamente não se identificando com os políticos nem com os interesses de partido. Só sendo independente pode ensinar os grandes critérios e os valores inderrogáveis, orientar as consciências e oferecer uma opção de vida que vá para além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da justiça e da verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste sector

Quase a concluir a sua longa reflexão sobre os temas da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano, Bento XVI referiu-se ainda, como “outros campos prioritários”, a família, os padres, os religiosos, religiosas e outros consagrados, os leigos, os jovens e a pastoral vocacional. Sectores quase todos eles já abordados noutros momentos desta viagem pastoral. Ouçamos as suas palavras sobre os leigos: RealAudioMP3
Nesta hora em que a Igreja deste Continente se entrega plenamente à sua vocação missionária, lembro aos leigos que são também Igreja, assembléia convocada por Cristo para levar seu testemunho ao mundo inteiro. Todos os homens e mulheres batizados devem tomar consciência de que foram configurados com Cristo Sacerdote, Profeta e Pastor, através do sacerdócio comum do Povo de Deus. Devem sentir-se co-responsáveis na construção da sociedade segundo os critérios do Evangelho, com entusiasmo e audácia, em comunhão com os seus Pastores.
São muitos os fiéis que pertencem a movimentos eclesiais, nos quais podemos ver os sinais da multiforme presença e ação santificadora do Espírito Santo na Igreja e na sociedade atual. Eles são chamados para levar ao mundo o testemunho de Jesus Cristo e ser fermento do amor de Deus na sociedade.








All the contents on this site are copyrighted ©.