2007-05-11 22:47:38

BENTO XVI EXORTA BISPOS BRASILEIROS A TRABALHAR COM O EVANGELHO NAS MÃOS, FUNDAMENTADOS NA CORRETA TRADIÇÃO APOSTÓLICA


São Paulo, 11 mai (RV) - "Agradeço a Deus por ter-me permitido encontrar com um Episcopado de prestígio, que está à frente de uma das mais numerosas populações católicas do mundo. Eu vos saúdo com sentimentos de profunda comunhão e de afeto sincero, bem conhecendo a dedicação com que seguis as comunidades que vos foram confiadas": com essa saudação, o papa iniciou sua homilia, na liturgia das vésperas, que presidiu, na Catedral da Sé, onde encontrou todo o Episcopado brasileiro, no final desta tarde. Foi o último encontro de sua agenda na capital paulista. Logo após esse encontro, de helicóptero, o Papa se transferiu para Aparecida, onde deverá inaugurar, no próximo domingo, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe.

Referindo-se à Conferência de Aparecida, o Santo Padre disse: "É um grande evento eclesial que se situa no âmbito do esforço missionário que a América Latina deverá se propor, precisamente a partir daqui, do solo brasileiro."

O pontífice ressaltou a "obrigação de pregar a verdade da fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à sua Igreja", sublinhando que "estas são realidades fundamentais e se referem à instrução na fé e na moral cristã, e à prática dos sacramentos".

"Onde Deus e a sua vontade não são conhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e nem a sua presença nas celebrações sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos. A fidelidade ao primado de Deus e da sua vontade, conhecida e vivida em comunhão com Jesus Cristo, é o dom essencial, que nós bispos e sacerdotes devemos oferecer ao nosso povo" _ argumentou o papa, fazendo referência à encíclica Populorum progressio.

Sobre os tempos atuais, o Santo Padre sublinhou que "a vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora". "Ataca-se, impunemente, a santidade do matrimônio e da família, iniciando-se por fazer concessões diante de pressões capazes de incidir negativamente sobre os processos legislativos; justificam-se alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual; atenta-se contra a dignidade do ser humano; alastra-se a ferida do divórcio e das uniões livres. Ainda mais: no seio da Igreja, quando o valor do compromisso sacerdotal é questionado como entrega total a Deus através do celibato apostólico e como disponibilidade total para servir às almas, dando-se preferência às questões ideológicas e políticas, inclusive partidárias, a estrutura da consagração total a Deus começa a perder o seu significado mais profundo."

A seguir, se referiu à questão _ crucial para os bispos _ do êxodo dos católicos para as seitas. "Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema _ argumentou _ possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas _ que é motivo de justa preocupação _ e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo, são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata."

Nesse contexto, aconselhou a "não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo, através de uma pastoral da acolhida que os ajude a sentir a Igreja como lugar privilegiado do encontro com Deus e mediante um itinerário catequético permanente".
 
Neste "esforço evangelizador", o papa ressaltou a urgência de ajudar as pessoas pobres, "como faziam as primeiras comunidades cristãs, praticando a solidariedade, para que se sintam amadas de verdade". O "povo pobre das periferias urbanas ou do campo precisa sentir a proximidade da Igreja, seja no socorro das suas necessidades mais urgentes, como também na defesa dos seus direitos e na promoção comum de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz".

A vivência sacramental também foi ressaltada pelo pontífice, que indicou a importância da Confissão e da Eucaristia.

No que toca à inculturação, o Santo Padre sublinhou que a " verdade supõe um conhecimento claro da mensagem de Jesus, transmitida graças a uma compreensível linguagem inculturada, mas necessariamente fiel à proposta do Evangelho".

O Episcopado brasileiro _ prosseguiu o papa _ possui uma estrutura de grande envergadura, cujos Estatutos foram há pouco revistos, para seu melhor desempenho e uma dedicação mais exclusiva, para o bem da Igreja. Nós, pastores _ ressaltou _ na esteira do compromisso assumido como sucessores dos Apóstolos, devemos ser fiéis servidores da Palavra, sem visões redutivas e confusões na missão que nos é confiada. "Não basta observar a realidade a partir da fé pessoal; é preciso trabalhar com o Evangelho nas mãos e fundamentados na correta herança da Tradição Apostólica, sem interpretações movidas por ideologias racionalistas."

Bento XVI fez um apelo ao zelo sacerdotal dos bispos, em função do discernimento das vocações, indicando "um bom e assíduo acompanhamento espiritual" dos candidatos ao sacerdócio, a fim de "favorecer o amadurecimento humano e evitar o risco de desvios no campo da sexualidade".

Concluindo sua homilia aos bispos brasileiros, o papa falou das dificuldades socioeconômicas que afligem a população brasileira, com um enorme abismo econômico que vê poucas pessoas no topo da escala social e outras, a maioria quase, na maior indigência. Nesse contexto, exortou os bispos a "promover a busca de soluções novas e cheias de espírito cristão".

"Uma visão da economia e dos problemas sociais, a partir da perspectiva da doutrina social da Igreja, leva a considerar as coisas sempre do ponto de vista da dignidade do homem, que transcende o simples jogo dos fatores econômicos. Deve-se, por isso, trabalhar incansavelmente para a formação dos políticos, dos brasileiros que têm algum poder decisório, grande ou pequeno e, em geral, de todos os membros da sociedade, de modo que assumam plenamente as próprias responsabilidades e saibam dar um rosto humano e solidário à economia" _ orientou o Santo Padre.

"É necessário formar, nas classes políticas e empresariais _ enfatizou o pontífice _ um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade, deve procurar prever as conseqüências sociais, diretas e indiretas, a curto e a longo prazo, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais" _ concluiu. (AF)








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