2007-05-10 19:17:58

Deus e a Igreja sob suspeita no Congresso Internacional sobre a Santissima Trindade que decorre em Fátima


(10/5/2007) A revelação de «verdades» escondidas durante séculos pela Igreja e que agora se colocam ao dispor de toda a humanidade é uma ideia que marca vários dos livros e filmes lançados nos últimos anos, colocando sob suspeita a Igreja e o Deus em que os cristãos acreditam.
A teologia católica confronta-se, tal como no início do Cristianismo, com correntes gnósticos, que colocam no centro deste movimento religioso sincrético um conhecimento do mistério divino reservado aos iniciados. A valorização do elemento feminino ou a apresentação de Deus como “um princípio divino, uma ideia, um pensamento”, que se recolhe no inacessível, são marcas visíveis desse ressurgimento do gnosticismo.
Esta temática dominou a manhã desta Quinta-feira no Congresso Internacional sobre a Santíssima Trindade, que está a decorrer em Fátima inserida no programa celebrativo dos 90 anos das Aparições.
Hans-Jochen Jaschke, Bispo alemão, falou das “complexas correntes gnósticas” que entram em contradição e colocam sob suspeita a Igreja, acusada de ter escondido textos e verdades. A vida Jesus na Índia ou a sua relação com a Madalena e Judas dão azo a histórias criminalistas com grande eco mediático e de marketing.
“Nós, homens da Igreja, não oprimimos a fé verdadeira”, assinalou D. Jaschke, frisando que a comunidade eclesial “é lugar para tradição segura e verdadeira”.
Para este especialista, a teologia católica fala sempre do “Deus concreto, no homem, no seu filho Jesus, e no Espírito”. Neste contexto, por exemplo, a divindade de Cristo não é uma “construção teológica” e a incarnação continua a ser o maior “escândalo cristão”.
Revisitando a teologia de Irineu de Lyon, figura fundamental da oposição do Cristianismo nascente ao gnosticismo, D. Hans-Jochen Jaschke falou da relação entre evolução e criação, observando que a teologia católica pode oferecer respostas ao “porquê e para quê” do processo evolutivo. “O querer positivo de Deus determina o processo do Cosmos, no jogo livre das suas forças”, disse, indicando que, ao contrário do que acontece no gnosticismo, na Bíblia “o mundo é criado livremente por Deus, não há dualismo básico”.
O culto do conhecimento
Real Tremblay, professor de teologia em Roma e colaborador em várias instituições da Santa Sé, lembrou que, nestes movimentos, há uma “importância central da gnosis, conhecimento, que suplanta a relação”.
Numa aproximação entre a antiga “gnose” e a moderna engenharia genética, o teólogo canadiano alertou para a “omnipresença e omnipotência do conhecimento científico”, que passa por um “culto do conhecimento” e pela “avidez do conhecimento, suportado por meios técnicos cada vez mais sofisticados”.
Reflectindo sobre qual o lugar que o amor de Deus pode ter neste domínio, Tremblay citou Ireneu de Lyon, que defendia o papel “edificador” deste amor.
Para ilustrar esta convicção, o conferencista lembrou um discurso de Bento XVI, em que o Papa deixava claro que “o amor de Deus não faz diferença entre o que está no seio da sua mãe, a criança, o jovem, o idoso, porque em cada um vê a marca da sua imagem e semelhança”.
Fátima e a Trindade
Na abertura dos trabalhos, que decorreu ontem, D. António Marto deixou votos de que Fátima se possa transformar num "lugar místico e mistagógico onde resplandeça a beleza do rosto trinitário de Deus".
O Bispo de Leiria-Fátima sublinhou que, face à crise de Deus na cultura actual, o cristão tem de ser “místico”, experimentando o mistério de Deus trinitário e a sua beleza.
José Tolentino Mendonça apresentou uma conferência relativa à Trindade “a partir do Evangelho de São João”, falando da “possibilidade de narrar Deus” e de como se torna pensável “o impensável de Deus”. A Revelação de Deus na vida de Jesus permite “ver o Pai” e o Espírito que “dá a vida” é o “dom de Deus” (Jo 4,10).
A comissão científica deste Congresso lembra que “a revelação da mensagem de Fátima começa (aparições do Anjo) e termina (visão da Santíssima Trindade) anunciando que Deus tem sobre a humanidade, dilacerada pelos seus erros e pecados, desígnios de misericórdia”.
O Congresso toma como epígrafe, precisamente, a invocação inicial da oração que o Anjo ensinou aos Pastorinhos, “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo…”








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