O compromisso da Igreja com a missão evangelizadora, ao serviço da causa da paz e
da justiça, no discurso de Bento XVI á chegada a São Paulo. O Brasil deverá servir
de berço para propostas eclesiais que poderão dar novo vigor e impulso missionário
ao Continente Latino-americano.A crónica do primeiro dia de estadia do Papa em São
Paulo, e os acontecimentos previstos nesta quinta feira que se concluirá com o encontro
com os jovens.
(10/5/2007) Bento XVI encontra-se em São Paulo onde nesta quarta feira iniciou a
sua viagem apostólica ao Brasil por ocasião da 5ª conferência geral do episcopado
latino-americano e Caraíbas que irá decorrer no santuário de Aparecida, a partir
do próximo domingo dia 13. O Santo Padre, que se encontra no Mosteiro de São
Bento, onde pernoitou, inicia este dia de quinta feira com a celebração da Santa
Missa , efectuando em seguida uma visita de cortesia ao presidente Lula da Silva,
no Palácio dos Bandeirantes. De retorno ao Mosteiro encontra-se com os representantes
de outras Confissões cristãs e de outras religiões. O Papa em seguida almoça com
a nova presidência da CNBB que tomou posse na manhã de terça feira. No final da tarde
o grande momento do dia: o incontro com os jovens brasileiros no Estádio do Pacaembu.O
avião com a bordo Bento XVI aterrara esta quarta feira no aeroporto de Guarulhos em
São Paulo poucos minutos depois das 16h00 . A receber o Santo Padre esteve o
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrava acompanhado pela
sua esposa Marisa Letícia, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, pelo presidente
da Câmara, Arlindo Chinaglia, e o senador José Sarney.. O presidente dirigiu primeiro
a palavra ao Santo Padre .No seu discurso falou sobre a desintegração da família e
sobre a questão da juventude. "Estou duplamente honrado, como cristão e como Presidente
da República, por sua primeira visita ao País. O Brasil o espera de braços abertos",
destacou Lula no seu discurso. O presidente brasileiro agradeceu ao papa a escolha
do Brasil para ser o país sede da V Conferência do Episcopado Latino-americano e caribenho,
que será realizada em Aparecida do Norte. Lula afirmou que a Igreja Católica "está
ao lado de valores que permeiam os valores da sociedade brasileira" e que compartilha
da preocupação do papa em fortalecer a vida familiar. "Todos os povos sabem que a
palavra de Bento XVI será pela paz, concórdia e solidariedade", disse Lula. No final
do discurso, Lula desejou a Bento XVI uma visita repleta de muita paz e afirmou: “Sua
visita ao Brasil é uma bênção”. Respondendo á saudação que lhe foi dirigida pelo
Presidente Lula da Silva, á sua chegada ao aeroporto internacional de São Paulo-Guarulhos,
Bento XVI agradeceu antes de mais pelo amável acolhimento que lhe foi reservado, e
saudou fraternalmente os “Irmãos no Episcopado que em nome da Igreja que está no Brasil,
se deslocaram ao aeroporto, e igualmente os sacerdotes, os religiosos e as religiosas,
os seminaristas e os leigos comprometidos com a obra de evangelização da Igreja e
com o testemunho de uma vida autenticamente cristã. E finalmente enviou a sua afectuosa
saudação a todos os brasileiros sem distinção, homens e mulheres, famílias, anciãos,
enfermos, jovens e crianças. Bento XVI explicou depois o motivo pelo qual o Brasil
ocupa um lugar muito especial no coração do Papa: “ não somente porque
nasceu cristão e possui hoje o mais alto número de católicos, mas sobretudo porque
é uma nação rica de potencialidades com uma presença eclesial que é motivo de alegria
e esperança para toda a Igreja. A minha visita, Senhor Presidente, tem um objectivo
que ultrapassa as fronteiras nacionais: venho para presidir, em Aparecida, a sessão
de abertura da V (Quinta) Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho.
Por uma providencial manifestação da bondade do Criador, este País deverá servir de
berço para as propostas eclesiais que, Deus queira, poderão dar um novo vigor e impulso
missionário a este Continente.
Nesta área geográfica os católicos são a
maioria: isto significa que eles devem contribuir de modo particular ao serviço do
bem comum desta Nação. A solidariedade será, sem dúvida, palavra cheia de conteúdo
quando as forças vivas da sociedade, cada qual dentro do seu próprio âmbito, se empenharem
seriamente para construir um futuro de paz e de esperança para todos. A Igreja
Católica - como coloquei em evidência na Encíclica Deus caritas est - "transformada
pela força do Espírito é chamada para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que
quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho" (cf. 19). Daí o seu profundo
compromisso com a missão evangelizadora, a serviço da causa da paz e da justiça. A
decisão, portanto, de realizar uma Conferência essencialmente missionária, bem reflete
a preocupação do episcopado, e não menos a minha, de procurar caminhos adequados para
que, em Jesus Cristo, os "nossos povos tenham vida", como reza o tema da Conferência.
Com esses sentimentos, quero olhar para além das fronteiras deste País e saudar todos
os povos da América Latina e do Caribe desejando, com as palavras do Apóstolo, "Que
a paz esteja com todos vós que estais em Cristo" (1Pt 5,14). No seu discurso o
Papa fez depois referência á alma do povo brasileiro, bem como de toda a América Latina
que conserva valores radicalmente cristãos que jamais serão cancelados; e manifestou
a certeza de que em Aparecida, durante a Conferência Geral do Episcopado, será reforçada
tal identidade, ao promover o respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu
natural declínio, como exigência própria da natureza humana; fará também da promoção
da pessoa humana o eixo da solidariedade, especialmente com os pobres e desamparados.
E Bento XVI salientou a este propósito: A Igreja quer
apenas indicar os valores morais de cada situação e formar os cidadãos para que possam
decidir consciente e livremente; neste sentido, não deixará de insistir no empenho
que deverá ser dado para assegurar o fortalecimento da família - como célula mãe da
sociedade; da juventude - cuja formação constitui um factor decisivo para o futuro
de uma Nação - e, finalmente, mas não por último, defendendo e promovendo os valores
subjacentes em todos os segmentos da sociedade, especialmente dos povos indígenas.
Com estes auspícios, ao renovar os meus agradecimentos pela calorosa acolhida que,
como Sucessor de Pedro, sou objecto, invoco a protecção materna de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida, evocada também como Nuestra Señora de Guadalupe, Padroeira das
Américas, para que proteja e inspire os governantes na árdua tarefa de serem promotores
do bem comum, reforçando os laços de fraternidade cristã para o bem de todos os seus
cidadãos. Deus abençoe a América Latina! Deus abençoe o Brasil! Muito obrigado."
Terminada
a cerimónia de boas-vindas, Bento XVI tomou o helicóptero que o levou até ao Campo
de Marte onde foi recebido por cerca de 160 crianças da Pastoral da Criança, ligada
à Arquidiocese de São Paulo . Com idade entre 3 e 7 anos, as crianças moram em
comunidades carentes da periferia da Grande São Paulo. O Santo Padre recebeu a Chave
da Cidade das mãos do prefeito Gilberto Kassab, acompanhado do presidente da Câmara
Municipal, o vereador Antonio Carlos Rodrigues, que entregou a Bento XVI o título
de cidadão honorário de São Paulo. Em seguida, o papa a bordo do papamóvel dirigiu-se
para o Mosteiro de São Bento. Milhares de pessoas acompanharam a passagem do Santo
Padre pelas ruas do centro de São Paulo debaixo de uma chuva miudinha. Do balcão do
mosteiro, visivelmente emocionado e feliz o Papa fez uma saudação aos fiéis ali presentes
e concedeu a todos a sua bênção apostólica.