"A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja", tema da próxima assembleia geral
do Sinodo dos Bispos. Em conferência de imprensa apresentados os "Lineamenta"
(27/4/2007) “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” é o tema da próxima
Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai ter lugar no Vaticano, de
5 a 26 de Outubro do próximo ano. Em vista da preparação desta assembleia sinodal,
foi agora divulgado o texto dos chamados “Lineamenta”, visando suscitar a nível da
Igreja universal toda uma reflexão e sensibilização sobre as questões ligadas ao tema
deste Sínodo. Apresentando, nesta sexta-feira, em conferência de imprensa, no
Vaticano, este documento preparatório, o arcebispo D. Nikola Eterovic, Secretário
Geral do Sínodo, explicou a escolha do tema, proposto por um grande número de bispos:
a mais de 40 anos da Constituição Dogmática “Dei Verbum” (1965) do Concílio Vaticano
II, é oportuno identificar, a nível da Igreja universal, os resultados positivos suscitados
no Povo de Deus por aquele importante Documento conciliar, especialmente no que diz
respeito à renovação bíblica no âmbito litúrgico, teológico e catequístico. Segundo
os Lineamenta, não obstante tantos progressos realizados, subsistem ainda aspectos
problemáticos em aberto, como por exemplo fenómenos de ignorância sobre a doutrina
da Revelação e da Palavra de Deus, um notável alheamento de muitos cristãos em relação
à Bíblia, permanente risco de um uso não correcto das Escrituras, etc. Aprofundando
as razões doutrinais, “deseja-se estender e reforçar a prática do encontro com a Palavra
como fonte de vida nos diferentes âmbitos da experiência, propondo por isso aos cristãos
e a cada pessoa de boa vontade vias justas e acessíveis para poder escutar a Deus
e falar com Ele”.
O texto dos Lineamenta contém três capítulos: I – Revelação,
Palavra de Deus, Igreja. II – A Palavra de Deus na vida da Igreja. III – A Palavra
de Deus na Missão da Igreja.
O capítulo I, o mais extenso, apresenta a
rica realidade da Palavra de Deus, a partir do primado da revelação divina. Na tentativa
de evitar possíveis confusões ou reduções, delinearam-se 6 diferentes significados
complementares todos eles directamente envolvidos quando se fala de “Palavra de Deus”.
1) Antes de mais, o Verbo eterno de Deus, segunda pessoa da Santíssima Trindade, o
Filho do Pai, instrumento de comunicação tanto no interior como no exterior da Trindade.
2) Daí resulta, como consequência, o facto de o mundo criado narrar a glória de Deus.
É da Palavra (com maiúscula) que o homem recebe a palavra para entrar em diálogo com
Deus e com a sua criação. 3) A Palavra de Deus na sua plenitude é Jesus Cristo, o
Verbo incarnado. É Ele a Palavra por excelência, a última e definitiva Palavra de
Deus. 4) Em vista do acontecimento que é Jesus Cristo, Deus Pai falou, desde os tempos
antigos, por meio dos Profetas e, depois, dos seus Apóstolos. A Palavra de Deus ressoa
também no anúncio dos Profetas e dos Apóstolos. 5) A Palavra de Deus dos Profetas
e de Jesus Cristo encontra-se fixada, por inspiração divina, nos livros da Sagrada
Escritura. 6) A Palavra de Deus mantém, em todo o caso, a sua vida e dinamismo na
pregação viva da Igreja e nas múltiplas formas de evangelização.
O II
Capítulo è dedicado à relação entre a Igreja e a Palavra de Deus. A Igreja é continuamente
regenerada pela Palavra de Deus, colocando-se em “religiosa escuta” da mesma, descobrindo
com deslumbramento a sua verdade e actualidade e acolhendo-a com fé humilde e confiante,
para a proclamar com fidelidade e vigor. A Igreja alimenta-se da Palavra de Deus,
de vários modos. 1) Na liturgia e na oração. Deus fala de modo muito especial na acção
litúrgica, assim como na oração pessoal e comunitária. A Sagrada Escritura, mais do
que um livro, é uma realidade litúrgica e profética, uma proclamação e um testemunho
do Espírito Santo sobre o acontecimento de Cristo. 2) Depois também na evangelização
e na catequese. É a Palavra de Deus que revitaliza a obra da evangelização e da catequese.
Acolhendo a Palavra de Deus como o seu mais precioso tesouro, a Igreja está consciente
do seu dever de a transmitir a todos. Neste sentido, há que valorizar todos as mediações
da Palavra de Deus: Leccionários, Liturgia das Horas, Catecismos, celebrações da Palavra.
3) Existe depois também a exegese e a teologia. Como recorda a “Dei Verbum”: “Seja
o estudo das Sagradas Páginas como que a alma da Sagrada Teologia”. Particular atenção
merece a relação entre a Revelação de Deus e o pensamento dos homens contemporâneos,
para reflectir sobre as actuais tendências antropológicas, sobre a relação fé-razão,
sobre a construção de um mundo mais justo. 4) Finalmente, a vida do crente. Conhecer,
rezar, viver a Palavra de Deus é a suprema vocação do cristão. Assume aqui especial
importância a “lectio divina”, com os seus vários momentos. Para tal, requer-se especial
preparação dos padres, religiosos e outros agentes de pastoral.
É no III
Capítulo dos Lineamenta que se reflecte sobre a Palavra de deus na missão da Igreja.
A Igreja tem a missão de proclamar Cristo, a Palavra de Deus feita carne. Há que assegurar
uma autêntica interpretação das Escrituras. Os requisitos necessários para uma evangelização
eficaz são: a confiança na força transformadora da Palavra no coração de quem a escuta;
o anúncio acompanhado do testemunho como fonte de conversão. Sempre com a atitude
apropriada: espírito de pobreza , humildade, coerência, franqueza, coragem, cordialidade.
É urgente promover uma pastoral robusta e credível da palavra de Deus. A Palavra de
Deus tem uma valência ecuménica excepcional, assim como uma grande importância no
diálogo com as religiões não cristãs. É particularmente importante nas relações dos
cristãos com o Povo Judeu. Embora sublinhando que o cristianismo não é a religião
do livro – mas sim da Palavra de Deus feita carne no Senhor Jesus Cristo – ainda assim
a Bíblia tem notável importância no diálogo com as religiões não cristãs que tem os
seus próprios livros sagrados. Evitando qualquer relativismo ou sincretismo, o diálogo
inter-religioso deverá preocupar-se com um conhecimento positivo das religiões não
cristãs e das respectivas culturas, par discernir as sementes do Verbo nelas contidas.
Nunca será demais sublinhar que a fé em Deus deve superar toda e qualquer forma de
violência, tornando-se o coração da promoção da justiça e da paz no mundo inteiro.