Cidade do Vaticano, 19 abr (RV) - Eram 17h50 (hora de Roma) de dois anos atrás:
da chaminé da Capela Sistina saía uma fumaça de cor incerta. Depois, improvisamente,
se tornou decididamente branca. O papa foi eleito! Iniciou assim a aventura de Bento
XVI, chamado a suceder João Paulo II, após quase 27 anos de pontificado do papa polonês.
Papa
Ratzinger, o 264º Sucessor de Pedro e 8º papa alemão na história da Igreja, em dois
anos de ministério petrino encontrou 7,5 milhões de pessoas, fez três viagens em solo
italiano e cinco viagens internacionais. Entre os momentos históricos destacam-se
a visita a Auschwitz, Polônia, e a visita à Mesquita Azul, Turquia.
Escreveu
uma encíclica _ "Deus caritas est" _, uma exortação apostólica sobre a Eucaristia,
"Sacramentum caritatis", e um livro, "Jesus de Nazaré", nas livrarias desde esta segunda-feira.
O jovem teólogo Joseph Ratzinger desejava servir ao Senhor sendo professor.
A oração do humilde penetra as nuvens: torna-se catequista do mundo. Recordemos suas
primeiras palavras como papa: "Caros irmãos e irmãs, após o grande papa João Paulo
II, os senhores cardeais elegeram a mim, um simples e humilde trabalhador na vinha
do Senhor…"
A simplicidade é uma das notas dominantes de Bento XVI: a sua palavra
é clara, serena, profunda, toca o coração e mexe com as consciências. Humilde e forte
ao mesmo tempo. Fala de sua fragilidade, pede que se reze por ele para que não fuja
por medo diante dos lobos. O seu gesto é sóbrio: quem resplandece é Cristo. A fé _
explica _ não é moralismo, não é proibicionismo, mas sim é tornar-se amigos de Jesus,
é encontrar de modo vivo e concreto o Deus crucificado que quer salvar todos, também
os inimigos. "O amor pelo inimigo constitui o núcleo da "revolução cristã", é a verdadeira
revolução do amor".
"Eis a novidade do Evangelho, que muda o mundo sem fazer
barulho. Eis o heroísmo dos "pequenos", que acreditam no amor de Deus e o defendem
mesmo à custa da vida" _ disse no Angelus de 18 de fevereiro passado.
Bento
XVI investe no caráter racional da fé, convidando também os não-crentes ao grande
diálogo da verdade: o Deus de Jesus é tão infinitamente bom, tão pequeno e tão grande,
que é realmente convincente: "Se olharmos para as grandes opções, a opção cristã é
também hoje a mais racional e a mais humana. E podemos elaborar com confiança uma
filosofia, uma visão do mundo que se baseia nessa prioridade da razão, nessa confiança
de que a Razão criadora é amor e que esse amor é Deus" _ disse no encontro com os
jovens, na Praça São Pedro, no dia 6 de abril de 2006.
O importante discurso
na Universidade de Regensburg, na Alemanha, mal interpretado, era, na realidade, voltado,
sobretudo, para o Ocidente: um convite a alargar os horizontes da razão. Reduzidos
pela cultura moderna apenas àquilo que é verificável na experimentação e, assim, incapaz
de dialogar com as culturas e as religiões. O papa exorta a encontrar o gosto pela
reflexão e, dirigindo-se aos jovens, a interrogar-se sobre Deus, a buscar a sua Face. " Caros
jovens amigos _ como hoje é importante justamente isto: não deixar-se simplesmente
levar-se aqui e acolá na vida; não contentar-se daquilo que todos pensam e dizem e
fazem. Escrutar Deus, buscar Deus. Não deixar que a pergunta sobre Deus se desfaça
em nossas almas. O desejo daquilo que é maior. O desejo de conhecê-Lo _ conhecer a
Sua Face…" _ disse na santa missa do Domingo de Ramos, na última Semana Santa.
A
Igreja _ afirma _ não tem interesses e não busca privilégios; quer somente anunciar
Cristo e defender o homem, defender os pequenos da prepotência dos fortes. Daí a enunciação
dos princípios não negociáveis: o direito à vida para todos, à família, à liberdade
de educação. Princípios não confessionais porque pertencem à humanidade.
Sobre
tais questões _ adverte _ "a consciência, por vezes sucumbida pelos meios de pressão
coletiva, não demonstra suficiente vigilância". Explica as conseqüências devastadoras
do relativismo, criticando o absolutismo dogmático daqueles laicistas que querem tolher
da Igreja o direito à livre expressão. Denuncia o escândalo da pobreza e da fome,
as injustiças criadas pela globalização, o neocolonialismo dos países ricos, o tráfico
de armas que cresce na indiferença quase geral.
Dedica atenção especial à África,
à Terra Santa, e olha também com atenção para a China e para os desafios e as esperanças
no continente americano, ao tempo em que ressalta o risco que a Europa, renegando
os valores cristãos, renegue a si mesma. Vê o mal no mundo que _ diz ele _, "não obstante
todos os progressos feitos…, não foi vencido; aliás, o seu poder parece reforçar-se
e são logo desmascaradas todas as tentativas de escondê-lo". O sofrimento é um mistério
que Deus explicou com a Cruz do Filho.
"Cristo, sofrendo por todos nós, deu
um novo sentido ao sofrimento, introduziu-o numa nova dimensão, numa nova ordem: a
do amor… A paixão de Cristo na Cruz deu um sentido radicalmente novo ao sofrimento,
transformou-o interiormente… É o sofrimento que arde e consome o mal com a chama do
amor… Todo sofrimento humano, toda dor, toda enfermidade contém em si uma promessa
de salvação" _ disse no encontro com a cúria romana, no dia 22 de dezembro de 2005.
O
papa trabalha intensamente pelo ecumenismo e o diálogo com as outras religiões: em
particular com o Islã _ diz _, é uma necessidade vital. O seu pensamento é ordenado
e linear: exorta os católicos à coerência, a não separarem Cristo e a Igreja, evitando
as falsidades dos compromissos e do recurso ao chamado mal menor. Convida-os a redescobrirem
o silêncio, a meditação da Bíblia, a oração, a adoração eucarística, para além de
todo vazio ativismo.
"A oração não é um acessório, uma opção, mas é questão
de vida ou de morte. De fato, somente quem reza, quem se entrega a Deus com amor filial,
pode entrar na vida eterna, que é o próprio Deus" _ disse no Angelus de 4 de março
deste ano.
A fé não é um peso opressor: pelo contrário, depender de Deus torna
verdadeiramente livres e fazer a sua vontade "doa asas para voar para o alto" e tira
o nosso eu do isolamento para fazê-lo tornar-se "um em Cristo". "Eu, mas não mais
eu": essa é a fórmula da novidade cristã que testemunha ao mundo a alegria e a beleza
da fé: "Deus é amor e o seu amor é o segredo da nossa felicidade" _ diz o Santo Padre.
Bento XVI transmite paz, porque vai à fonte da paz: Deus, Pai bom, que jamais nos
abandona, nem mesmo nas noites escuras da vida.
"Este nosso mundo é um mundo
de medos: medo da miséria e das pobrezas, dos sofrimentos, medo da solidão, medo da
morte. Podemos cair, mas no final caímos nas mãos de Deus. E as mãos de Deus são boas
mãos" – disse na visita à Paróquia de Santa Maria Consoladora, em Roma, no dia 18
de dezembro de 2005. (RL)