Não existe vida cristã sem coerência; o fim do homem é tornar-se semelhante a Deus:
Bento XVI na Audiência geral com um apelo á reconciliação em Angola. O Papa "espera
uma autêntica vida em democracia", e recorda a obrigação de privilegiar os pobres.
(18/4/2007) Na audiência geral desta quarta feira Bento XVI repropôs a sua análise
acerca do enxerto da fé cristã na filosofia clássica e grega em particular. E voltou
a afirmar que o fim ultimo do homem é tornar-se semelhante a Deus. A Audiência
,muito concorrida ( cerca de 45.000 pessoas presentes na Praça de São Pedro) efectuou-se
na véspera do segundo aniversário da eleição de Bento XVI ao ministério de supremo
pastor. À contemplação de Deus chega-se através da prática da virtude, e na fé
o requisito moral reveste tanta importância quanto aquela intelectual. O Papa
explicando aos fiéis a figura de Clemente Alexandrino afirmou que a “assimilação
a Deus e a contemplação dele não podem ser atingidas com o único conhecimento racional:
para isto são necessárias também as virtudes. Por isso – prosseguiu Bento XVI
– as boas obras devem acompanhar o conhecimento intelectual como a sombra segue o
corpo; nunca estão separadas daquela, e por outro lado a verdadeira gnose não pode
coexistir com as más obras. Para Clemente Alexandrino duas virtudes constituem em
particular a alma do verdadeiro gnóstico: a liberdade das paixões e o amor que assegura
a união intima com Deus e a contemplação O amor – prosseguiu o Papa – dá a paz
perfeita e coloca o verdadeiro gnóstico na condição de enfrentar os maiores sacrifícios,
também o sacrifício supremo, e fá-lo subir de degrau em degrau até ao vértice das
virtudes. Assim, o ideal ético da filosofia antiga, isto é a libertação das paixões
é redefinido e conjugado por Clemente Alexandrino com o amor, no processo incessante
de assimilação a Deus, que representa o itinerário de conhecimento da verdadeira gnose.
Na
saudação em língua portuguesa, durante a audiência geral Bento XVI pediu que todos
os angolanos se empenhem "na obra de reconciliação dos corações", admitindo que ainda
são muitos os que "sangram com as feridas da guerra". O Papa deixou votos de que
Angola seja capaz de "consolidar a paz assinada há cinco anos com a promessa de dar
a voz ao povo e assim instaurar uma autêntica vida em democracia".
Saúdo com
amizade e gratidão o grupo de Belo Horizonte e demais peregrinos de língua portuguesa
aqui presentes: Que Deus vos seja propício e Se compraza nesta vossa romagem até à
Sé de Pedro. Há quatrocentos anos, o Papa Paulo V tudo predispunha para uma digna
recepção da embaixada do Reino do Congo – hoje Angola – guiada pelo primo do rei Álvaro
II, Dom António Emanuel ne Vunda, que as crónicas romanas cognominaram o «Negrita»,
o primeiro Embaixador negro de um reino cristão de África. O desejado encontro teve
lugar na noite de 5 de Janeiro de 1608, nos palácios do Vaticano, com o meu Predecessor
que não hesitou em vir pessoalmente confortá-lo, detendo-se à cabeceira do leito onde
jazia, gravemente doente, este nobre filho cristão do Congo, cuja vida e reino encomendou
à protecção do Sucessor de Pedro. Na linha desta significativa e emblemática ocorrência,
em que o povo de Angola se espelha, invoco a benevolência de Deus sobre a Nação inteira
para que cada um contribua para consolidar a paz assinada há cinco anos com a promessa
de dar a voz ao povo e assim instaurar uma autêntica vida em democracia. A todos peço
perseverança na obra de reconciliação dos corações que ainda sangram com as feridas
da guerra; alegro-me com a obra de reconstrução em acto e recordo às autoridades religiosas
e civis a obrigação que têm de privilegiar os pobres. Deus abençoe Angola!