Defesa da vida e preocupação com os problemas sociais marcam abertura dos trabalhos
da assembleia da CEP que decorrem em Fátima até dia 19 de Abril.
(16/4/2007) O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga,
criticou hoje a legislação aprovada na sequência do referendo ao aborto, afirmando
que se trata "de uma lei injusta a que, por isso, não podemos dar o nosso apoio".
"O enquadramento jurídico da lei não se limita a despenalizar o aborto, mas faz
desta prática um direito, uma conduta legal e, por isso, passível da colaboração activa
do Estado", considerou o Arcebispo de Braga, no início dos trabalhos da assembleia
plenária da CEP, que se prolongam até ao próximo dia 19, em Fátima. Lembrando
que "em democracia não há leis intocáveis e irreversíveis", os Bispos portugueses
lamentam que se tenham gorado "as possibilidades de limitar as injustiças que a lei
encerra", em especial "um sistema de aconselhamento obrigatório". "Na verdade,
caso existissem alternativas válidas, a maioria das mulheres não optaria pelo aborto",
referiu D. Jorge Ortiga. Nesse sentido, a Igreja compromete-se a "responder à banalização
do recurso ao aborto através de uma acção redobrada de todas as comunidades cristãs,
no apoio solidário às mulheres grávidas e às famílias com dificuldades em assumir
a maternidade". Face ao quadro legal aprovado, assegurou o presidente da CEP "a
nossa atitude há-de ser, pois, a de lutar pela formação das consciências e pela mudança
de mentalidades, que limite o mais possível o recurso a esta lei", prometendo estar
atento "ao cumprimento dos (poucos) limites legais à prática do aborto". "Neste
âmbito, não esquecemos a necessidade de garantir o direito fundamental à objecção
de consciência, o qual não pode acarretar para quem o exerce forma alguma de discriminação
ou prejuízo na carreira profissional", alertou ainda. Crise social Na sua
intervenção, D. Jorge Ortiga afirmou que "a sociedade portuguesa está hoje ferida
por problemas sociais que afectam em profundidade uma maioria significativa da população".
O presidente da CEP disse, a este respeito, que "o descontentamento dos jovens
estudantes pode desaguar numa onda crescente de delinquência" e que "o protesto contra
as reformas na Segurança Social insinua perplexidade e dúvidas face ao amanhã". Este
responsável lembrou também que "o desemprego ceifa perspectivas de futuro que nem
uma imaginação acutilante e uma formação profissional conseguem restabelecer", ao
mesmo tempo que se acentuam "as desigualdades no acesso à cultura e ao poder económico".
Falando, depois, dos desafios que se colocam a uma Europa que parece ter perdido
a sua "alma", o Arcebispo de Braga indicou que "sem um posicionamento moral e ético,
sem uma solidariedade efectiva capaz de suscitar uma profunda transformação de modelos
de comportamentos no consumo e na produção, o desenvolvimento integral e sustentável
fica nas meras intenções". "A pessoa continua a ser vista como estatística duma
economia de mercado. Mas é, precisamente, a pessoa, na sua individualidade irrepetível,
a única capaz de oferecer um desenvolvimento sustentável, criador duma distribuição
equitativa das reservas do mundo e duma atenção responsável de todos por cada um",
alertou. Num ano em que ocorre o 40.º Aniversário da Populorum Progressio (Paulo
VI) e o 20.º Aniversário da Sollicitudo Rei Socialis (João Paulo II), a CEP considera
fundamental "dar maior visibilidade" à Doutrina Social da Igreja. Segundo D. Jorge
Ortiga, o melhor modo de comemorar os aniversários destas encíclicas "é levar a Doutrina
Social da Igreja para os espaços de debate público, conscientes da sua verdadeira
originalidade". Assumir a fé O discurso inicial da Assembleia Plenária aludiu
ainda à reflexão delineada pela CEP para o triénio 2005-2008: "transmitir a fé na
sociedade portuguesa". O Arcebispo de Braga afirmou que "a fé deve ser um encontro
com Cristo, motivador de compromissos concretos e assumidos". Nesse sentido, D.
Jorge Ortiga defendeu a necessidade de "um novo paradigma orgânico de evangelização".
"Urge apostar no acolhimento das pessoas que suscite a alegria do primeiro anúncio,
para prosseguir num processo catecumenal de catequese, que venha a desaguar numa pastoral
de aprofundamento. Só assim os cristãos estarão presentes nos mais variados sectores
da sociedade: família, escola, comunicação social, saúde e tantos outros areópagos",
disse. Os Bispos analisarão, neste encontro, os catecismos do 7.º, 8.º e 10.º
anos, que têm vindo a ser reformulados nos últimos anos de acordo com novas propostas
pedagógicas, e os programas da Educação Moral e Religiosa Católica. "A preparação
de manuais ou catecismos é uma tarefa tremendamente complexa. Mais importante, porém,
são as pessoas que os vão usar. Sem catequistas marcados pela fé, na sua dimensão
de conhecimento e experiência quotidianos, os catecismos podem revelar-se estéreis",
assinalou D. Jorge Ortiga. O presidente da CEP criticou, por outro lado, algumas
"interpretações minimalistas" da Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de Bento
XVI. "Alguns órgãos de comunicação social esquecerem o espírito do documento, concentrando-se
em questões meramente acidentais. Importa, pois, que os cristãos mergulhem neste,
como em tantos outros documentos, para adquirir uma formação sólida e esclarecida",
observou. Ecclesia