PIO XII E OS JUDEUS: COMENTÁRIOS DO HISTORIADOR GIAN MARIA VIAN E DO EMBAIXADOR DE
ISRAEL JUNTO À SANTA SÉ, ODED BEN-HUR
Cidade do Vaticano, 13 abr (RV) - Prosseguem os comentários sobre a renúncia
do núncio apostólico em Israel, Dom Antonio Franco, de participar da cerimônia anual
de recordação da Shoah, nos dias 15 e 16 do corrente, no Yad Vashem, o Museu do Holocausto,
em Jerusalém.
O motivo da ausência do núncio na cerimônia é a presença no Memorial,
de uma foto de Pio XII com uma escrita que se refere à posição do papa, considerada
ambígua, na defesa do povo judeu, durante a perseguição nazi-fascista. A modificação
do texto já havia sido solicitada pelo núncio apostólico precedente, Dom Pietro Sambi,
quando essa escrita foi colocada junto à foto no museu, em 2005.
Sobre o doloroso
caso, ouvimos o historiador do Cristianismo e docente da Universidade "La Sapienza",
de Roma, Gian Maria Vian.
P. Prof. Vian, esse texto da discórdia, que está
provocando essas desagradáveis incompreensões nas relações entre Santa Sé e Israel,
apresenta maiores problemas aos fiéis das duas religiões ou somente aos historiadores?
Prof.
Gian Maria Vian:- "Quero acreditar, quero esperar que seja uma questão histórica,
que diga respeito, sobretudo, aos historiadores, e não tanto, como você coloca muito
bem, aos fiéis das duas religiões. Considero que os historiadores devem fazer seu
dever, honestamente, sem preclusões nem preconceitos, reconhecendo, por um lado, que
essa demonização de Pio XII nasce da propaganda soviética nos anos da II Guerra Mundial.
Por outro lado, investigando, sem deformações, aquilo que foi a obra do papa e da
Igreja de Roma durante a II Guerra Mundial, para salvar o maior número possível de
judeus. E creio que esse seja um dado inegável."
A Rádio Vaticano ouviu também
o embaixador de Israel junto à Santa Sé, Oded Ben-Hur: Oded Ben-Hur:-
"Nós defendemos que esse debate difícil, penoso e doloroso, por mais doloroso que
seja, não deve influenciar, não deve ter nenhuma influência sobre os esforços dinâmicos,
sérios e verdadeiros entre Israel e o Estado do Vaticano, que são feitos há 13 anos,
especialmente nos últimos anos, para reforçar as relações e levar à verdadeira reconciliação.
Não podemos esquecer esses passos dramáticos e históricos do papa João Paulo II e
do papa atual, a visita a Colônia, a Auschwitz e assim por diante. Eu diria que, em
nome dessa irmandade, é preciso considerar, é preciso respeitar os sentimentos do
povo judeu. Dezenas de milhares de sobreviventes que vivem ainda hoje, levam consigo
uma verdade que é totalmente diferente daquela que diz o Vaticano. Nós dizemos uma
coisa muito simples: assim que for possível indagar, ver e ler os documentos do Vaticano,
que falam dos anos da guerra, será possível se chegar a um juízo histórico." (RL)