VIA-SACRA DE ONTEM NO COLISEU: BENTO XVI RECORDA QUE O GRANDE PECADO DO HOMEM É A
INSENSIBILIDADE AOS SOFRIMENTOS DOS OUTROS
Cidade do Vaticano, 07 abr (RV) - A Paixão de Jesus permite ver a paixão de
todos os sofredores. Assim se expressou Bento XVI ao término da Via-sacra, no Coliseu,
ontem à noite. As meditações propostas pelo renomado biblista, Mons. Gianfranco Ravasi,
ofereceram um olhar sobre a humanidade ferida de hoje.
Mas o nosso Deus não
é distante _ disse o papa _ se fez carne para estar mais próximo do homem.
O
percurso de Jesus no Calvário nos ensina a ver o sofrimento com o coração. Deus se
fez homem para dar-nos um coração de carne, e despertar em nós, o amor pelos sofredores
e necessitados.
"Seguindo Jesus no caminho da sua Paixão, vemos não somente
a paixão de Jesus, mas vemos todos os sofredores do mundo, e essa é a profunda intenção
da oração da Via-sacra: abrir os nossos corações e ajudar-nos a ver com o coração."
É
uma viagem na dor da Via-sacra, no mal e na morte. Mas Bento XVI quer ensinar que
ao meditá-la, se aprende o paradoxo da dor: vivê-lo com o coração, abre ao amor. E
se a vida nos traz tribulações é ainda Jesus quem socorre o homem.
"O nosso
Deus não é um Deus distante, intocável em sua beatitude: o nosso Deus tem um coração.
Aliás, tem um coração de carne, se fez carne justamente para poder sofrer conosco
e estar conosco em nossos sofrimentos. Fez-se homem, para dar-nos um coração de carne
e para despertar em nós o amor pelos sofredores, pelos necessitados."
As meditações
de Mons. Gianfranco Ravasi deixam entrever nos fatos e nos personagens do caminho
rumo à Cruz, o pecado que endurece o coração do homem. Assim, no beijo de Judas, se
podem reconhecer as "infidelidades", as "apostasias" e os "enganos" de todos os séculos;
em Jesus traído, tantas "pessoas sozinhas, esquecidas, anciãs, doentes" e "estrangeiras";
enquanto Pedro, ao renegar o Mestre, condensa "tantas histórias de infidelidade e
de fraqueza". A sua voz é a voz de muitos de nós, "que a cada dia praticamos pequenas
traições", que nos protegemos "com justificações mesquinhas, deixando-nos possuir
por medos vis".
Sob a pressão da opinião pública, Pilatos encarna uma atitude
que parece dominar em nossos dias, a atitude da indiferença, do desinteresse, da conveniência
pessoal. Por comodismo e para a própria vantagem, não hesita em desprezar a verdade
e a justiça.
O coração de Pilatos, fechado em si mesmo: a sua indiferença é
a de tantos, que leva à morte lenta da verdadeira humanidade e que deixa pouco espaço
à verdade. Como, muitas vezes, fazemos também nós, Pilatos, como álibi, lança a eterna
pergunta típica de todo ceticismo e de todo relativismo ético: "O que é a verdade?"
As
reflexões de Mons. Ravasi induzem cada um a olhar para a própria interioridade, e
o olhar do papa, ao término das estações, se voltaram para o coração do homem, coração
que o pontífice convida a se abrir à solidariedade, para superar aquilo que já nos
primeiros séculos do cristianismo era definido o maior pecado.
"Os Padres da
Igreja consideraram como o maior pecado do mundo pagão a insensibilidade, a dureza
do coração, e amavam a profecia do profeta Ezequiel: "Tirarei de vocês o coração de
pedra e lhes darei um coração de carne." Converter-se a Cristo, tornar-se cristão
significava receber um coração de carne, um coração sensível à paixão e ao sofrimento
dos outros."
Junto ao Santo Padre, que levou a Cruz durante a primeira e a
décima quarta estação, alternaram-se, entre outros, uma jovem congolesa, uma família
romana, um jovem chileno, uma jovem chinesa e dois frades franciscanos da Custódia
da Terra Santa. Suas etnias ofereceram a imagem dos diversos rostos da humanidade,
cujas feridas se encontram todas nas quedas de Jesus sob o peso da Cruz.
Naquelas
quedas encontra-se também a história de todas as pessoas desoladas na alma e infelizes,
ignoradas pelo frenesi e pela distração de quem passa ao lado. Em Cristo curvado sob
a Cruz encontra-se a humanidade doente e frágil.
Junto a Jesus, imaginamos
também todas as mulheres humilhadas e violentadas, aquelas marginalizadas e submetidas
a práticas tribais indignas, as mulheres em crise e sozinhas diante de sua maternidade,
as mães judias e palestinas e as de todas as terras em guerra, as viúvas ou as anciãs
esquecidas por seus filhos…
As mulheres de Jerusalém são o sinal da ternura
e da comoção, ensinam a beleza dos sentimentos, a compaixão que não tem vergonha de
mostrar lágrimas, de fazer uma carícia e de oferecer consolação a quem sofre.
Justamente
aos sofredores dirigiu-se o último pensamento do papa, que pediu orações pelos que
vivem na dor: "Rezemos nesta hora ao Senhor por todos os sofredores do mundo. Rezemos
ao Senhor para que nos dê realmente um coração de carne, nos fala mensageiros de Seu
amor, não somente com palavras, mas com toda a nossa vida." (RL)