BENTO XVI PRESIDE À MISSA DA CEIA DO SENHOR, NA BASÍLICA DE SÃO JOÃO DE LATRÃO
Cidade do Vaticano, 05 abr (RV) - Bento XVI deixou o Vaticano por volta das
17h (hora local) com destino à basílica papal de São João de Latrão _ sede da Diocese
de Roma _ onde presidiu à missa da Ceia do Senhor, com a cerimônia do Lava-pés, que
abre o tríduo pascal.
A basílica de São João de Latrão estava repleta de fiéis
e peregrinos. Partindo da leitura do Livro do Êxodo, que descreve a celebração da
Páscoa de Israel e os seus múltiplos significados, o Santo Padre contextualizou o
sentido da celebração da Páscoa para os cristãos.
"Esta ceia de múltiplos significados
_ disse o Papa na homilia _ Jesus celebrou com os seus na noite antes de sua Paixão.
Baseado nesse contexto (da celebração judaica) devemos compreender a nova Páscoa que
Ele nos doou na Santa Eucaristia."
Bento XVI evidenciou que, na narração dos
evangelistas, existe uma aparente contradição entre o Evangelho de João, por um lado,
e o que é narrado nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Jesus morreu na cruz _
precisou o pontífice _ precisamente no momento em que, no templo, os cordeiros eram
imolados para a Páscoa. A sua morte e o sacrifício dos cordeiros coincidem. Isso significa,
porém, que Ele morreu na vigília da Páscoa e, portanto, não pôde, pessoalmente, celebrar
a ceia pascal.
Segundo os Evangelhos sinóticos, ao invés, a Última Ceia de
Jesus foi uma ceia pascal, em cuja forma tradicional Ele inseriu a novidade do dom
de seu corpo e de seu sangue.
O Papa observou que essa contradição parecia
insolúvel até alguns anos atrás. A descoberta dos escritos de Qumran nos levou a uma
possível solução convincente que, embora ainda não sendo aceita por todos, possui,
todavia, um alto grau de probabilidade. Hoje, podemos dizer _ acrescentou _ que aquilo
que João referiu é historicamente preciso. Jesus, realmente, versou seu sangue na
vigília da Páscoa na hora da imolação dos cordeiros.
Ele, porém, celebrou a
Páscoa com seus discípulos, provavelmente segundo o calendário de Qumran, portanto,
ao menos um dia antes, e a celebrou sem cordeiro, como a comunidade de Qumran, que
não conhecia o templo de Herodes e aguardava o novo templo.
"Jesus, portanto,
celebrou a Páscoa sem cordeiro _ não, não sem cordeiro: no lugar do cordeiro doou
a si próprio, o seu corpo e o seu sangue. Assim, antecipou sua morte de modo coerente
com sua palavra: "Ninguém tira a vida de mim mas eu a dou por mim mesmo!" (Jo 10,
18)
"No momento em que apresentava a seus discípulos o seu corpo e o seu sangue,
Ele dava cumprimento real a essa afirmação. Ele mesmo ofereceu a sua vida. Somente
assim a antiga Páscoa adquiria o seu verdadeiro sentido."
"O seu sangue _ continuou
o papa _ o amor d'Aquele que é, ao mesmo tempo, Filho de Deus e verdadeiro homem,
um de nós, aquele sangue pode salvar. O seu amor, aquele amor no qual Ele se doa livremente
por nós, é aquilo que salva. O gesto nostálgico, de certo modo sem eficácia, que era
a imolação do inocente e imaculado cordeiro, encontrou resposta n'Aquele que, para
nós, se tornou, ao mesmo tempo, Cordeiro e Templo."
"Peçamos ao Senhor que
nos ajude a compreender sempre mais profundamente esse mistério maravilhoso, a amar
sempre mais esse mistério e nele amar sempre mais o próprio Senhor. Peçamos que, com
a santa Comunhão, nos atraia sempre mais a Ele mesmo. Peçamos que nos ajude a não
reservar para nós mesmos a nossa vida, mas a doá-la a Ele e, assim, trabalhar junto
a Ele, para que os homens encontrem a vida _ a vida verdadeira que pode vir somente
d'Aquele que é, Ele mesmo, o Caminho, a Verdade e a Vida." (RL)