O simbolismo dos paramentos que o padre reveste nas celebrações litúrgicas ilustrado
pelo Papa na Missa crismal, desta Quinta-feira Santa.
(5/4/2007) Sem amor, uma pessoa é escura por dentro. As trevas externas de que fala
o Evangelho são reflexo da cegueira interna do coração. Só o amor de Deus pode tornar
“cândidas as nossas vestes sujas”. Palavras de Bento XVI nesta Quinta-Feira Santa
de manhã, na basílica de São Pedro, na homilia da Missa Crismal, com os cardeais,
bispos e padres presentes em Roma.
Quando nos dispomos a actuar na Liturgia,
“in persona Christi” (em nome, “na pessoa” de Cristo) – observou o Papa dirigindo-se
à numerosa assembleia de padres e bispos – tomamos consciência de estarmos muito afastados
d’Ele. Quanta sujidade na nossa vida! Só Ele nos pode dar a veste de festa, tornar-nos
dignos de presidir a esta mesa, de estar ao seu serviço”:
Falando do “amor
de Cristo crucificado”, Bento XVI sublinhou que “é este amor que torna cândidas as
nossas vestes sujas, que torna autêntico e iluminado o nosso espírito obscurecido;
que, não obstante todas as nossas trevas, nos transforma em “luz no Senhor”. Ao vestir
a alva (para a celebração litúrgica) deveríamos recordar-nos: Ele sofreu também por
mim. E é só porque o seu amor é maior do que todos os meus pecados que eu posso fazer
as suas vezes e ser testemunha da sua luz”.
Numa homilia de elevada densidade
espiritual, iniciada com uma citação do escritor russo Leão Tolstoi, Bento XVI explicou
que como no baptismo nos é dada uma veste nova, uma permuta de destino, uma nova condição
existencial com Cristo, assim também no sacerdócio se realiza uma mudança, uma troca.
Na administração dos sacramentos o sacerdote age e fala “in persona Christi”. Nos
sagrados mistérios o padre não representa a si próprio e não fala exprimindo-se a
si mesmo, mas fala por Outro – por Cristo.
A Igreja torna visível, perceptível
mesmo externamente, esta realidade das “novas vestes” através do gesto de nos revestirmos
com os paramentos litúrgicos. Neste gesto exterior a Igreja quer tornar evidente também
para nós próprios o acontecimento interior e a tarefa que nos é confiada: revestir-nos
de Cristo, darmo-nos a Ele como Ele se deu a nós. Bem para além de um facto exterior,
revestir os paramentos deve tornar claramente visível aos presentes que estamos ali
na pessoa de um Outro.
“Agora que nos dispomos à celebração da Missa
– recordou o Papa aos bispos e padres presentes – deveríamos perguntarmo-nos se revestimos
a veste do amor. Peçamos ao Senhor que afaste do nosso íntimo toda e qualquer hostilidade,
qualquer ideia de auto-suficiência para nos revestir verdadeiramente com a veste do
amor, para sermos pessoas luminosas e não pertencentes às trevas. É de Cristo
que devemos aprender a mansidão e a humildade, a humildade de Deus que se mostra no
seu ser homem – concluiu Bento XVI.