O "perfume" da fé, esperança e caridade de João Paulo II difundiu-se por toda a Igreja
e por toda a terra
(2/4/2007) Como com o perfume usado por Maria de Betânia para ungir Jesus, assim
também “o perfume” de João Paulo II “se difundiu por toda a casa”, isto é, em toda
a Igreja… e chegou a todas as regiões do mundo: palavras vibrantes de Bento XVI, comentando,
na Missa celebrada na Praça de São Pedro, o Evangelho da liturgia desta segunda-feira
da Semana Santa. O Papa começou por observar que com esta celebração no segundo
aniversário da morte do Papa Wojtyla se deseja “antes de mais renovar a Deus a nossa
acção de graças por no-lo ter dado durante 27 anos como pai e seguro guia na fé, zeloso
pastor e corajoso profeta de esperança, infatigável testemunha e apaixonado servidor
do amor de Deus”. Detendo-se depois a comentar o texto do quarto Evangelho que
a Igreja proclama nesta segunda-feira, Bento XVI sublinhou que este “confere um intenso
clima pascal à nossa meditação: a cena de Betânia é prelúdio à morte de Jesus, no
sinal da unção que Maria realizou em homenagem ao Mestre e que Ele aceitou em previsão
da sua sepultura. Mas é também anúncio da ressurreição mediante a presença - em pessoa
- de Lázaro, regressado à vida, testemunha eloquente do poder de Cristo sobre a morte”.
Esta passagem do Evangelho põe diante dos nossos olhos – sublinhou o Papa – “um
gesto que ainda hoje fala de modo particular aos nossos corações: Maria de Betânia
a altura, “tomou uma libra de perfume de nardo verdadeiro de alto preço ungiu os pés
de Jesus e enxugou-lhos com os cabelos. E a casa encheu-se com o cheiro do perfume”.
“É um daqueles pormenores da vida de Jesus que S. João recolheu na memória do seu
coração e que contêm uma inexaurível carga expressiva, (porque) fala do amor por Cristo,
um amor super-abundante, pródigo. Um facto que, sintomaticamente, escandalizou Judas
Iscariotes: a lógica do amor entra em conflito com a lógica do lucro”. “Para nós,
aqui reunidos na recordação do meu venerado Predecessor – observou ainda Bento XVI
– o gesto da unção de Maria de Betânia está cheio de ecos e sugestões espirituais.
Evoca o luminoso testemunho que João Paulo II ofereceu de um amor por Cristo sem reservas
e sem cálculos”. O perfume do seu amor encheu toda a casa, isto é, toda
Igreja. Disso beneficiámos, sem dúvida, nós que lhe estávamos mais próximos, e por
isso damos graças a Deus, mas disso puderam usufruir também todos os que o conheceram
de longe, porque o amor do Papa Wojtyla por Cristo transvazou, poderíamos dizer, para
todos os cantos do mundo, tão forte e intenso era ele. O Papa evocou, neste contexto,
“a estima, o respeito e o afecto que crentes e não-crentes lhe exprimiram por ocasião
da sua morte”. E recordou um comentário de Santo Agostinho, que bem se pode aplicar
ao caso de João Paulo II. Observava o Santo de Hipona: “A casa encheu-se de perfume,
isto é, o mundo encheu-se de boa fama. O bom odor é a boa fama… O nome do Senhor é
louvado por mérito dos bons cristãos”. É mesmo assim: o intenso e frutuoso ministério
pastoral – e mais ainda o calvário da agonia e a serena morte do nosso amado Papa,
deram a conhecer aos homens do nosso tempo que Jesus Cristo era verdadeira o seu tudo.
Especialmente com o lento mas implacável progredir da doença, que a pouco e pouco
o despojou de tudo, a sua existência tornou-se inteiramente uma oferta a Cristo, anúncio
vivente da sua paixão, na esperança plena de fé na ressurreição. “Como o seu divino
Mestre – observou Bento XVI, referindo-se ao seu “amado predecessor” – ele viveu em
oração a sua agonia. No último dia de vida, vigília do domingo da Divina Misericórdia,
pediu que lhe lessem o Evangelho de João. Com a ajuda das pessoas que o assistiam,
quis tomar parte em todas as orações quotidianas e na Liturgia das Horas, fazer a
adoração e a meditação. Morreu, rezando.”
O perfume da fé, da esperança
e da caridade do Papa encheu a sua casa, encheu a Praça de São Pedro, encheu a Igreja
e propagou-se ao mundo inteiro. O que aconteceu depois da sua morte foi, para quem
crê, efeito daquele perfume que a todos alcançou, próximos e distantes, e atraiu-os
a um homem que Deus tinha progressivamente conformado com o seu Cristo”. Bento
XVI concluiu a homilia da Missa celebrada na tarde desta segunda-feira, na Praça de
São Pedro, no segundo aniversário da “partida deste mundo” do seu predecessor, referindo
a primeira leitura – do Livro do profeta Isaías, do primeiro canto do Servo do Senhor
“Eis o Meu servo, a quem eu protejo, o Meu eleito, enlevo da Minha alma. Sobre ele
fiz pousar o Meu espírito, para levar a justiça às nações…” "Servo de Deus:
foi-o ele e assim o designamos agora na Igreja, ao mesmo tempo que avança de modo
expedito o seu processo de beatificação… Servo de Deus: um título particularmente
apropriado ao seu caso. O Senhor chamou-o ao seu serviço no caminho do sacerdócio
e foi-lhe abrindo horizontes cada vez mais amplos, da sua diocese até à Igreja universal."