BENTO XVI: OS MITOS DO RELATIVISMO ÉTICO DE ONTEM E DE HOJE SÃO CAMUFLAGENS DIABÓLICAS
PARA DESVIAR DA VERDADE DO EVANGELHO
Cidade do Vaticano, 21 mar (RV) - Em tempos nos quais ética e religião são
esvaziados de sentido, a lição dos antigos apologetas cristãos _ que defendiam o Evangelho
dos mitos pagãos e das modas do tempo _ retorna com grande atualidade. Foi o que rebateu
Bento XVI, esta manhã, diante dos 25 mil fiéis, peregrinos e turistas presentes na
Praça São Pedro, para a Audiência Geral.
O papa dedicou sua catequese à figura
do primeiro apologeta cristão _ São Justino _ e depois, concluiu com um apelo em favor
dos doentes de tuberculose, cujo dia internacional será celebrado no próximo sábado,
dia 24.
"Cristo afirmou ser a verdade, não a tradição." Pelo contrário, os
mitos ou as modas que se sucedem nas diversas épocas, se substanciam de ritos artificiosos,
que nada têm a ver com o Evangelho, aliás, se desviam dele. Isso acontecia dois mil
anos atrás _ quando nos primórdios do Cristianismo, uma categoria de escritores se
encarregou de defender princípios e valores _ e acontece também hoje, uma vez que,
aqueles mesmos princípios e valores são alvejados pelo relativismo ético.
Os
escritos dos apologetas como São Justino _ explicou o papa _ tinham dois objetivos:
defender o Cristianismo nascente "das graves acusações de pagãos e judeus" e "expor
os conteúdos da fé, numa linguagem e com categorias de pensamento compreensíveis aos
destinatários". O adversário, para todos, era o paganismo.
"De fato, os cristãos
rejeitaram, taxativamente, todo e qualquer compromisso com a religião pagã. Consideravam-na
idolatria, a custo de, por isso, serem taxados de "incrédulos" e "ateus". Justino,
em particular, especialmente em sua primeira Apologia, fez uma crítica implacável
à religião pagã e seus mitos, considerados por ele, como diabólica "camuflagens" no
caminho da verdade."
O paganismo foi rejeitado com seu conjunto de falsidades,
mas não foi assim com a filosofia grega, "terreno privilegiado" para o encontro com
a fé cristã, da qual Justino se serviria, após "um longo itinerário". Antigo Testamento
e pensamento grego _ afirmou Bento XVI _ são as duas estradas que conduzem a Cristo
e ao Logos, isto é, Cristo como Verbo de verdade. Verdade que, fugindo da religião
pagã sobre o mito, condena depois, essa mesma religião, observou o pontífice, a um
"ocaso" inevitável.
"Esse ocaso fluía como conseqüência lógica da separação
da religião _ reduzida a um artificioso conjunto de cerimônias, convenções e tradições
_ da verdade do ser. Justino _ e com ele os outros apologistas _ selou a nítida tomada
de posição da fé cristã pelo Deus dos filósofos contra os falsos deuses da religião
pagã. Era a escolha pela verdade do ser contra o mito da tradição."
"Numa época
como a nossa, marcada pelo relativismo no debate sobre valores e sobre religião, bem
como no diálogo inter-religioso, essa é uma lição que não deve ser esquecida. Para
tal fim proponho a vocês _ e assim concluo _ as últimas palavras do misterioso ancião,
encontrado pelo filósofo Justino à beira-mar: "Em primeiro lugar, peça que as portas
da luz lhe sejam abertas, porque ninguém pode ver e compreender, se Deus e o seu Cristo
não lhe concedem entender"."
Após um breve resumo de sua catequese, em diversas
línguas, Bento XVI concluiu, recordando o evento que a comunidade internacional celebrará
no próximo sábado, dia 24 _ o Dia Mundial de Combate à Tuberculose _ doença que faz
dois milhões de vítimas por ano, 98% das quais nos países em desenvolvimento.
"Que
tal celebração possa favorecer uma maior responsabilidade no tratamento de tal doença
e uma sempre mais intensa solidariedade em relação àqueles que sofrem dela. Invoco
para eles e suas famílias, o conforto do Senhor, ao mesmo tempo em que encorajo as
múltiplas iniciativas de assistência que a Igreja promove nesse âmbito."
Por
fim, o Santo Padre saudou também os fiéis e peregrinos de língua portuguesa presentes
na Audiência Geral, concedendo a todos a sua bênção apostólica: "Queridos peregrinos
vindos do Brasil e demais países de língua portuguesa, a minha saudação amiga para
todos vós, com votos dum frutuoso empenho na caminhada quaresmal que vos transforme
na luz radiosa da Páscoa. Rezai, para que a todos sejam abertas as portas da luz!
Sobre vós e vossas famílias, desça a minha bênção apostólica." (RL)