PRESIDENTE DO CONSELHO MUNDIAL DAS IGREJAS ADVERTE PARA OS PERIGOS DA SITUAÇÃO NO
IRAQUE
Genebra, 19 mar (RV) - "A arrogância do poder triunfou sobre o bom senso. Hoje
o Iraque se encontra em pleno desespero e há fortes indicações de que o país pode
fragmentar-se, criando um caos ainda maior e enormes sofrimentos."
É o que
afirma numa mensagem por ocasião do quarto aniversário da invasão do Iraque, o Rev.
Samuel Kobia, secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas (CMI). Ele faz uma
profunda reflexão sobre um conflito que já fez centenas de milhares de vítimas (entre
600 mil, estimadas em 2006, pela "John Hopkins Bloomberg School of Public Health",
e um milhão, calculado pelo pesquisador australiano, Gideon Polya), e cerca de quatro
milhões de deslocados internos e refugiados.
"Durante o conflito no Iraque,
a comunidade internacional assistiu a violações persistentes dos princípios que ela
mesma havia defendido firmemente, nos últimos 50 anos, sobretudo, na aplicação da
lei, na proteção dos direitos humanos e no que diz respeito à Justiça.
O fato
de os prisioneiros das forças da coalizão sofrerem tratamentos desumanos não é um
segredo para ninguém. Estima-se que, "pelo menos um quarto deles, é inocente" _ prossegue
o Rev. Samuel Kobia, ressaltando que os temores já expressos pelo CMI, em 2003, sobre
o risco de uma grave crise humanitária seguida de morte e destruição, tornaram-se
realidade.
"A política do "risco calculado" e a arrogância do poder triunfaram
sobre a razão e o bom senso" enquanto "os apelos à moderação, lançados pelas Igrejas,
pela sociedade civil e pela comunidade internacional foram ignorados" _ destaca ainda,
o pastor metodista do Quênia.
Hoje _ acrescenta _ "a estratégia militar de
Washington para estabilizar o Iraque não funciona, não obstante o envio de soldados
suplementares". Assistem-se, todos os dias, a atentados sangrentos, ao aumento das
tensões étnicas e sectárias e da ira da população contra as forças da coalizão que,
somados "à fraqueza do Estado e das forças de segurança" deixam sempre mais espaço
"à violência e ao aumento do extremismo".
Se as principais comunidades "não
se unirem, no interesse da população, e não elaborarem um sistema federal de governo,
que respeite as aspirações de cada um, a Iraque cairá no caos, na confusão e em massacres
que podem se tornar ainda mais graves do que os que se verificam hoje" _ afirma o
Rev. Samuel Kobia. Ele convida as Igrejas "a continuarem não só a assistir e amparar
as vítimas de uma guerra desastrosa, mas também a falar em nome delas, e a duplicarem
as iniciativas em favor da paz junto aos governos e as autoridades intergovernamentais".
Concluindo,
o secretário-geral do CMI diz-se "encorajado pelo multiplicar-se das opiniões contra
a guerra em todo o mundo, principalmente nos EUA".
O CMI reúne mais de 350
Igrejas, denominações e comunidades de uma centena de países e territórios, abrangendo
um total de 550 milhões de cristãos. (PL)