2007-03-14 19:01:48

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE MIRCEA ELIADE, UM DOS MAIORES ESTUDIOSOS DA RELIGIÃO, DO SÉCULO XX


Bucareste, 12 mar (RV) - Mircea Eliade, cujo centenário do nascimento se celebra amanhã, foi um dos maiores estudiosos da religião do século XX e um escritor prolífico de ficção e não-ficção, com mais de 1.300 títulos publicados, ao longo de 60 anos.

Nascido em Bucareste, na Romênia, a 13 de março de 1907, filho de Georghe Eliade, um oficial do exército, que mudou o seu sobrenome de "Ieremia" para Eliade, devido à admiração que tinha pelo escritor Eliade-Radulescu.

Na escola, interessava-se por Biologia e Química e teve até um pequeno laboratório. Lia muito, e aumentou seu tempo de leitura, diminuindo as horas de sono para apenas cinco a seis por noite.

Depois de se licenciar em Filosofia, em Bucareste, em 1928, foi para a Índia, estudar sânscrito e Filosofia com Dasgupta, na Universidade de Calcutá. Eliade era um bom aluno, mas a sua relação com Dasgupta deteriorou-se, quando se apaixonou pela filha deste, Maitreya, período em que escreveu a novela erótica "Isabel si apele diavolului", em 1930.

Regressou a Bucareste em 1932 e apresentou, com êxito, sua análise da Yoga, como tese de doutoramento, no departamento de Filosofia, em 1933.

Mircea Eliade foi para Londres em 1940, como adido cultural da embaixada romena, cargo que ocuparia também em Lisboa, de 1941 a 1944. Na capital portuguesa, onde se interessou pelos clássicos, como Sá de Miranda, Camões e Eça de Queiroz, organizou tertúlias e se empenhou em estabelecer elos mais fortes entre os latinos do Ocidente e do Oriente, promovendo traduções, conferências e concertos.

Em Portugal, escreveu "Os romenos, latinos do Oriente", uma síntese histórica, cultural e espiritual de seu país, e "Salazar e a revolução portuguesa", livro em que defendia que o general Antonescu, no poder em Bucareste, se poderia inspirar no regime português para criar um Estado autoritário, mas não totalitário.

A obra não surtiu, todavia, os efeitos almejados: não só Antonescu não adotou o modelo português, mas Salazar não gostou, segundo informações que obteve, da "heterodoxia" de sua interpretação, o que levou a que o livro não fosse traduzido para a língua de Camões, autor sobre o qual queria, aliás, escrever.

No seu "Diário português", obra conhecida apenas em 2001 e ainda por editar em Portugal, Mircea Eliade mostrou-se por vezes crítico, embora não hostil a Portugal, país que considerava periférico, um pouco à margem da história e da cultura.

Durante o período em que viveu em Portugal, nunca lhe foram abertas as portas das Universidades e nunca recebeu qualquer distinção.

Em 1945, foi para Paris, onde o fato de ter conhecido Georges Dumézil, um importante acadêmico de Mitologia Comparada, lhe garantiu um emprego em horário parcial, na Sorbonne, para ensinar Religião Comparada. Lecionou ainda noutros locais e, a partir de então, quase todos os trabalhos acadêmicos de Eliade foram escritos em francês.

Publicado em 1949, "O mito do eterno retorno arquétipos e repetição", em que efetuava uma interpretação dos símbolos e iconografia religiosos, foi o título que lhe granjeou o reconhecimento internacional

Mircea Eliade morreu em 1986, aos 79 anos, em Chicago, EUA, onde residia desde 1958, data em que foi convidado para dirigir o departamento de Religião, na Universidade daquela cidade, tendo-se naturalizado, posteriormente, norte-americano. (MZ)







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