APRESENTADA A EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL SOBRE A EUCARISTIA, "SACRAMENTUM CARITATIS"
Cidade do Vaticano, 13 mar (RV) - Foi apresentada esta manhã, na Sala de Imprensa
da Santa Sé, a exortação apostólica pós-sinodal de Bento XVI "Sacramentum Caritatis",
sobre a "Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja".
O documento
pontifício, apresentado pelo relator geral da XI Assembléia Geral ordinária do Sínodo
dos Bispos, Cardeal Angelo Scola, patriarca de Veneza, e pelo secretário-geral do
Sínodo dos Bispos, Dom Nikola Eterović _ recolhe as indicações apresentadas no último
Sínodo dos Bispos, de outubro de 2005, dedicado ao mistério eucarístico.
O
documento reafirma, referindo-se à celebração do rito eucarístico, "a validade da
renovação litúrgica" iniciada pelo Concílio Vaticano II, apesar de alguns abusos.
Trata-se _ afirma o papa _ de ler as mudanças conciliares segundo a chamada "hermenêutica
da continuidade", "continuidade com toda a grande tradição eclesial", isto é, "sem
introduzir rupturas artificiosas".
O papa ressalta, com veemência, a "novidade
radical do culto cristão" em relação à antiga ceia sacrifical judaica".
O texto
evidencia que "o próprio Cristo no sacrifício da cruz gerou a Igreja como sua esposa
e seu corpo": portanto, o mistério eucarístico aumenta "a consciência da inseparabilidade
entre Cristo e a Igreja". Baseado nessa verdade, é possível relançar também o diálogo
ecumênico, consciente de que não é possível a participação dos cristãos não-católicos
na Eucaristia, a não ser em "determinadas e excepcionais situações".
Do ponto
de vista pastoral, Bento XVI convida as paróquias a darem particular relevo à Primeira
Comunhão: trata-se de um momento decisivo não somente para a pessoa, mas para toda
a família. De fato, para muitos fiéis esse dia fica "justamente impresso na memória
como o primeiro momento no qual... se percebe a importância do encontro pessoal com
Jesus".
O papa exorta também a redescobrir a adoração eucarística e a prática
da Confissão freqüente, para evitar "certa superficialidade por parte do fiel, no
entendimento do próprio amor de Deus". Também "o uso das indulgências nos ajuda a
compreender que somente com as nossas forças jamais seremos capazes de reparar o mal
praticado".
O papa recorda que a ordenação sacerdotal é "a condição imprescindível
para a celebração válida da Eucaristia" e, ao mesmo tempo, exorta os sacerdotes a
terem "consciência de que todo o seu ministério jamais deve colocar em primeiro lugar
eles mesmos ou suas opiniões, mas Jesus Cristo. Toda tentativa de colocar a si mesmo
como protagonista da ação litúrgica contradiz a identidade sacerdotal" _ ressalta.
No
que concerne à relação entre Eucaristia e indissolubilidade do matrimônio, o papa
ressalta que "o vínculo conjugal está intrinsecamente ligado à unidade eucarística
entre Cristo esposo e a Igreja esposa". Além disso, deve ser dada "atenção especial"
à dolorosa situação dos divorciados recasados: um problema complexo que deve ser afrontado
com amor e na verdade. Matrimônio e família _ lê-se no documento _ são instituições
que devem ser promovidas e defendidas de todo possível equívoco sobre a sua verdade,
porque todo dano a elas provocado é, de fato, uma ferida à convivência humana como
tal."
Bento XVI convida a cuidar de modo particular da beleza da liturgia eucarística,
dando relevo à "simplicidade dos gestos e à sobriedade dos sinais feitos na ordem
e nos tempos previstos comunicam e envolvem mais do que o artifício de acréscimos
inoportunos".
Bento XVI afirma a necessidade de "melhorar a qualidade da homilia"
evitando "homilias genéricas e abstratas", e pede que seja dada "grande atenção à
proclamação da Palavra de Deus por parte de leitores bem preparados".
No que
diz respeito à participação ativa dos leigos na celebração, o documento nota "algumas
incompreensões" das indicações conciliares: de fato, por participação não se entende
"uma simples atividade externa", mas, sobretudo, a "consciência do mistério que é
celebrado e de sua relação com a existência do dia-a-dia". Permanece inalterado o
fato de ser o sacerdote quem preside, "de modo insubstituível", toda a celebração
eucarística, "da saudação inicial até a bênção final".
O documento fala da
oportunidade, para os grandes encontros internacionais, de recorrer ao uso do latim,
exceto as leituras, a homilia e a oração dos fiéis. De fato, o latim expressa melhor
"a unidade e a universalidade da Igreja". O papa pede que os futuros sacerdotes sejam
preparados para compreender e celebrar a missa em latim e que os fiéis sejam educados
a conhecer em latim as orações mais comuns.
Bento XVI convida a viver de modo
profundo o mistério eucarístico, empenhando-se "por um mundo mais justo e fraterno",
denunciando o escândalo da fome, o drama dos refugiados, o crescente fosso social
entre ricos e pobres provocado por "certos processos de globalização".
O Santo
Padre convida também os políticos à "coerência eucarística" defendendo leis que respeitem
os valores fundamentais como a "vida humana, desde a concepção até a morte natural;
a família fundada no matrimônio entre homem e mulher; a liberdade de educação dos
filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas. Tais valores _ ressalta
_ não são negociáveis".
Concluindo, Bento XVI anuncia a próxima publicação
de um Compêndio Eucarístico "para a correta compreensão, celebração e adoração do
sacramento". (RL)