A Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis de Bento XVI. A necessidade
urgente de desenvolver uma vida eucaristica na vida de cada dia
(13/3/2007) Foi publicada nesta terça feira a Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum
Caritatis de Bento XVI que ,como foi salientado durante a conferencia de imprensa
de apresentação, continua a série dos grandes documentos sobre o sublime Sacramento
da Eucaristia como são, por exemplo os documentos do Servo de Deus João Paulo II Ecclesia
de Eucaristia e Mane nobiscum Domine. A Sacramentum Caritatis situa-se em tal continuidade
e ao mesmo tempo repropõe de maneira actualizada algumas verdades essenciais da doutrina
eucarística, exortando a uma celebração digna do rito sagrado, recordando a necessidade
urgente de desenvolver uma vida eucarística na vida de cada dia, anunciando as belezas
inimagináveis do nosso Deus que por amor quis ficar no meio de nós debaixo das espécies
do pão e do vinho, como fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. A publicação
desta Exortação Apostólica no coração da Quaresma permite pôr em prática os votos
que Bento XVI formulou na sua mensagem para a Quaresma 2007:”viver a Quaresma como
um tempo eucarístico no qual, acolhendo o amor de Jesus aprendemos a difundi-lo á
nossa volta com gestos e palavras.” Um processo iniciado na Quaresma, mas destinado
a prolongar-se não só durante o ano litúrgico, mas também durante a vida inteira de
cada um dos fiéis que fazem parte da comunidade eclesial. Esta Exortação pós-sinodal
tem por objectivo recolher a multiforme riqueza de reflexões e propostas surgidas
na recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos com a intenção de explicitar
algumas linhas fundamentais de empenho tendentes a despertar na Igreja novo impulso
e fervor eucarístico. Um contributo precioso em tal sentido, como salientou o Cardeal
Ângelo Scola durante a conferencia de imprensa de apresentação – será dada também
pela publicação do Compêndio eucarístico proposto pelos Padres sinodais. A estrutura
da Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis apoia-se no nexo inseparável de três
aspectos: mistério eucarístico, acção litúrgica e novo culto espiritual Bento XVI
escreve a este propósito:”neste documento desejo sobretudo recomendar que o povo
cristão aprofunde a relação entre o mistério eucarístico, a acção litúrgica e o novo
culto espiritual que deriva da Eucaristia enquanto sacramento da caridade.” Na
primeira parte é ilustrado o mistério da Eucaristia a partir da sua origem trinitária
que assegura o seu carácter permanente de dom:” trata-se de um dom absolutamente gratuito,
devido apenas ás promessas de Deus cumpridas para além de toda e qualquer medida.
A Igreja acolhe, celebra e adora este dom, com fiel obediência.” Neste ensinamento
encontra-se a raiz profunda daquilo que a Exortação ensina acerca da adoração e a
sua relação intrínseca com a celebração eucarística: “ a adoração eucarística é apenas
o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual em si mesma é o maior acto
de adoração da Igreja”. Em seguida são ilustradas pontualmente a importância da
pratica , e as formas da adoração eucarística. A segunda parte da Exortação ilustra
o desenvolvimento da acção litúrgica na celebração indicando os elementos que merecem
um maior aprofundamento e oferecendo algumas sugestões pastorais de grande relevo.
Põe em evidencia também a bondade da reforma litúrgica promovida pelo Concilio Vaticano
II. Algumas dificuldades e abusos “não podem ofuscar a excelência e a validade da
renovação litúrgica que contém riquezas ainda não plenamente exploradas. Nesta segunda
parte a Exortação inicia reconhecendo que “a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística
é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal.
Eis porque é necessário reconhecer com força que “a liturgia eucarística é essencialmente
acção de Deus que nos envolve em Jesus por meio do espírito, o seu fundamento não
está á mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras….A
Igreja celebra o sacrifício eucarístico obedecendo ao mandato de Cristo, a partir
da experiência do Ressuscitado e da efusão do Espírito Santo.” O acontecimento
pascal na acção eucarística coincide assim com o próprio rito entendido como raiz
do culto espiritual que imprime á existência do cristão uma forma eucarística. Na
terceira e última parte a Exortação Apostólica mostra a capacidade do mistério, acreditado
e celebrado , de constituir o horizonte último e definitivo da existência cristã:
“o mistério acreditado e celebrado possui em si mesmo um tal dinamismo, que faz dele
principio de vida nova em nós e forma da existência cristã”. A Exortação Apostólica
não hesita em afirmar que “a Eucaristia impele todo o que acredita n’Ele a fazer-se
pão repartido para os outros, e consequentemente a empenhar-se por um mundo mais
justo e fraterno.” E mais adiante afirma” é através da realização concreta desta responsabilidade
que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração”. Mais fortes ainda
são as expressões de Bento XVI em relação ás situações de injustiça social, de violências
e de guerras, de terrorismo, de corrupção e exploração e á indigência do homem. A
Igreja que vive da Eucaristia, sobretudo através da responsabilidade dos seus fiéis
leigos, não pode senão estar presente na historia e na sociedade a favor de cada
homem, em particular de quem, por causa da injustiça e do egoísmo de tantos, sofre
a indigência, a fome e situações endémicas de doença, porque não tem acesso aos recursos
elementares no campo da alimentação e da saúde. Jesus, alimento de verdade - afirma
a Exortação Apostólica – “leva-nos a denunciar as situações indignas do homem, nas
quais se morre á mingua de alimento por causa da injustiça e da exploração e dá-nos
nova força e coragem para trabalhar sem descanso na edificação da civilização do amor. Antonio
Pinheiro