Praga, 08 mar (RV) - A Catedral de São Vito, símbolo religioso da nação mais
laica da Europa _ a República Tcheca _ passará a pertencer novamente ao Estado.
A
decisão, tomada em janeiro pela Suprema Corte do país, que anulou todas as sentenças
precedentes, não agradou ao cardeal-arcebispo de Praga, Miloslav Vlk, que esperava
resolver a questão de outra forma, antes de deixar o cargo, em abril próximo. A entrega
simbólica das chaves da catedral ao Gabinete presidencial estava prevista para esta
segunda-feira, mas as autoridades episcopais se recusaram a proceder antes de uma
reunião, na sexta-feira, com representantes do Estado.
O debate em torno da
catedral já dura 14 anos e terminará, provavelmente, perante o Tribunal de Direitos
Humanos de Estrasburgo, França. A disputa pela catedral é conseqüência das relações
conturbadas entre a Igreja Católica e o Estado na República Tcheca, mal resolvidas
desde a democratização do país, em 1989.
"Estamos amargurados que o destino
da catedral seja decidido por juízes ex-comunistas" _ comentou o Cardeal Vlk, em fins
de janeiro, comentando a decisão da Corte e aludindo à presença, nos tribunais tchecos,
de pessoas ligadas ao passado regime comunista, que não reconhecem o direito da Igreja
a essa propriedade.
A disputa pela catedral, obra-prima da arquitetura gótica,
visitada anualmente por centenas de milhares de turistas, é apenas a ponta do iceberg,
no debate sobre o financiamento às Igrejas e sobre a restituição de bens tomados pelos
comunistas, nos anos 1950.
Em fevereiro de 1948, quando ocorreu o golpe de
Estado comunista, a Igreja possuía 46 mil hectares de terrenos agrícolas, 177 mil
hectares de bosques e mais 3 mil hectares de lotes construídos. Todos os bens foram
desapropriados, "em nome do povo da Tchecoslováquia". No processo para a devolução
das propriedades, iniciado nos anos 1990, apenas uma pequena parte dos imóveis desapropriados
foi devolvida. Em 2000, a Igreja dizia ter direito a propriedades no valor de 4 bilhões
de euros. O acordo entre o Estado e a Igreja, que não foi ratificado nem pelo presidente
Václav Haus nem pelo Parlamento, está congelado desde 2003.
A República Tcheca
é considerada hoje, o país com o maior número de ateus na Europa: dos 10,2 milhões
de habitantes, 60% dizem não praticar nenhuma religião. Apenas 30% dizem ter alguma
fé, mas esta percentagem está em diminuição. (CM)