IGREJA ORTODOXA RUSSA ACUSA EXCESSOS DOS "NOVOS RICOS" E DIZ QUE TAMBÉM A MISÉRIA
PODE SER PECADO
Moscou, 07 mar (RV) – A riqueza em si não é um pecado, como também a pobreza
não é uma virtude: os excessos de uma e de outra podem levar à condenação. Essa foi
a tese defendida pelo patriarca ortodoxo, Aleksej II, de Moscou e de todas as Rússias,
diante do Concílio pan-russo popular, que reuniu 1.700 representantes de organizações
pararreligiosas de todo o país.
A respeito dessa tese, todavia, há dissidências
no seio da Igreja Ortodoxa, e também no que se refere às relações entre o Patriarcado
e o poder. Da distante região da Ciukotka, extremo nordeste do país, sopram ventos
cismáticos, por parte do bispo Diomedes.
Esse concílio está-se dedicando à
luta contra a pobreza: "São necessárias medidas urgentes _ disse o Metropolita Kirill,
responsável pelas relações externas, do Patriarcado de Moscou – ou nos encontraremos
como em 1917, à beira da catástrofe." O apelo é dirigido aos "oligarcas" _ a classe
dos "novos ricos" russos _ para que "não esperem as rebeliões nas praças, mas comecem
a dividir com o povo, seus bens".
A riqueza não é um pecado, mas "suscita indignação
_ disse o Metropolita Kirill _ o modo irracional com que os ricos russos jogam o dinheiro
pela janela. É uma vergonha diante do mundo, vê-los esbanjar abertamente, somas enormes
em divertimentos duvidosos, enquanto no país, o povo deve sobreviver com salários
miseráveis. E aquela gente tem depois, a arrogância de usar a televisão para justificar-se
diante do povo".
O patriarca Aleksej II, por sua vez, adverte, porém, que a
miséria não é uma virtude automática, ao contrário "pode ser um pecado. Pode tornar
o homem mau, levá-lo ao desespero e jogá-lo no caminho do crime".
O tímido
debate contra o esbanjamento não afasta as polêmicas vindas do leste: numa carta aberta
publicada na Internet, o bispo Diomedes estigmatizou as relações subalternas das hierarquias
eclesiásticas a respeito do Kremlin e o poder laico, também econômico. "Vocês abandonaram
a ortodoxia e os postulados fundamentais da religião" _ lê-se em sua missiva.
O
bispo rebelde quis atingir tanto os reformadores, pelo conteúdo social de seu protesto,
quanto as alas mais conservadoras da Igreja, lançando anátemas contra "o excessivo
ecumenismo". Depois, sublinha que os líderes religiosos "se distanciaram do povo,
desprezaram o confronto com as pessoas, não querendo convocar o concílio geral da
Igreja Ortodoxa russa". E lança, pela Internet, um abaixo-assinado para coletar assinaturas
contra a hierarquia de Moscou. (MZ)