2007-02-19 15:38:44

PAPA: LIBERDADE RELIGIOSA, DEFESA DA FAMÍLIA E PROBLEMAS DAS SEITAS SÃO ALGUMAS DAS PRIORIDADES PASTORAIS DA AMÉRICA LATINA


Cidade do Vaticano, 17 fev (RV) - A Igreja na América Latina encontra-se na vigília de um encontro muito importante, quase um exame de consciência da própria atuação nos últimos anos: a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, que se realizará de 13 a 31 de maio próximo, em Aparecida, São Paulo. A abertura do encontro será presidida pelo papa.

Nesse contexto, Bento XVI recebeu em audiência, no final desta manhã, na Sala do Consistório, no Vaticano, após a santa missa presidida pelo cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, os representantes pontifícios na América Latina e Caribe que, desde quinta-feira até esta manhã, estiveram reunidos na Casa Santa Marta, no Vaticano, para discutir sobre as prioridades pastorais da conferência geral de maio. Prioridades que o próprio pontífice sintetizou em seu pronunciamento desta manhã.

O "Continente da esperança" _ como João Paulo II definiu, anos atrás, a América Latina, volta a refletir sobre si mesmo: sobre a relação entre a Igreja local e a maior população (numericamente) católica do mundo, entre fé e desafios pastorais presentes e futuros, entre os quais a tutela da família, a difusão das seitas, o reconhecimento de uma efetiva e formal liberdade religiosa.

Com o olhar voltado a próxima Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe e para o trabalho preparatório destes meses _ entre os quais se insere o encontro destes dias, dos representantes pontifícios _ Bento XVI sintetizou "a agenda" dos trabalhos.

A América Latina _ disse o papa _ tem uma grande tradição católica, filha de uma "epopéia missionária" definida "extraordinária". Portanto, é nessas raízes que o povo latino-americano deve encontrar as raízes do seu ser e do seu agir atual.

"Alguns ambientes, bem o sabemos, afirmam um contraste entre a riqueza e profundidade das culturas pré-colombianas e a fé cristã, apresentada como uma imposição exterior e uma alienação para o povo da América Latina. Na verdade, o encontro entre essas culturas e a fé em Cristo foi uma resposta interiormente esperada por essas culturas. Portanto, esse encontro não deve ser retirado, mas aprofundado, pois ele criou a verdadeira identidade dos povos da América Latina."

Ligada à precedente, outra questão de notável relevância pastoral foi ressaltada por Bento XVI: trata-se de um aspecto talvez pouco considerado, o da efetiva liberdade religiosa da qual goza a Igreja latino-americana, que se faz presente em nações que "buscam, não raramente entre tantas dificuldades, consolidar a paz interna da própria nação".

"A Igreja faz votos de que, nos países latino-americanos, onde as Cartas Constitucionais se limitam a "conceder" liberdade de credo ou de culto, mas não "reconhecem"ainda, a liberdade religiosa, se possa, o quanto antes, definir as recíprocas relações fundadas nos princípios de autonomia e de sadia e respeitosa colaboração (...) Uma correta formulação jurídica de tais relações não poderá deixar de considerar o papel histórico, espiritual, cultural e social desempenhado pela Igreja católica na América Latina."

Em seu discurso, o Santo Padre posicionou-se nitidamente em defesa da família. Ela _ asseverou _ "mostra sinais de cedimento, sob a pressão de lobbies capazes de incidir negativamente nos processos legislativos".

"Estão em aumento divórcios e uniões livres, enquanto o adultério é visto com injustificável tolerância. É necessário reafirmar que o matrimônio e a família têm o seu fundamento no núcleo mais íntimo da verdade sobre o homem e sobre seu destino; somente na rocha do amor conjugal, fiel e estável, entre um homem e uma mulher, se pode edificar uma comunidade digna do ser humano" _ ressaltou o papa.

Ao enumerar depois, os temas sociais mais "candentes" do subcontinente latino-americano _ entre os quais a luta contra a pobreza, o fenômeno da migração, a educação dos jovens e a formação de leigos capazes de incidir na realidade social e econômica _ Bento XVI se deteve sobre uma problemática muito difusa: as seitas.

"Uma tão consolidada presença deve, porém, hoje, levar em consideração, entre outras coisas, o proselitismo das seitas, e a influência crescente do secularismo hedonista pós-moderno. Devemos refletir seriamente sobre as causas da atratividade das seitas para encontrar as respostas justas."

E uma possibilidade para "responder aos desafios das seitas" _ observou o papa _ é a de "informar de modo adequado, a opinião pública, sobre as grandes questões éticas segundo os princípios do magistério da Igreja", entre outras coisas, com uma "presença eficaz no campo dos instrumentos de comunicação".

A seguir, o pontífice fez uma última consideração sobre o papel das novas realidades eclesiais: "Os movimentos eclesiais constituem, sem dúvida, um válido recurso para o apostolado, mas devem ser certamente ajudados a se manterem fiéis ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja, também quando atuam no campo social e político. Em particular, sinto o dever de reafirmar que não cabe aos eclesiásticos encabeçar agregações sociais ou políticas, mas aos leigos profissionalmente preparados." (RL)







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