(14/2/2007) "É preciso um compromisso, em todos as dimensões, para favorecer e sustentar
centros e unidades de cuidados paliativos que, fora das lógicas da obstinação terapêutica
e contra toda a tentação da eutanásia, garantam uma assistência ao doente e ao direito
a uma morte natural digna", adverte o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde.
Esta advertência é apontada no documento resultante da investigação realizada
sobre cuidados paliativos, cuidados que pretendem melhorar a qualidade de vida do
paciente, mas que não actuam no controle do processo evolutivo da doença. O documento
foi apresentado em Seul, capital da Coreia do Sul, que acolheu o XV Dia Mundial do
Doente, este ano sob o tema "Assistência Pastoral e Espiritual aos Doentes com Patologias
Incuráveis". Os resultados da investigação pretendem "ampliar o horizonte de conhecimento
do trabalho da Igreja no mundo do sofrimento, e em particular dos doentes incuráveis",
sublinha o presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, Cardeal Javier
Lozano Barragán. O documento é resultado de um estudo iniciado em 2004, realizado
em 121 países dos cinco continentes, em centros de saúde católicos especializados
em cuidados paliativos indicados por mais de 100 bispos responsáveis pela pastoral
da saúde em vários países. "Sem a pretensão de representar toda a obra da Igreja
no campo dos cuidados paliativos, este resultado permite conhecer os contextos nos
quais as realidades de saúde católicas devem trabalhar, os problemas com os quais
se enfrentam", sugere o Cardeal Javier Barragán. Trabalho católico em cuidados
paliativos Os centros onde o estudo incidiu manifestam diferentes realidades.
Os de menor dimensão centram-se na assistência domiciliar que prestam a cerca de uma
dezena de pacientes por dia. Os de maior dimensão conseguem prestar cuidados paliativos
hospitalares a duzentos pacientes diariamente, entre visitas ambulatórias e domiciliares.
O estudo aponta, no entanto, a escassez de estruturas de saúde. Os tempos de espera
para ter acesso aos cuidados paliativos não são excessivamente longos, seja para internamento
ou para visitas ambulatórias. As equipas são compostas por médicos, enfermeiros e
auxiliares. "Mas a presença de voluntários e do assistente espiritual católico ou
de outras religiões também é importante", ainda que a maior parte dos centros entrevistados
evidencie que seu número é apenas suficiente para responder às necessidades imediatas.
Um outro alerta é apontado no estudo. "A escassez de fontes de financiamento proveniente
do sector público" e a necessidade de sustentação através de donativos privados "torna
difícil a administração dos recursos humanos e materiais". Estes centros não se
limitam a um trabalho médico-assistencial, mas também um apoio à família e à fé do
paciente. "Tudo isto se traduz não só na redução da dor física, mas também na recuperação
de sua vida afectiva", aponta o Cardeal Javier Lozano. Apesar do esforço muitos
centros dão conta que os seus doentes morrem com sofrimentos físicos, de forma que,
para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, na maioria dos centros entrevistados,
se desenvolvem terapias inovadoras, como a fisioterapia associada à musicoterapia.
Ainda que faltem assistentes espirituais, a administração dos sacramentos nos centros,
é um esforço e uma realidade. Por isso o estudo aponta para "a necessidade de promover
os programas pastorais da Igreja local dedicados especificamente aos cuidados paliativos
e a dar impulso a uma catequese apropriada". Os objectivos principais dos programas
pastorais referem-se ao acompanhamento integral do paciente, "com particular atenção
ao cuidado da dimensão espiritual", salienta. Ainda que "a maior parte dos centros
entrevistados lamente a inexistência de um órgão de coordenação pastoral que se ocupe
de cuidados paliativos, quando está presente sua obra", existe a preocupação de organizar
"encontros periódicos com as realidades no terreno, com os capelães, com os voluntários
e com os pacientes". A atenção ao doente crónico ou terminal é uma responsabilidade
de todos. Para o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, as realidades expostas
"mostram que o caminho empreendido é o adequado, mas fica muito por percorrer". Por
isso insiste na necessidade de um compromisso em todos as dimensões para favorecer
os centros de cuidados paliativos que garantam ao doente uma assistência integral
e o direito a uma morte natural digna, longe da obstinação terapêutica ou da tentação
da eutanásia. "O direito à vida concretiza-se no doente terminal, como o direito
a morrer com serenidade, com dignidade humana e cristã", aponta o Cardeal Lozano Barragán.
Com os cuidados paliativos, a medicina põe-se ao serviço da vida pois, se não
pode curar uma doença grave, "dedica as próprias capacidades a aliviar os sofrimentos
do doente terminal".