BENTO XVI EXORTA JUÍZES DA ROTA ROMANA A DEFENDEREM A VERDADE DO VÍNCULO CONJUGAL
CRISTÃO
Cidade do Vaticano, 27 jan (RV) - O matrimônio, como pensado por Deus, possui
uma sua verdade mais alta e mais forte. E tal verdade deve ser compreendida e defendida,
especialmente numa época como a nossa, na qual o relativismo ético e o positivismo
jurídico, unidos a uma concepção "libertária da experiência sexual", tendem a considerar
o vinculo conjugal como mera superestrutura, sem ter mais o caráter da indissolubilidade.
Esses
foram alguns dos conceitos expressos por Bento XVI, ao receber em audiência, esta
manhã, os membros da Rota romana, para a inauguração do ano judiciário.
O sentido
do matrimônio está em "crise", porque o relativismo ético, hoje difuso também entre
muitos fiéis, leva a desnaturar a "verdade" que é conatural à união conjugal: união
que revela a "potente ligação" estabelecida por Deus" na relação homem-mulher e que,
portanto, não pode estar sujeita apenas ao livre arbítrio das pessoas nem à volubilidade
dos sentimentos humanos, nem tampouco pode ser "manipulada" pela jurisprudência, nos
casos de nulidade matrimonial, pensando de, com isso, agir pelo bem das pessoas.
Com
um discurso amplo e articulado, Bento XVI refletiu sobre o papel ao qual é chamado
o tribunal da Rota Romana. Partindo das causas de nulidade matrimonial que, como recordou
o decano em sua saudação ao papa, "são as mais recorrentes na Rota", Bento XVI estigmatizou
um risco de tipo jurídico, filho da difusa mentalidade secularizada. O risco é que,
numa causa de nulidade matrimonial, a "verdade processual" perca de vista a "verdade
do matrimônio".
"A expressão "verdade do matrimônio" perde, porém, relevância
existencial, num contexto cultural marcado pelo relativismo e pelo positivismo jurídico,
que consideram o matrimônio como uma mera formalização social dos laços afetivos.
Conseqüentemente, ele não somente se torna contingente como podem ser os sentimentos
humanos, mas se apresenta como uma superestrutura legal que a vontade humana poderia
manipular como quiser, privando-a até mesmo da sua índole heterossexual."
Essa
crise de sentido do matrimônio _ prosseguiu o pontífice _ "se faz perceber também
no modo de pensar de muitos fiéis", e os "efeitos práticos" se advertem "de modo particularmente
intenso no âmbito do matrimônio e da família".
Bento XVI terminou seu pronunciamento
reafirmando a importância da contribuição dos tribunais eclesiásticos para a "superação
da crise sobre o sentido do matrimônio". "Permanecendo fiéis à sua tarefa _ concluiu
_ os senhores fazem de modo que a sua ação se insira harmoniosamente numa redescoberta
global da beleza daquela "verdade sobre o matrimônio"_ a verdade do "princípio" _
que Jesus ensinou plenamente e que o Espírito Santo nos recorda continuamente no hoje
da Igreja." (RL)