2007-01-24 18:23:53

1918: DESAPROPRIAÇÃO DA IGREJA ORTODOXA RUSSA


Moscou, 23 jan (RV) - No dia 23 de janeiro de 1918, Lenin publicou um decreto que rompia com todos os laços entre a Igreja Ortodoxa e o Estado russo. Os bens da Igreja foram desapropriados e o ensino de religião foi proibido. Durante cerca de 70 anos, enquanto existiu a União Soviética, a fé ortodoxa não foi professada abertamente. Nenhum ocupante de cargo de destaque podia deixar transparecer sua fé religiosa, sem temer drásticas represálias.

Em 23 de janeiro de 1918, menos de três meses depois da "Revolução de outubro", Lenin publicou o decreto intitulado "Sobre a separação entre a Igreja e o Estado e entre a escola e a Igreja". Ele foi divulgado exatamente quando se realizava o concílio nacional da Igreja Ortodoxa, com o qual ela pretendia libertar-se da tutela estatal da época czarista, restabelecendo o Patriarcado. O concílio não desejava, naturalmente, uma libertação laica, que distanciasse a Igreja da sociedade, transformando-a em instituição privada. Por isso, protestou contra o decreto de Lenin, mas sem nenhum resultado.

Assim, a Igreja Ortodoxa teve de resignar-se, dali em diante, com o fato de ter liberdade de culto somente enquanto não perturbasse a ordem pública e enquanto os fiéis não deixassem de cumprir seus deveres cívicos. Os bolcheviques queriam erigir um sistema estatal ateísta, de acordo com o materialismo dialético. Mas, sobretudo, foram desapropriados os imóveis e terrenos da Igreja, seus templos e prédios: tudo foi incluído no rol do patrimônio popular. Dessa maneira, foi retirada da Igreja a base material da sua existência.

Segundo o decreto de Lenin, todas as comunidades religiosas perderam os direitos de pessoa jurídica, não podendo ter propriedades, nem receber nenhum tipo de ajuda estatal. Embora as demais Igrejas também fossem atingidas pelo decreto, elas consideraram justo o corte dos privilégios concedidos aos ortodoxos, que antes constituíam, praticamente, uma Igreja estatal. No fundo, todavia, todos os direitos da Igreja foram abolidos.

O arcebispo Longin, representante permanente do patriarca ortodoxo de Moscou na Alemanha, descreveu da seguinte maneira as conseqüências dessa privatização da Igreja: "Durante o domínio comunista, as pessoas não podiam demonstrar abertamente que eram integrantes da Igreja. Elas só podiam exercer sua religiosidade em casa, e iam às igrejas apenas em casos muito especiais. Quando ocupavam algum tipo de cargo público, como professor ou em outra função importante na sociedade, não podiam deixar transparecer a própria fé."

Inicialmente, a Igreja pagou também um elevado tributo de sangue: durante a guerra civil, antes que os bolcheviques pudessem constituir a União Soviética, em dezembro de 1922, foram assassinados 25 bispos, quase três mil sacerdotes, cerca de dois mil monges e freiras, assim como aproximadamente 15 mil fiéis.

A fim de evitar tal martírio, o Patriarcado de Moscou declarou-se, muitas vezes, leal ao Estado soviético, e conclamou os fiéis a assumirem a mesma posição. Isso provocou divisões, com algumas Igrejas ortodoxas russas no exterior distanciando-se, criticamente, do Patriarcado de Moscou. Mas, mesmo atitudes de bajulação não livraram a Igreja de uma dura perseguição. Ela só pôde sobreviver graças à fidelidade das camadas mais simples da população russa.

O Patriarca Aleksej II de Moscou explica: "A lealdade à fé ortodoxa é um dos traços mais importantes do caráter nacional do povo russo. Mas a Igreja Ortodoxa jamais teve um caráter chauvinista. A Igreja só pôde respirar aliviada, depois que ruiu a hegemonia soviética; desde então, desenvolve-se também um princípio de relação cooperativa entre a Igreja e o Estado na Rússia." (MZ)







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