ARCEBISPO DE VARSÓVIA RENUNCIA AO CARGO, EM RAZÃO DE SEU PASSADO COLABORACIONISTA
COM O REGIME SOVIÉTICO
Cidade do Vaticano, 07 jan (RV) - O arcebispo polonês de Varsóvia, Dom Stanislaw
Wielgus, renunciou, neste domingo, a seu cargo, em conseqüência de ter sido descoberto
seu passado de colaborador da polícia secreta da Polônia e agente da espionagem comunista.
Dom
Wielgus apresentou sua renúncia, que foi aceita pela Santa Sé, no mesmo dia em que
deveria ser empossado no governo pastoral da Arquidiocese da capital polonesa, em
cerimônia a ser celebrada na catedral local.
Em 21 de dezembro passado, embora
documentos secretos da polícia comunista _ que provavam que Wielgus fora um informante
dos serviços secretos polonês e soviético _ já fossem conhecidos, a Santa Sé confirmou
sua nomeação à frente do governo pastoral da Arquidiocese de Varsóvia, afirmando que
o papa tinha conhecimento do passado do arcebispo.
Os protestos de intelectuais,
políticos e sacerdotes e a atitude crítica da imprensa, todavia, fizeram com que a
Igreja ordenasse à Comissão de História _ encarregada de verificar as biografias dos
clérigos _ uma análise minuciosa dos documentos sobre Dom Wielgus.
A comissão
realizou a verificação e, em seu relatório _ devastador _ confirmou que a colaboração
de Dom Wielgus era inquestionável. Além disso, definiu tal colaboração com palavras
fortes: "totalmente consciente" e "voluntária".
Uma nota da Sala de Imprensa
da Santa Sé, assinada por seu diretor, Pe. Federico Lombardi, afirma que "o comportamento
de Dom Wielgus, nos passados anos de regime comunista na Polônia, comprometeu gravemente
sua credibilidade, até mesmo junto aos fiéis". Por isso, "apesar de seu humilde e
comovente pedido de perdão, sua renúncia ao governo pastoral de Varsóvia e a imediata
aceitação da mesma por parte do Santo Padre parecem ser uma solução adequada, para
fazer frente à situação de desorientação que se veio a criar na nação polonesa".
"É
um momento de grande sofrimento para a Igreja na Polônia: uma Igreja que todos amamos
e à qual muito devemos" _ diz Pe. Lombardi. Uma Igreja que nos deu pastores do porte
do Cardeal Wyszynski e, sobretudo, de João Paulo II, acrescenta Pe. Lombardi, convidando
todos os fiéis à solidariedade para com a Igreja na Polônia, de modo particular por
meio da oração e do encorajamento, a fim de que possa reencontrar sua serenidade.
Pe.
Lombardi ressalta ainda, que o caso de Dom Wielgus não é o primeiro e, provavelmente,
não será o último caso de ataque a personalidades da Igreja, com base na documentação
do passado regime comunista. Um acervo interminável de documentos, "que devem ser
atentamente estudados e avaliados, tendo em mente, sempre, que foram produzidos por
funcionários de um regime opressivo e chantagista".
Depois de tantos anos do
fim do regime comunista e após a morte de João Paulo II, a atual onda de ataques à
Igreja na Polônia _ sublinha Pe. Lombardi em seu comunicado _ não parece uma sincera
busca de verdade e transparência, mas "tem estranhos aspectos de uma aliança entre
os perseguidores de um tempo e outros seus adversários", e "mais parece uma vingança
por parte daqueles que, no passado, perseguiram essa mesma Igreja, tendo sido derrotados
pela fé e pelo desejo de liberdade do povo polonês".
"A verdade os tornará
livres" _ disse Cristo. "A Igreja não teme a verdade e, para ser fiéis ao Senhor,
seus membros devem saber reconhecer as próprias culpas" _ conclui o comunicado da
Sala de Imprensa da Santa Sé, com os votos de que "a Polônia saiba viver e superar
com coragem e lucidez, este período difícil, a fim de que possa continuar a dar sua
preciosa e extraordinária contribuição de fé e de impulso evangélico à Igreja européia
e universal". (AF)