Estado de emergência na Somália; preocupação do Alto Comissário da ONU para os Refugiados.
A população civil privada da ajuda humanitária
28/12/2006) O governo de transição somali decretou o estado de emergência no país
;o objectivo é assegurar "que a paz seja restaurada no país, em particular em Mogadíscio,
e que todos sejam desarmados", adiantou. Há mais de uma semana que violentos combates
opõem forças governamentais apoiadas pela Etiópia a islamitas somalis, que anunciaram
hoje a sua retirada de Mogadíscio, enquanto as tropas governamentais se aproximavam
da cidade. Milhares de mortos, entre civis e militares, marcam as últimas horas
dos confrontos na Somália. As forças da Etiópia, avaliadas em mais de dez mil homens,
enquadram as do Governo provisório. Sucedem-se os apelos internacionais para que seja
estabelecido um cessar-fogo mas, no terreno, assiste-se a um aumento substancial dos
meios bélicos e do número de soldados estrangeiros, bem como ao aumento do número
de deslocados.Addis Abeba assume que a incursão militar na Somália "visa esmagar os
rebeldes islâmicos", acrescentando que usará toda a sua capacidade bélica para o fazer
"o mais rapidamente possível". O Governo interino da Somália conta, para além da Etiópia,
com o apoio dos EUA e da própria União Africana que consideram os Tribunais Islâmicos
uma ramificação da al-Qaeda.Esta semana o Conselho de Segurança da ONU falhou a tentativa
de elaborar uma resolução para acabar com os combates porque o Qatar, membro não-permanente
mas que ocupa, neste momento, a presidência, exigiu que o comunicado impusesse a retirada
das forças etíopes da Somália. Quanto à população, viu-se já privada da ajuda humanitária
da ONU que, por questões de segurança, retirou os seus colaboradores para Nairobi,
no Quénia. Representantes da União Africana, da Liga Árabe e da Autoridade Intergovernamental
para o Desenvolvimento (Igad), integrada por países da África oriental pediram a retirada
das tropas estrangeiras (etíopes e eritreus) da Somália "como forma de pôr fim ao
conflito". Apesar da reunião de onde saiu este pedido ter decorrido em Addis Abeba,
capital da Etiópia e sede da União Africana, os etíopes disseram que abandonarão a
Somália "quando e se o entenderem fazer". O alto comissário das Nações Unidas para
os Refugiados, António Guterres, está preocupado com o conflito na Somália, e alerta
a comunidade internacional para a possibilidade, que considera real, de haver um novo
êxodo de refugiados que fogem da guerra sem contudo terem um lugar seguro para ficarAntónio
Guterres afirma-se "profundamente inquieto e preocupado" pelo agravamento do conflito
e considera que um êxodo no Corno de África reduzirá ainda mais os recursos dos organismos
de ajuda internacional. Estima, aliás, que numa primeira fase poderão ser cerca de
50 mil, mas admite que esse número passe a fasquia dos 100 mil. Ainda ontem o Programa
Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas anunciou a suspensão das suas operações
na Somália e a retirada temporária de todo o seu pessoal para o Quénia. "O PAM
transferiu 25 trabalhadores humanitários de Kismayo (no Sul da Somália) para Nairobi",
acrescentando que "as operações aéreas tornaram-se difíceis devido ao encerramento
do espaço aéreo, pelo que as largadas de alimentos estão actualmente suspensas". As
operações do PAM na Somália visavam apoiar as vítimas de graves inundações que afectaram
o país em Novembro.