A verdadeira paz (assente na justiça); a liberdade religiosa e de consciência; e a
colaboração entre Cristãos e Muçulmanos (a quem exprimiu toda a sua estima) – foram
os temas desenvolvidos por Bento XVI no discurso que dirigiu ao Corpo Diplomático
representado em Ankara, num encontro que teve lugar na Nunciatura Apostólica da capital
turca, ao fim da tarde.
(28/11/2006) Começando por evocar as anteriores visitas apostólicas de Paulo VI e
João Paulo II, Bento XVI fez questão de recordar outros dois seus predecessores –
Bento XV, “infatigável artesão de paz no decurso da primeira guerra mundial”, e o
bem-aventurado João XXIII, o Papa amigo dos Turcos, que foi Delegado Apostólico na
Turquia e Administrador Apostólico do Vicariado Latino de Istambul, a todos deixando
a recordação de um pastor atento e cheio de caridade, especialmente desejoso de encontrar
e de conhecer a população turca de que era um hóspede grato”. Atitude que corresponde
à do Papa actual, nesta sua visita, “como amigo e apóstolo do diálogo e da paz”.
Como
escrevia há mais de 40 anos o Concílio Vaticano II, recordou o Pontífice, “a paz não
mera ausência de guerra e não se limita a assegurar o equilíbrio entre forças adversas”.
“A verdadeira paz tem necessidade da justiça para corrigir os desequilíbrios
económicos e as desordens políticas que são sempre factores de tensões e de ameaças
em toda a sociedade. O recente incremento do terrorismo e a evolução de certos conflitos
regionais têm aliás posto em evidência a necessidade de respeitar as decisões das
Instituições internacionais e também de as apoiar, fornecendo-lhes meios eficazes
para prevenir os conflitos e para manter graças a forças de interposição, zonas de
neutralidade entre os beligerantes”.
“E contudo – advertiu, pensando especialmente
no Médio Oriente – tudo isto permanece ineficaz se não for fruto de uma verdadeiro
diálogo, isto é, de um sincero encontro entre as exigências das partes em conflito,
a fim de chegar a soluções políticas aceitáveis e duradouras, que respeitem as pessoas
e os povos”. “Penso especialmente no conflito do Médio Oriente, que perdura de
maneira inquietante pesando sobre a vida internacional, com o risco de ver generalizar-se
conflitos periféricos e difundir-se em acções terroristas. Saúdo os esforços de numerosos
países, incluindo a Turquia, que se comprometeram agora na restauração da paz no Líbano,
mais necessária do que nunca. Na vossa presença, mais uma vez faço um apelo à
vigilância da comunidade internacional, para que não se exima às suas responsabilidades
e que desenvolva todos os esforços necessários para promover, entre todas as partes
em causa, o diálogo, indispensável para assegurar o respeito do outro, salvaguardando
os legítimos interesses e recusando o recurso à violência”.
Sublinhando
depois a especificidade da situação geopolítica do Estado turco, observou o Papa,
passando a exprimir-se em inglês: “A Turquia sempre tem servido de ponte entre
o Leste e o Oeste, entre a Ásia e a Europa, e como encruzilhada de culturas e religiões.
No século passado, a Turquia adquiriu os meios para se tornar um grande Estado moderno,
especialmente pela escolha de um regime secular, com uma clara distinção entre sociedade
civil e religião, cada um dos quais autónomo no seu próprio campo e respeitando a
esfera do outro. A Constituição turca reconhece a cada cidadão o direito de culto
e o direito de consciência. As autoridades civis dos países democráticos têm o dever
de garantir a efectiva liberdade de todos os crentes, permitindo que estes organizem
livremente a vida das suas comunidades religiosas.”
Bento XVI reafirmou
a sua convicção de que “há grande necessidade de um autêntico diálogo entre as religiões
e entre as culturas, capazes de nos ajudarmos a superar conjuntamente todas as tensões,
em espírito de profícuo entendimento. Este diálogo deve permitir às diferentes religiões
conhecerem-se melhor e respeitarem-se reciprocamente, cada vez mais ao serviço das
mais nobres aspirações do homem, que busca Deus e a felicidade.”
“Desejo
reiterar a minha grande estima pelos Muçulmanos, convidando-os a continuarem a empenhar-se
conjuntamente, graças ao respeito recíproco, a favor da dignidade de cada ser humano
e da promoção de uma sociedade onde a liberdade pessoal e a atenção em relação aos
outros permitam a cada um viver em paz e serenidade. É assim que as religiões poderão
desenvolver a parte que lhes toca para enfrentar os numerosos desafios com os quais
se confrontam actualmente as nossas sociedades”.