Moscou, 25 nov (RV) - O dia da memória ucraniana, quando se presta homenagem
aos milhares de vítimas da penúria provocada por Josef Stalin, na guerra contra os
"kulak" _ a pequena burguesia rural _ foi recordado neste sábado, pela primeira vez,
também em Moscou.
A iniciativa da Igreja Ortodoxa russa contou com uma celebração,
na tarde desta segunda-feira, na Catedral das Aparições. Por sua vez, os programas
de rádio e televisão de Moscou observaram um minuto de silêncio às 17h locais.
Kiev,
capital da Ucrânia, que celebra o "Dia da memória" desde 2004, pediu recentemente
à ONU, que reconhecesse a tragédia dos anos 1932-33 como um "holocausto do povo ucraniano,
por obra do regime comunista do Kremlin". O pedido foi seguido de protestos por parte
da Rússia, sob a argumentação que a tragédia teria atingido toda a União Soviética
e não somente a Ucrânia.
Na verdade, a Ucrânia foi o país mais atingido pela
penúria que provocou na então URSS, segundo dados oficiais, nove milhões de mortos.
O último balanço, atualizado por historiadores, eleva para 13 milhões o números das
vítimas.
A campanha stalinista contra os "kulak" (termo pejorativo usado para
se referir aos camponeses relativamente ricos do tempo do império russo) teve início
em 1929 sob a denominação de "coletivização". Alguns estudiosos dizem que aquele momento
havia sido escolhido para sufocar o crescente descontentamento da população rural
contra a enorme extração de recursos em favor dos centros urbanos e contra uma industrialização
levada avante com demasiada rapidez. Outro objetivo teria sido o de sufocar movimentos
nascentes, de matriz nacionalista, no Cáucaso e na Ucrânia.
Os soldados do
exército soviético saqueavam os estoques de cereais, deixando os paióis vazios. Quem
se opunha, era eliminado. Stalin definia a campanha como "guerra silenciosa dos sabotadores
agricultores contra o poder soviético". Dali, nasceram muitos testemunhos dramáticos,
relatando casos de canibalismo. A carne de cães, gatos e ratos foi amplamente usada
para saciar a fome dos camponeses.
A "coletivização" permaneceu um tabu para
os historiadores soviéticos, mesmo depois da "desestalinização", iniciada em 1956,
por Nikita Krushev, com o XX Congresso do Partido Comunista Soviético. Somente após
a segunda metade dos anos 80, em plena "Perestroika" os historiadores começaram a
reexaminar aquele obscuro período e a acrescentar, ao já assustador balanço das repressões
stalinistas, a hecatombe camponesa dos anos 30. (JK)