BENTO XVI PEDE FIM DAS DESIGUALDADES NOS TRATAMENTOS DE SAÚDE ENTRE NORTE E SUL DO
MUNDO
Cidade do Vaticano, 24 nov (RV) - Assistir os doentes atingidos por infecções
graves, como a AIDS, a malária ou a tuberculose, incita as consciências de governantes
e países a aplicar a "justiça social", num mundo ainda dividido por quem pode ter
acesso a tratamentos idôneos e quem é impedido a tal acesso. Foi o apelo de Bento
XVI, em discurso dirigido esta manhã, na Sala Clementina, no Vaticano, aos participantes
da Conferência internacional sobre "doenças infecciosas", em curso no Vaticano.
O
Papa indicou aos 500 especialistas de dezenas de nações, convidados pelo Pontifício
Conselho da Pastoral para os Agentes de Saúde, a figura de Cristo que cura os leprosos,
como modelo ao qual inspirar-se a fim de que não se busque somente a saúde do enfermo,
mas também se procure defender a sua dignidade.
De um lado, doenças que violam
corpos com sinais até mesmo repugnantes. De outro, dois mil anos de piedade cristã
que, de Jesus até Madre Teresa de Calcutá, passando por Francisco de Assis e inúmeras
outras figuras extraordinárias, sempre ofereceu a vítimas desses males tratamentos
apropriados e conforto espiritual.
Bento XVI quis recordar, através da obra
de alguns santos, o serviço que a Igreja presta no campo da saúde, afrontando também
enfermidades que "evocam dramáticos cenários de dor e de medo".
Antigos e novos
vírus, que se chamam AIDS ou lepra, peste ou tuberculose, estão ali recordando "os
limites inevitáveis da condição humana". Todavia _ afirmou o papa _ "o compromisso
humano jamais deve render-se a buscar meios e modalidades de intervenção mais eficazes
para combater esses males e para reduzir as dificuldades daqueles que sofrem. Fileiras
de homens e mulheres, no passado, colocaram à disposição de doentes com patologias
repugnantes as suas especializações e a força de sua generosidade humana. (…) A tão
louváveis iniciativas e a tão generosos gestos de amor se contrapõem, entretanto,
muitas injustiças. Como esquecer os tantos doentes infecciosos obrigados a viver segregados,
e por vezes marcados por um estigma que os humilha? Tais depreciáveis situações se
mostram com maior gravidade na disparidade das condições sociais e econômicas entre
o Norte e o Sul do mundo".
É importante responder a essas situações com intervenções
concretas _ prosseguiu Bento XVI _ "que favoreçam a proximidade do enfermo, tornem
mais viva a evangelização da cultura e proponham motivos inspiradores de programas
econômicos e políticos dos governos". Uma responsabilidade que, tomando o exemplo
de Jesus, sempre orientou os cristãos a se aproximarem de quem sofre, com um estilo
que vem do Evangelho e que olha primeiro para o homem, e não para a enfermidade que
o acometeu.
"Esta rica tradição da Igreja católica deve ser mantida viva a
fim de que, através do exercício da caridade para com quem sofre, se tornem visíveis
os valores inspirados numa autêntica humanidade e no Evangelho: a dignidade da pessoa,
a misericórdia, a identificação de Cristo com o enfermo. Toda e qualquer intervenção
permanece insuficiente, se nela não se torna perceptível o amor pelo homem, um amor
que se nutre do encontro com Cristo."
Voltando sobre a importância da "colaboração
com as várias instâncias públicas", o papa terminou fazendo votos de que "seja aplicada
a justiça social num delicado setor como o do tratamento e da assistência aos doentes
infecciosos". Em particular, Bento XVI fez referência "à justa distribuição dos recursos
para a pesquisa e a terapia", e à "promoção de condições de vida que detenham o surgimento
e a expansão das doenças infecciosas". (RL)