São Paulo, 22 nov (RV) - Os índios brasileiros vivem uma explosão demográfica
sem precedentes. Em dez anos, seu número saltou de 250 mil para 600 mil indivíduos.
As tribos apresentam um renovado orgulho indígena, o que fez com que milhares de pessoas
em todo o país reivindicassem, pela primeira vez, a sua identidade indígena. Os dados
estão contidos num estudo divulgado pelo Instituto Sócio-ambiental Brasileiro (ISA).
Segundo
o estudo, no Brasil existem atualmente 225 nações indígenas. Destas, 12 tribos correm
risco de extinção, já que sua composição varia entre 5 e 40 indivíduos. Dos 600 mil
indígenas, 480 mil vivem nas reservas espalhadas pelo país, enquanto 120 mil vivem
nas grandes capitais.
Na Amazônia, muitas tribos tiveram sua população duplicada
nos últimos 10 anos. Esta inédita multiplicação vai contra todas as previsões. Durante
a ditadura militar, a Amazônia foi tratada como uma área "privada de homens de uma
certa importância". A abertura de estradas como a Transamazônica tinha por pretensão
facilitar a imigração em massa, vinda especialmente das zonas pobres do semi-árido.
Ser índio, naquela época, era vergonhoso.
Segundo o antropólogo Eduardo Viveros
de Castro, que analisa esta inversão de tendência registrada nos últimos anos, "o
crescimento deve-se, sobretudo ao fato de existirem sempre mais comunidades que reivindicam
as próprias raízes indígenas. Muitas comunidades haviam esquecido suas raízes indígenas".
Hoje
existe um processo de reinventar, redescobrir a identidade indígena. Segundo o Conselho
Indigenista Missionário (CIMI) ao menos 47 tribos indígenas consideram-se renascidas
do nada. Também a constituição promulgada em 1988 foi fundamental para ativar este
processo.
Também as celebrações pelos 500 anos da descoberta do Brasil pelos
portugueses incentivaram o ressurgimento dos movimentos indígenas, que despertaram
para a possibilidade de desenvolverem um papel de reivindicação e resistência.
Segundo
o chefe da tribo guarani, Timóteo Popygua, "a luta atual dos indígenas é o aumento
da área das reservas, para possibilitar as atividades de auto-sustento".
Segundo
a FUNAI, o "boom indígena" está diretamente ligado a uma "emergência étnica" que,
forçosamente levará a um aumento nas reivindicações de terras indígenas, que atualmente
somam cerca de um milhão de quilômetros quadrados, cerca de 13% de todo o território
nacional. (JK)