BENTO XVI PUBLICARÁ BREVEMENTE SEU PRIMEIRO LIVRO COMO PAPA
Cidade do Vaticano, 21 nov (RV) -Bento XVI acabou de escrever a primeira parte
de um livro intitulado "Jesus de Nazaré: do Batismo no Jordão à Transfiguração". Foi
o que divulgou, esta manhã, a Sala de Imprensa da Santa Sé.
O livro, composto
de 10 capítulos, foi entregue, dias atrás, à Livraria Editora Vaticana, que fez acordo
com a Rizzoli, cedendo à Casa Editora os direitos de tradução, difusão e comercialização
no mundo inteiro.
A obra, que será publicada na primavera européia de 2007,
é a primeira de Bento XVI, desde a eleição à Cátedra de Pedro. Foram difundidos hoje
alguns trechos do prefácio e da introdução do volume, que dão uma idéia da profundidade
de reflexão que o Papa oferece sobre a figura de Jesus.
Trata-se de uma narração
apaixonada, fruto "de um longo caminho interior". Bento XVI apresenta a primeira parte
do livro com extraordinária humildade. "Este livro _ escreve no prefácio, que traz
a data de 30 de setembro, festa de São Jerônimo _ não é absolutamente um ato magisterial,
mas unicamente expressão da minha busca pessoal da face do Senhor."
Por isso
_ prossegue _, "qualquer um pode me contradizer livremente" e pede aos leitores "aquela
antecipação de simpatia sem a qual não há nenhuma compreensão".
-O Papa, que
começou a escrever esta obra antes da eleição à Cátedra de Pedro, explica que a partir
dos anos cinqüenta se tornou "cada vez maior" a separação "entre o Jesus histórico"
e o "Cristo da fé". Os progressos da pesquisa histórico-crítica _ afirmou ele _ "levaram
a distinções sempre mais sutis" e por trás delas a figura de Jesus "se tornou cada
vez mais incerta, assumiu contornos sempre menos definidos".
Essas tentativas
_ escreve ainda o Santo Padre _ deram "a impressão de que é muito pouco aquilo que
sabemos com certeza sobre Jesus, e que somente mais tarde a fé em sua divindade plasmou
a sua imagem". Essa impressão, ressalta com pesar o papa, "penetrou profundamente
na consciência comum do cristianismo".
-Trata-se _ é a sua reflexão _ de uma
"situação dramática para a fé porque torna incerto o seu autêntico ponto de referência,
ou seja, a íntima amizade com Jesus, de quem tudo depende".
Eis então que o
papa teólogo renova com veemência a sua "confiança nos Evangelhos". E indica aquilo
a que se propõe com esse volume, ou seja, "fazer a tentativa de apresentar o Jesus
dos Evangelhos como o verdadeiro Jesus, como o Jesus histórico no verdadeiro sentido
da expressão".
O Papa se diz convencido de que "esta figura é muito lógica
e do ponto de vista histórico também mais compreensível do que as reconstruções com
as quais tivemos que nos confrontar nas últimas décadas".
O Jesus dos Evangelhos
_ lê-se ainda no prefácio _ "é uma figura historicamente sensata e convincente". Por
outro lado _ adverte _, "somente tendo acontecido algo extraordinário, e se a figura
e as palavras de Jesus superaram radicalmente todas as esperanças e as expectativas
da época, se explicam a sua crucifixão e a sua eficácia".
Bento XVI faz questão
de precisar que "este livro não foi escrito contra a moderna exegese". De fato, a
moderna exegese "fez-nos conhecer uma grande quantidade de fontes e de concepções
através das quais a figura de Jesus pode tornar-nos presente numa vivacidade e profundidade
que poucas décadas atrás não podíamos nem mesmo imaginar".
Em seguida, o pontífice
explica ter somente procurado "ir além da mera interpretação histórico-crítica aplicando
os novos critérios metodológicos, que nos permitem uma interpretação propriamente
teológica da Bíblia e que naturalmente requerem a fé sem por isso querer e poder renunciar
à seriedade histórica".
Que esta obra seja um grande ato de amor do Papa pelo
Senhor, pode-se compreender muito bem através das palavras que concluem o prefácio.
O Santo Padre revela que, desde a sua eleição, usou "todos os momentos livres" para
levar avante a redação do volume e acrescenta: "Como não sei quanto tempo e quanta
força ainda me serão concedidas, decidi publicar agora" a primeira parte do livro.
Junto ao prefácio foi divulgada parte da introdução do livro, intitulado "Um primeiro
olhar sobre o segredo de Jesus".
O ensinamento de Jesus _ escreve Bento XVI
_ "não provém de um aprendizado humano". Provém, ao invés, "do contato imediato com
o Pai, do diálogo face a face, d a contemplação daquele que está no seio do Pai".
Por isso _ afirma o Papa _, o discípulo de Jesus é envolvido "junto com Ele na comunhão
com Deus. E é isso que verdadeiramente salva: a superação dos limites do homem". (RL)