Assassinato de Missionários em Moçambique, foi tentativa de desestabilização: uma
nota do Superior dos Jesuitas no país desmente teoria do "ajuste de contas"
( 09/11/2006) A Região Moçambicana da Companhia de Jesus (Padres e Irmãos Jesuítas)
sente-se na obrigação de informar todos os nossos amigos e amigas sobre o triste facto
ocorrido numa das nossas missões no centro-norte de Moçambique, Província de Tete,
Distrito de Tsangano, planalto de Angónia, que culminou com o trágico assassinato
do P. Waldyr dos Santos, SJ e de Idalina Gomes, Leiga para o Desenvolvimento. Queremos
em primeiro lugar agradecer de coração e louvar o Senhor pelas sinceras manifestações
de solidariedade que todos estão a ter para connosco, neste momento de dor e perplexidade.
É justo esclarecer que a morte do P. Waldyr e de Idalina não foi de forma nenhuma
um ajuste de contas, como veiculou em certos meios de comunicação, mas sim um acto
brutal de tentativa de intimidar e desestabilizar as Instituições Religiosas na Província
de Tete e concretamente os trabalhos que a Companhia de Jesus, as Irmãs do Divino
Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão a desenvolver em prol do povo de Angónia,
sobretudo no campo da Evangelização, da Educação, da Saúde e dos projectos sociais
que visam o crescimento e o bem estar deste povo tão sofrido. A Companhia de Jesus
tem uma longa história de comunhão com o povo no planalto de Angónia, mesclado com
momentos de muitas alegrias e também de muitas tristezas. Sempre procuramos conservar
fidelidade e respeito pela cultura deste povo. E é justo afirmar que os cristãos sempre
reconheceram e corresponderam em todos os momentos com as nossas intervenções. Um
bom número de jesuítas deram ali suas vidas pela causa do Evangelho. Tomamos a liberdade
de recordar alguns deles: P. Miguel Ferreira da Silva, SJ, que no cumprimento de suas
tarefas, morreu tentando construir a Igreja para a população da Macanga. Os Pp. João
de Deus e Silvio Moreira regaram com seu sangue a terra por amor e fidelidade ao povo
que amavam. O P. Cirilo Moises Mateus, SJ que desgastou a vida pelo seu povo e agora,
no dia 11 de Novembro, completa 5 anos de falecimento. Nos momentos mais difíceis
para o Povo Moçambicano, em que muitos tiveram que se exilar para o Malawi, por causa
da guerra interna, a Companhia de Jesus foi com o seu povo para o exílio, viveu e
deu toda a assistência que lhe foi possível nos campos de refugiados. Vibrou com o
povo pela alegria de retornarem a casa, depois do acordo de Paz, assinado em Roma.
E não poupamos esforços para reabilitar as escolas, os hospitais e até ajudar o governo
a reabilitar o posto fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria com muitas
instituições solidárias com o bem estar do Povo Moçambicano, especialmente com o Governo
da República de Moçambique, com o UNHCR, Intermon, Misereor, Cafod, Cebemo, etc. E
não será por causa de um acto covarde e violento que nos iremos intimidar. Nossas
vidas só têm sentido quando as damos aos demais. Pedimos a todos para que colaboremos
com o Governo da República de Moçambique no sentido de estancar estas ondas de violência
que assolam o País. Só na Província de Tete, os religiosos (Padres Combonianos, Irmãs
Vicentinas, e Jesuítas) foram vítimas de 5 ataques neste ano de 2006. A pergunta que
paira em nossos corações é o por quê da violência somente aos religiosos nesta Província?
Humanamente não há palavras que expliquem o sucedido. O P. Waldyr e a Idalina
vieram só para servir e foram barbaramente assassinados quando sabemos que Moçambique
precisa de obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o sangue deles,
mais uma vez derramado naquela terra de Angónia, ajudará a produzir frutos espirituais
que só Deus-Pai pode fazer aparecer pela sua imensa generosidade e misericórdia. Continuemos
a pedir ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos às vossas orações.
P. Carlos Giovanni Salomão, SJ (Superior Regional dos Jesuítas) Maputo,
09 de Novembro de 2006.