NOVO JULGAMENTO DO ASSASSINO DO MISSIONÁRIO VICENTE CAÑAS
Cuiabá, 08 nov (RV) - Começou nesta segunda-feira, 06 de novembro, o novo julgamento
de José Vicente da Silva, acusado de ser um dos executores do assassinato do missionário
jesuíta Vicente Cañas Costa, em 1987. Este é o segundo julgamento relacionado ao caso.
O
primeiro júri popular ocorreu também em Cuiabá, entre o dia 24 de outubro e a madrugada
do dia 29 do mesmo mês. Os jurados definiram por cinco votos a dois, que houve assassinato,
mas inocentaram o réu Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado da cidade de Juína. O procurador
Mário Lúcio Avelar, do Ministério Público Federal em Cuiabá, responsável pela acusação
neste caso, recorreu da sentença ao Tribunal Regional Federal, em Brasília.
Vicente
Cañas viveu com os indígenas Enawenê Nawê por 10 anos. Participou dos primeiros contatos
do grupo com não-índios, em 1974. Ele os acompanhava em suas atividades tradicionais
de pesca, agricultura e na vida cotidiana. Em uma região onde contaminação por verminoses
era comum, atuou na prevenção destas doenças. Manteve constantes vacinações para prevenir
doenças infecto-contagiosas, como sarampo, que dizimaram tantos outros grupos indígenas
no Brasil. A população dos Enawenê-Nawê era de 97 pessoas quando foram contatados.
Hoje, são 430.
Madeira e terras eram cobiçadas pelos fazendeiros que se instalavam
na região. Cañas lutava pela demarcação das terras tradicionais e pelo respeito à
cultura tradicional dos Enawenê-Nawê. Ele participava oficialmente de um grupo de
trabalho da Funai (Fundação Nacional do Índio) para identificação do território indígena.
Por esta razão, a competência para o julgamento dos acusados foi transferida para
a Justiça Federal.
Cañas fez parte do primeiro grupo de missionários que realizou
uma forte mudança na linha de ação missionária indigenista, ao optar por uma prática
de convivência com um povo distinto com atitudes de escuta, participação nas atividades
do dia-a-dia, solidariedade, respeito e liberdade religiosa, o que é chamado de inculturação.
O
inquérito policial tramitou durante seis anos. Apesar de ser voz corrente na região
o envolvimento dos acusados no crime, a população de Juína e das aldeias indígenas
conviveram e ainda convivem com medo de represálias e atentados às suas vidas, calando-se
em relação aos mandantes e executores deste crime. A revelação do envolvimento dos
acusados só se deu por testemunhos de indígenas da etnia Rikbaktsa (canoeiros), habitantes
das terras vizinhas à dos Enawenê-Nawê. (CE)