2006-11-04 11:34:06

PAPA VISITA UNIVERSIDADE GREGORIANA: NEGAÇÃO DE DEUS CONDUZ À ANGÚSTIA E AO DESESPERO


Roma, 03 nov (RV) - A cultura secular contemporânea tende sempre mais a negar a presença de Deus na vida dos homens, uma separação que cria angústia e desespero: foi a forte evocação de Bento XVI, que esta manhã visitou a Pontifícia Universidade Gregoriana, fundada há mais de 450 anos por Santo Inácio de Loiola e que hoje conta 3 mil estudantes, provenientes de mais de 130 países, 821 dioceses e 84 institutos religiosos.

Em seu discurso, o papa afirmou, entre outras coisas, que o diálogo inter-religioso, para ser construtivo, deve evitar toda ambigüidade.

O pontífice foi acolhido na Gregoriana pelo grão-chanceler da universidade confiada à Companhia de Jesus, cardeal Zenon Grocholewski; pelo prepósito geral dos Jesuítas, padre Peter-Hans Kolvenbach; e pelo reitor da universidade, padre Gianfranco Ghirlanda. O Papa foi também acolhido pelo seu vigário-geral para a diocese de Roma, cardeal Camillo Ruini.

Não basta conhecer Deus "para poder realmente encontrá-lo, é preciso também amá-lo. O conhecimento deve tornar-se amor": foi a exortação dirigida por Bento XVI à comunidade acadêmica da Gregoriana, oferecendo uma reflexão bem aprofundada e articulada sobre a relação entre fé e cultura, no mundo contemporâneo.

Foi um discurso pronunciado em clima festivo, na elegante ala central da universidade. O Santo Padre, que em 1972 deu um curso de especialização em Teologia Dogmática na Gregoriana, evidenciou os desafios que a universidade fundada por Santo Inácio deve hoje afrontar "no cumprimento de sua função doutrinal, disciplinar e pastoral".

"Hoje não se pode deixar de considerar o confronto com a cultura secular, que em muitas partes do mundo tende sempre mais não somente a negar todo e qualquer sinal da presença de Deus na vida da sociedade e do indivíduo, mas com vários meios, desorienta e ofusca a reta consciência do homem, busca desfazer a sua capacidade de colocar-se à escuta a Deus. De resto, não se pode prescindir da relação com as outras religiões, que se revela construtiva contanto que se evite toda ambigüidade que de algum modo enfraquece o conteúdo essencial da fé cristã no Cristo, único Salvador de todos os homens (cf. At 4,12) e na Igreja, sacramento necessário de salvação para toda a humanidade."

A missão da universidade confiada à Companhia de Jesus "é fácil e difícil, ao mesmo tempo". Fácil _ explicou _, "porque a identidade e a missão da Gregoriana são claras desde suas origens", quando ainda tinha o nome de Colégio Romano, "baseadas nas indicações deixadas pelos diversos Pontífices Romanos, dos quais dezesseis foram alunos dessa Universidade". Difícil _ acrescentou _, porque tal missão "supõe constante fidelidade à própria história e à tradição, para não perder as suas raízes históricas, e ao mesmo tempo, abertura à realidade atual para responder, após um atento discernimento, com espírito criativo, às necessidades da Igreja e do mundo de hoje".

Em tal contexto, Bento XVI ressaltou a importância das ciências humanas ensinadas na universidade. "Justamente porque tais ciências dizem respeito ao homem _ advertiu ele _, não podem prescindir da referência a Deus", dado que o homem "não pode ser plenamente compreendido se não estiver aberto à transcendência". "Desprovido de sua referência a Deus, o homem não pode responder às perguntas fundamentais que inquietam e inquietarão sempre o seu coração em relação ao fim e, portanto, ao sentido da sua existência. Conseqüentemente, não é possível nem mesmo inserir na sociedade aqueles valores éticos, únicos capazes de garantir uma convivência digna do homem. O destino do homem sem a sua referência a Deus só pode ser a desolação e a angústia que conduzem ao desespero."

"Somente em referência ao Deus-Amor, que se revelou em Jesus Cristo, o homem pode encontrar o sentido da sua existência e viver com esperança, mesmo experimentando os males que ferem a sua existência pessoal e a sociedade em que vive".

Em seguida, Bento XVI ressaltou a força dessa esperança que transforma o mundo: "A esperança permite que o homem não se feche num niilismo paralisante e estéril, mas se abra ao compromisso generoso na sociedade em que vive para poder melhorá-la. Foi a tarefa que Deus confiou ao homem ao criá-lo à sua imagem e semelhança, tarefa que dá a cada homem a mais alta dignidade, e também uma imensa responsabilidade."

Bento XVI dirigiu depois o seu pensamento ao autêntico objetivo da ciência teológica. O estudo do direito canônico, da teologia, "não é somente conhecimento das proposições da fé na formulação histórica e em sua aplicação prática, mas é também e sempre inteligência na fé, na esperança e na caridade".

"Somente o Espírito escruta as profundezas de Deus (cf. 1 Cor 2, 10); somente na sua escuta, portanto, se pode sondar a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus (cf. Rm 11, 33). O Espírito se escuta na oração, quando o coração se abre à contemplação do mistério de Deus, que nos foi revelado no Filho Jesus Cristo, imagem do Deus invisível (cf. Cl 1, 15), constituído Cabeça da Igreja e Senhor de todas as coisas (cf. Ef 1, 10; Cl 1, 18)."

Em seu discurso, o papa definiu o cuidado pela Gregoriana "um dos maiores serviços que a Companhia de Jesus presta à Igreja espalhada pelo mundo". É um compromisso "que nasce do amor pela Igreja". Além disso, o Papa recordou que justamente este ano a Gregoriana deu início a um programa orientado a "formar os leigos para que vivam a sua vocação especificamente eclesial de compromisso ético na esfera pública". (RL)








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