JOÃO PAULO II: 20 ANOS DA CONVOCAÇÃO PARA DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO
Cidade do Vaticano, 27 out (RV) - Em 27 de outubro de vinte anos atrás, João
Paulo II realizava um dos gestos mais significativos de seu pontificado. De fato,
o papa Wojtyla convocava para Assis os líderes das grandes religiões do mundo para
invocarem juntos o grande dom da paz.
Esta foi uma "providente profecia", conforme
definiu Bento XVI na mensagem enviada em setembro passado por ocasião da celebração
dos vinte anos desse 'Dia de oração pela paz', celebração promovida pela comunidade
romana de Santo Egidio. Um testemunho coletivo de paz, escreveu na ocasião o Pontífice,
que "serviu para evidenciar sem possibilidade de equívocos, que a religião não pode
deixar de ser artífice de paz".
A paz precisa de "um amor apaixonado" que nasça
da "conversão do coração". Em Assis soprava um vento frio quando João Paulo II pronunciou
estas palavras; frio como a guerra que dividia o mundo em dois blocos contrapostos.
A humanidade temia o aniquilamento nuclear. Buscava um profeta de paz e o encontrou
no papa polonês que conheceu o horror da II Guerra Mundial e a violência desumana
de regimes liberticidas. Diante do quadro daquele tempo, João Paulo II convidou os
líderes das grandes religiões.
A resposta ao convite superou todas as expectativas:
reuniram-se em Assis 12 delegações. Além dos cristãos de várias denominações, encontravam-se
judeus, muçulmanos, budistas, sikh, hinduístas e xintoístas. Foi um gesto corajoso,
sem precedentes, que se revelou profético. O Papa estava intimamente convencido de
que a paz não pode ser somente o resultado de negociações e compromissos políticos.
Karol Wojtyla acreditou numa outra dimensão: a dimensão da oração. O encontro de Assis
foi, essencialmente, um dia de oração, marcado pelo silêncio, pela peregrinação e
pelo jejum.
Era o alvorecer do "espírito de Assis". E o papa confiou a causa
da paz especialmente aos jovens, que, _ afirmou ele _, podem "contribuir para libertar
a história das falsas estradas que desviam a humanidade". A paz "vai muito além dos
esforços humanos", e repetiu a convicção de que ela "leva o nome de Jesus Cristo".
"Movidos
pelo exemplo de São Francisco e da Santa Clara, verdadeiros discípulos de Cristo,
e convencidos pela experiência deste dia que vivemos juntos, nós nos comprometemos
a reexaminar as nossas consciências, a escutar mais fielmente a sua voz, a purificar
os nossos espíritos do preconceito, do ódio, da inimizade, do ciúme e da inveja. Buscaremos
ser agentes de paz no pensamento e na ação, com a mente e com o coração voltados para
a unidade da família humana. E convidamos todos os nossos irmãos e irmãs que nos escutam
a fazer o mesmo."
O Papa do perdão não deixou, por outro lado, de reconhecer
que os católicos não foram sempre "construtores de paz". Por isso, o Dia de Assis
foi também uma importante ocasião de penitência. Para caminhar juntos _ reiterou _
devemos "aceitar-nos reciprocamente no amor". Nisso nos ajuda o "imperativo interior
da consciência moral", que "nos manda respeitar, proteger e promover a vida humana"
_ ressaltou ele.
O encontro na terra do Pobrezinho de Assis era para João Paulo
II um ponto de partida, não de chegada. "Aquilo que fizemos em Assis devemos continuar
fazendo a cada dia da nossa vida" _ foi a sua exortação _, vez que "o mundo não pode
renunciar a oração". (RL)