ASSASSINOS DE MISSIONÁRIO JESUÍTA COMEÇAM A SER JULGADOS EM CUIABÁ
Cuiabá, 24 out (RV) - 19 anos depois do crime, abriu-se hoje, em Cuiabá, no
Mato Grosso, o julgamento de 3 dos 6 acusados do homicídio do missionário jesuíta
espanhol Vicente Cañas Costa, assassinado em 1987 na floresta amazônica, onde vivia
com os índios Enawenê-Nawê.
"Vicente foi morto porque lutava pela demarcação
da terra e a salvaguarda do povo Enawenê-Nawê e sua saúde. O resultado do julgamento
pode significar um avanço na luta contra a impunidade" _ diz uma nota do Conselho
Indigenista Missionário (CIMI). No banco dos réus estarão sentados Ronaldo Antonio
Osmar, ex-comissário de polícia de Juinia, primeiro indagado pelo crime, e seus presumíveis
autores materiais, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva.
Serão
julgados pelo Tribunal do Júri, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado,
mediante pagamento e em emboscada, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de
Juína, município do crime, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, um conhecido
pistoleiro da região. O ex-delegado foi também o primeiro delegado da Polícia Civil
responsável pela investigação do caso. As penas para homicídio qualificado podem variar
de doze a trinta anos de reclusão.
Dois mandantes denunciados pelo Ministério
Púbico já morreram (Pedro Chiquetti e Camilo Carlos Obici). A ação contra o terceiro
acusado de mandante, o fazendeiro Antonio Mascarenhas Junqueira, prescreveu pela sua
idade avançada.
O bispo emérito de São Félix de Araguaia, dom Pedro Casaldáliga,
entrevistado pela agência Adital, diz que o missionário assassinado "se fez índio
e evangelizou sem colonizar, através da integração verdadeira, e cristã, para aproximar-se
do homem". Dom Pedro o define como "testemunha e vítima da avidez dos proprietários
e exploradores das riquezas das terras habitadas pelos índios há séculos".
"Ter
levado 19 anos para este processo _ continua dom Pedro _ confirma a triste sensação
de falta de vontade política na causa indígena, de lerdeza, omissão, cumplicidade
ou subserviência do poder judiciário. Há muitos interesses grandes no solo e no subsolo
das terras indígenas e contra os direitos dos povos indígenas".
Vicente Cañas
Costa nasceu em Albacete, Espanha, no dia 22 de outubro de 1939. Entrou na Companhia
de Jesus em 1961 e logo pediu para ser enviado a um país de missão, e assim foi ao
Brasil. Como jesuíta, trabalhou com várias tribos indígenas. A partir de 1974, trabalhou
dez anos com os Enawenê-Nawê.
Foi assassinado, provavelmente, no dia 6 de abril
de 1987, por madeireiros que ambicionavam entrar na terra dos índios para tirar madeira
de lei. Seu corpo foi encontrado no dia 16 de maio por seus companheiros de missão.
(CM)