2006-10-24 17:07:48

ASSASSINOS DE MISSIONÁRIO JESUÍTA COMEÇAM A SER JULGADOS EM CUIABÁ


Cuiabá, 24 out (RV) - 19 anos depois do crime, abriu-se hoje, em Cuiabá, no Mato Grosso, o julgamento de 3 dos 6 acusados do homicídio do missionário jesuíta espanhol Vicente Cañas Costa, assassinado em 1987 na floresta amazônica, onde vivia com os índios Enawenê-Nawê.

"Vicente foi morto porque lutava pela demarcação da terra e a salvaguarda do povo Enawenê-Nawê e sua saúde. O resultado do julgamento pode significar um avanço na luta contra a impunidade" _ diz uma nota do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). No banco dos réus estarão sentados Ronaldo Antonio Osmar, ex-comissário de polícia de Juinia, primeiro indagado pelo crime, e seus presumíveis autores materiais, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva.

Serão julgados pelo Tribunal do Júri, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, município do crime, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, um conhecido pistoleiro da região. O ex-delegado foi também o primeiro delegado da Polícia Civil responsável pela investigação do caso. As penas para homicídio qualificado podem variar de doze a trinta anos de reclusão.

Dois mandantes denunciados pelo Ministério Púbico já morreram (Pedro Chiquetti e Camilo Carlos Obici). A ação contra o terceiro acusado de mandante, o fazendeiro Antonio Mascarenhas Junqueira, prescreveu pela sua idade avançada.

O bispo emérito de São Félix de Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, entrevistado pela agência Adital, diz que o missionário assassinado "se fez índio e evangelizou sem colonizar, através da integração verdadeira, e cristã, para aproximar-se do homem". Dom Pedro o define como "testemunha e vítima da avidez dos proprietários e exploradores das riquezas das terras habitadas pelos índios há séculos".

"Ter levado 19 anos para este processo _ continua dom Pedro _ confirma a triste sensação de falta de vontade política na causa indígena, de lerdeza, omissão, cumplicidade ou subserviência do poder judiciário. Há muitos interesses grandes no solo e no subsolo das terras indígenas e contra os direitos dos povos indígenas".

Vicente Cañas Costa nasceu em Albacete, Espanha, no dia 22 de outubro de 1939. Entrou na Companhia de Jesus em 1961 e logo pediu para ser enviado a um país de missão, e assim foi ao Brasil. Como jesuíta, trabalhou com várias tribos indígenas. A partir de 1974, trabalhou dez anos com os Enawenê-Nawê.

Foi assassinado, provavelmente, no dia 6 de abril de 1987, por madeireiros que ambicionavam entrar na terra dos índios para tirar madeira de lei. Seu corpo foi encontrado no dia 16 de maio por seus companheiros de missão. (CM)








All the contents on this site are copyrighted ©.