2006-10-11 13:06:28

Firmeza na identidade cristã, sem abandonar a via do diálogo encetada pelo Vaticano II: Bento XVI na audiência geral desta quarta, 11 de Outubro


Uma multidão de peregrinos encheu a Praça de São Pedro para escutar o Papa, que se centrou desta vez sobre a figura dos apóstolos Simão Cananeu e Judas Tadeu.

Estas as palavras pronunciadas pelo Papa em língua portuguesa:
"Amados Irmãos e Irmãs,
A catequese sobre o ensinamento dos Apóstolos considera hoje a Simão o Cananeu e a Judas Tadeu, como homens que se dedicaram a servir a Deus com vivo ardor missionário. Que estes discípulos da primeira hora nos ajudem a descobrir novamente, e a viver sem esmorecimentos, a beleza da fé cristã, sabendo dar dela testemunho em nosso ambiente familiar e social.
Saúdo com especial afeto os peregrinos de língua portuguesa, especialmente o grupo de portugueses da Paróquia de Queluz e os numerosos visitantes brasileiros de Curitiba e de Cordeirópolis. Sejam bem-vindos. A vossa passagem por Roma seja abençoada por Deus e por Maria Santíssima, Rainha do Santíssimo Rosário. Com a minha Bênção Apostólica."

Um primeiro aspecto sublinhado pelo Papa, na sua catequese mais desenvolvida, em italiano, teve como ponto de partido o facto deste apóstolo Simão Cananeu ser também chamado “zelota”, no Evangelho de Lucas. Mesmo se não pertencia propriamente ao movimento nacionalista dos zelotes, é provável – observou – que se distinguisse pelo ardente zelo pela identidade judaica, e portanto por Deus, pelo seu povo e pela lei divina. Estaria assim nos antípodas de Mateus, o qual, pelo contrário, como publicano, provinha de um actividade considerada impura. Daqui uma lição para nós hoje na Igreja:

“Jesus chama os seus discípulos e colaboradores dos mais diversos extractos sociais ou religiosos, sem nenhum preclusão. O que lhe interessa são as pessoas, não as etiquetas! E o belo é que, no grupo dos que O seguiam, todos, embora diversos, coexistiam conjuntamente, superando as dificuldades fáceis de imaginar: era de facto o próprio Jesus o motivo da coesão, em que todos se reencontravam unidos. Isto constitui claramente uma lição para nós, muitas vezes inclinados a sublinhar as diferenças e porventura mesmo as contraposições, esquecendo que em Jesus Cristo nos é dada a força para integrar a nossa conflitualidade”.

Outro ensinamento encontrou-o Bento XVI na única referência evangélica, em São João, a São Judas Tadeu (“não o Iscariotes”), que perguntou a Jesus “Senhor, como é que acontece que te deves manifestar a nós e não ao mundo”. Jesus responde: “Se alguém me ama, observará a minha palavra, meu Pai o amará e veremos a ele e nele faremos a nossa morada”.
“A resposta indirecta de Jesus afirma uma verdade muito importante: a plena manifestação de Jesus aos seus discípulos não é exterior, mas interior; está condicionada pelo amor do discípulo por Jesus, um amor não só afectivo mas também efectivo, que produz docilidade à palavra de Jesus, tornando portanto o discípulo agradável ao Pai. Por conseguinte, o Pai e Jesus vêm habitar de modo estável no discípulo”.

Um último aspecto posto em destaque pelo Papa foi sugerida pela linguagem directa e forte usada pela Epístola que “no passado foi atribuída ao apóstolo Judas Tadeu”. “Hoje em dia – observou Bento XVI – já não estamos porventura habituados a usar uma linguagem tão polémica, que aliás não deixar de exprimir com muita clareza não só o que permanece distintivo do cristianismo, como aquilo que lhe é incompatível”.

“Sem dúvida que há que prosseguir com firme constância a via da indulgência e do diálogo que o Concílio Vaticano em boa hora empreendeu. Contudo, isso não deve fazer esquecer o dever de repensar e evidenciar sempre com idêntico vigor as linhas mestras e irrenunciáveis da nossa identidade cristã. Por outro lado, há que ter bem presente que esta nossa identidade não se joga num plano simplesmente cultural, nem num nível superficial, mas exige a força, a clareza e a coragem da provocação próprios da fé”.

“Que Simão Cananeu e Judas Tadeu – concluiu o Papa – nos ajudem a redescobrir sempre de novo e a viver incansavelmente a beleza da fé cristã, dela sabendo dar testemunho ao mesmo tempo forte e sereno”.








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