BENTO XVI CONVIDA OS FIÉIS A CONTEMPLAREM A FACE HUMANA DE DEUS
Regensburg, 12 set (RV) - Neste quarto dia de sua visita à Baviera, Alemanha,
o Papa se esteve em Regensburg, onde lhe foi reservado um acolhimento festivo e emocionante.
Na
missa presidida esta manhã na _ à catequese que está acompanhando a sua viagem apostólica
à Baviera.
Do coração mariano de Altötting _ onde esteve ontem _ a Regensburg,
um dos centros industriais e tecnológicos do sul da Alemanha. Ali, de 1969 e 1971,
o jovem professor Joseph Ratzinger lecionou na Universidade local.
Prosseguindo
em seu itinerário espiritual além de afetivo, o Papa proferiu sua homilia, na santa
missa desta manhã, na grande esplanada "Islinger Feld" (Campo Islinger) com numerosas
evocações à supremacia de Deus, num mundo que tenta viver sem Ele, preferindo a especulação
intelectual ou o fanatismo.
"Hoje, que conhecemos as patologias e as doenças
mortais da religião e da razão, a destruição da imagem de Deus por causa do ódio e
do fanatismo, é importante dizer com clareza, em qual Deus acreditamos e professar
convictos esse rosto humano de Deus."
Assim se expressou o Santo Padre, na
missa celebrada ao ar livre, para uma multidão de cerca de 300 mil pessoas, algumas
das quais passaram a noite ali, ao relento, aguardando a celebração.
"Deus
é Bondade _ disse o Papa _ não nos deixa tatear no escuro. Ama-nos a ponto de deixar-se
pregar numa Cruz, por nós, para carregar os sofrimentos da humanidade até o Seu coração."
Professar
Cristo _ acrescentou _ "nos liberta do medo de Deus _ um sentimento do qual, definitivamente,
nasce o ateísmo moderno". "Crer é compatível com a razão. Desde o Iluminismo _ recordou
_ ao menos uma parte da ciência procura uma explicação do mundo, na qual Deus se torna
supérfluo."
"Mas as contas do homem sem Deus não quadram, e as contas sobre
o mundo, sobre todo o vasto universo, sem Ele não quadram."
Na alternativa
entre a Razão criadora ou a Irracionalidade que, desprovida de toda razão, estranhamente
produz um cosmo ordenado de modo matemático, resultado casual da evolução", nós, cristãos,
acreditamos em "Deus Pai, Criador do Céu e da Terra". "Acreditamos que _ disse o Papa
_ na origem se encontra o Verbo eterno, a Razão, não a Irracionalidade."
"A
fé é esperança, é a certeza de que nós temos um futuro, que não cairemos _ prosseguiu
Bento XVI; é amor, o amor de Deus quer contagiar-nos." Crer não é adesão a uma "série
de sentenças" e de normas, é "o encontro entre Deus e o homem" que se manifesta no
Batismo. Nele Deus torna os homens uma grande família na comunidade universal da Igreja.
"Sim,
quem crê jamais está só. Deus vem ao nosso encontro. Encaminhamo-nos também nós a
Ele e caminhemos uns com os outros! Não deixemos sozinho, naquilo que estiver ao nosso
alcance, nenhum dos filhos de Deus!"
"A fé é acreditar no Juízo", disse ainda
Bento XVI, explicando que a perspectiva do juízo não deve suscitar medo. Crer no julgamento
de Deus é crer na afirmação do Direito, na "união de muitos fragmentos de história
que parecem desprovidos de sentido, de modo a integrá-los numa única realidade na
qual predominam a verdade e o amor".
"Por acaso, não desejamos todos que, um
dia, seja feita justiça a todos os condenados injustamente, àqueles que sofreram ao
longo da vida e que depois de uma vida cheia de dores, foram ceifados pela morte?
Por acaso, não queremos que o excesso de injustiça e de sofrimento que vemos na história,
no final se desfaça; que todos definitivamente possam se tornar alegres, que tudo
obtenha um sentido?"
"A fé _ acrescentou o Pontífice _ não quer fazer medo,
é um chamado à responsabilidade. Não devemos desperdiçar a nossa vida, nem abusar
dela, nem conservá-la para nós mesmos; diante da injustiça, não devemos permanecer
indiferentes, tornando-nos até mesmos cúmplices ou coniventes. Devemos perceber _
prosseguiu _ a nossa missão na história e buscar corresponder a ela."
Na festa
de hoje _ do "Santo Nome de Maria", advogada dos homens junto a Deus _ o Papa dirigiu
uma felicitação a todas as mulheres que têm o nome de Maria, recordando, em particular,
sua mãe e sua irmã.
Após a celebração, o Santo Padre retornou ao Seminário
Maior de São Wolfgang, de Regensburg, onde almoçou com sua comitiva.
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À
tarde, Bento XVI voltou à sua antiga Universidade de Regensburg _ onde foi docente
e vice-reitor _ para encontrar docentes e estudantes, juntamente com uma representação
de homens de ciência, aos quais dirigiu um discurso, intitulado "Fé, razão e Universidade.
Recordações e reflexões".
No mundo ocidental _ denunciou o Pontífice _ predomina
largamente a opinião de que somente a razão positivista e as formas da filosofia dela
derivantes são universais. Mas as culturas profundamente religiosas do mundo vêem
justamente nessa exclusão do divino da universalidade da razão, um ataque às suas
convicções mais "intimas".
Segundo o Papa, uma razão, que diante do divino
é surda e reduz a religião ao âmbito das subculturas, é incapaz de inserir-se no diálogo
das culturas.
As interrogações propriamente humanas, isto é, as do "de onde"
e "para onde", as interrogações da religião e do ethos, não podem encontrar lugar
_ afirmou _ no espaço da razão comum descrita pela ciência.
Com essa atitude
subjetiva, o ethos e a religião perdem sua força de criar uma comunidade e decaem
no âmbito da "negação do criacionismo" pessoal. Para o Papa essa é uma condição perigosa
para a humanidade. A visão proposta pelo Pontífice a seus ex-colegas, de um diálogo
entre fé, culturas e ciência, não inclui absolutamente a opinião de que então se deve
voltar ao passado, ao período precedente ao Iluminismo, rejeitando as convicções da
Idade Moderna.
Após a visita à Universidade de Regensburg, o Santo Padre se
transferiu para a Catedral da cidade onde, às 18h30 locais, presidiu à celebração
ecumênica das Vésperas. (RL)